sexta-feira, janeiro 16, 2004

Tratado de isenção.





Miguel Sousa Tavares é um artista literário. Dá gosto ler as suas prosas isentas, especialmente aquelas dedicadas ao FCP.

Quem nesses artigos conseguiria descortinar que o homem é adepto do FCP?

Mas não é só aí que Tavares se revela um verdadeiro ilusionista, retirando cartas da manga.

No seu artigo, “Sociedade anónima”, a sua veia artística continua a brindar o leitor com a sua tão famosa imparcialidade.

Repare-se nas seguintes afirmações:

1- “Podemos, obviamente, escolher o caminho de silenciar à força os jornais e as televisões. A vantagem imediata é que substituímos as notícias pelos boatos".

Alguém notou até ao momento algum boato transmitido por jornalistas? Não, claro que não. Só informação isenta e precisa sobre o processo.

2- “A vantagem seguinte é que silenciamos de igual modo a incompetência, a irresponsabilidade e a leviandade de métodos de investigação judicial...”

Quem melhor do que ele, habituado e conhecedor dos métodos de investigação, tem legitimidade para apreciar a maneira e os métodos da investigação?

3- “Neste caso concreto, começo por me perguntar o que levou a acusação a escolher um rol de fotografados quase todos da classe política? Por que não antes uns cromos de futebolistas, ou uma série de retratos de magistrados do Ministério Público ou de venerandos conselheiros do Supremo Tribunal de Justiça?”

Se o queixoso afirma que o suspeito é um político, de facto, porque não mostrar fotografias de manequins femininos?

Ou se o suspeito for um futebolista, porque não mostrar fotografias de lavradores?

4- “E, já agora, também me pergunto se, no longo historial de abusos continuados que parece constituir o processo Casa Pia, e à parte o Carlos Silvino (promovido aparentemente a utilíssimo colaborador da acusação e da justiça), todos os outros implicados têm de ser figuras públicas ou com destaque na vida civil?”

É verdade. Quem não conhece a Dona Gertrudes ( que ainda nem consegui ver uma única foto dela ), Francisco Alves, Hugo Marçal, Ferreira Diniz, Jorge Ritto, Manuel Abrantes e os outros que falta divulgar?

5- "Ou será o Ministério Público que, cedendo à tentação de satisfazer o "espírito da rua", acha que a sua acusação só terá credibilidade se atingir exclusivamente os "poderosos"?

Curiosamente o espírito da rua só culpa, à partida, o Carlos Silvino.

6- “Mas isso não pode justificar a leviandade de um processo de identificação que passa pela amostragem aleatória de fotografias por parte da acusação"

Cremos que este comentário só pode ter sido produzido depois de Sousa Tavares ter lido todo o processo e tirado todas as respectivas dúvidas com os intervenientes e não baseado em boatos, visto que, afinal os “media” ainda não foram silenciados.

7- "Acaso haverá algum gene particular que associe actividade política a tendências pedófilas?"

Curiosamente dos 10 arguidos acusados, só um é político. Parece que ele esqueceu-se de mencionar que eram todos do PS.

8- “Se alguém mandar uma carta para o processo Casa Pia a dizer, sem mais, que os deputados ... são pedófilos, essa carta deve ser sumariamente destruída"

Nem deverá haver uma prévia investigação?

A Fátima Felgueiras, Pimenta Machado, Vale e Azevedo e os agentes da BT, por certo, iriam agradecer muito ao Miguel Sousa Tavares por tão interessante ideia.

Adoro estas frase:
“Não foi aí que nasceu o meu asco a esta "sociedade anónima" em que vivemos e que se alimenta de invejas e mediocridade, traduzidas nos boatos, nas cartas anónimas, na intriga e na maledicência cobarde, de que qualquer um pode ser vítima apenas porque outro o inveja ou não gosta dele."

Esta frase dá ainda mais gozo tendo em conta que ele julga as pessoas como culpadas e defende outras como inocentes, sem ter o mínimo conhecimento dos factos envolvidos e, pasme-se, baseado em suposições.

E, retirado de “A Justiça não está acima da crítica

“Acho que este processo tem derrapado de várias maneiras. Tem sido criticado por variadíssimas pessoas, nas quais me incluo, pela forma como a acusação tem sido conduzida. Ora isso não é uma ingerência na justiça. Da mesma maneira que o primeiro-ministro não deve interferir na informação, mas se criticar as formas como as coisas são feitas, está no seu direito. A justiça não está acima da crítica. O que me ocorre perguntar é se o partido, o governo e o primeiro-ministro guardariam este silêncio se estivessem em causa dirigentes do PSD. Tenho a certeza que não. Enquanto a coisa não os atinge eles estão calados."

De gritos, meus amigos, de gritos.

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