Dúvida.
Na sua habitual crônica no Público, Vital Moreira afirma “Com mais ou menos ressentimento ou agressividade, os que apoiaram os Estados Unidos na invasão do Iraque lamentam amargamente a inesperada e pesada derrota do PP de Aznar nas eleições espanholas de domingo, que atribuem ao massacre terrorista de quinta-feira, acusando de forma mais ou menos explícita os eleitores espanhóis de terem cedido à chantagem e de terem "recompensado" o crime terrorista. Seguindo o que se foi escrevendo desde domingo à noite quer nos jornais, quer nos blogues de direita, é fácil dar conta da onda de denúncia e de condenação dos resultados eleitorais, não faltando mesmo as referências a Munich e a Chamberlain!
A censura é duplamente injuriosa. Primeiro, porque quem, como os espanhóis, sofre na carne desde há muitos anos o terrorismo basco e o combate sem desfalecimento, não pode ser aleivosamente acusado de acobardamento perante o terrorismo que vem de fora. Segundo, porque, mesmo que a derrota de Aznar tivesse sido predominantemente motivada pelos atentados, esse voto foi mais do que justificado, tendo em conta a esmagadora oposição contra o seu alinhamento com George Bush na invasão e ocupação do Iraque, que pelos vistos colocou a Espanha na mira da Al-Qaeda.
Parece incontestável que sem os ataques terroristas de Madrid, o PP teria obtido uma nova vitória eleitoral, embora muito provavelmente sem maioria absoluta…
O voto de domingo é por isso não somente um voto de protesto contra a entrada espanhola na guerra do Iraque e contra a subsequente desconsideração da ameaça terrorista islâmica que dela resultou, mas sobretudo contra a arrogância e a desonestidade política que se seguiram aos terríveis massacres de 11 de Março. Mais do que à Al-Qaeda, o PP deve atribuir a responsabilidade pela derrota a si mesmo.”
Dúvida: se o próprio Vital afirma “parece incontestável que sem os ataques terroristas de Madrid, o PP teria obtido uma nova vitória eleitoral, embora muito provavelmente sem maioria absoluta” como pode ele afirmar depois que “o voto de domingo é por isso … um voto de protesto contra a entrada espanhola na guerra do Iraque”?
Para mais a “a questão do Iraque não chegou a ser um tema central da campanha eleitoral antes de quinta-feira, e as sondagens pareciam indicar que os espanhóis estavam dispostos a renovar a maioria no PP, apesar da sua política de alinhamento com Washington e a sua decisão de enviar soldados para Bagdad”
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