Opinião pública.
"A publicação das fotos de torturas feitas por soldados americanos a presos iraquianos é uma exigência moral a que a comunicação social, com destaque para a americana, onde as fotos apareceram pela primeira vez, cumpriu. É este o mérito da democracia: este tipo de práticas são inaceitáveis, indesculpáveis e devem, insisto, devem ser denunciadas.
Porém, deve-se também acrescentar que, para além da comunicação social, todas as instituições americanas reagiram como deviam. Do Presidente aos comandantes militares no terreno, a condenação foi unânime e os mecanismos de justiça vão actuar. Os casos identificados de maus tratos, violências e mesmo mortes, deliberadas ou por negligência, de prisioneiros estão a ser investigadas e darão certamente origem a punições duras.
Só que nada justifica que estes casos de tortura, que se saiba pontuais e circunscritos a um pequeno número de militares, sejam comparados, com toda a leviandade e má-fé, aos actos de tortura do regime de Saddam. Mas foi o que imediatamente se ouviu, na maioria dos casos em comentários dos jornais da noite - na RTP, por exemplo -, com um tom de: "Estão a ver, são todos iguais, Bush e Saddam." Ou variantes: "Eles livraram-se de Saddam e agora estão nas mãos dos americanos, que são iguais."
O antiamericanismo furioso dos nossos dias repete "ad nauseam" estas comparações absolutamente inadmissíveis, a que acrescenta outros absurdos de manipulação. Outro caso dessa manipulação é a notícia de que a "opinião pública árabe", que não se sabe muito bem o que é, tinha ficado "revoltada" com a divulgação destes abusos de soldados americanos. Se tal aconteceu, é muito positivo porque talvez os leve a serem mais exigentes com a sistemática prática de torturas que ocorrem na maioria dos seus próprios países. De facto, da Síria à Arábia Saudita, há uma exemplar actuação em termos de direitos humanos, que deixa os EUA na lama. É preciso ter arrojo para se fazerem estas comparações!"
JOSÉ PACHECO PEREIRA
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