As gravações.
"As famosas gravações - quer as versões originais quer as eventuais cópias que tenham sido feitas por quem as furtou - que agitam os bastidores policiais, políticos, judiciais e mediáticos têm de ser conhecidas do público. Se os rumores dessas gravações já fizeram cair um director da Polícia Judiciária, obrigam o Governo a dizer que está atento ao assunto e levam a Procuradoria-Geral da República a deixar em aberto a possibilidade de seguir todas as pistas que venham a ser levantadas no âmbito da investigação ao furto então o caso deve ser grave e exige o máximo rigor, transparência e, acima de tudo, a verdade. Para perceber quem andou ou anda a enganar quem, quem andou ou anda a manipular quem.
É a segunda vez que um director da PJ cai por conversas com jornalistas - a primeira aconteceu com Fernando Negrão, que foi afastado por causa dos contactos que manteve com jornalistas do Diário de Notícias a propósito do caso Moderna. O actual ministro chegou mesmo a responder perante a Justiça por uma alegada violação do segredo de justiça, tendo sido ilibado. Agora, chegou a hora de Adelino Salvado deixar a PJ por causa de rumores sobre aquilo que terá dito a um jornalista.
Mas também aqui só se sabe meia-verdade. É que na sua declaração Salvado fala em manobras que assumiram a forma de «desprezíveis missivas anónimas, múltiplos blogs, execução de assalto a escritório particular, vandalismo recaindo sobre bens próprios, e sistemáticas manobras visando gerar inquietação em familiares e amigos». Seria interessante que Salvado - que nunca se conseguiu livrar das dúvidas que se instalaram sobre a saída de Maria José Morgado e as mudanças no caso «Apito Dourado» - dissesse claramente quem esteve por trás desses actos. É que o País está farto de insinuações, meias verdades, tiros de pólvora seca e poeira para o ar.
O caso das gravações é também um caso de jornalistas. Ou melhor, de ética jornalística. Sejamos claros: a gravação de declarações sem o prévio consentimento dos entrevistados é uma grave violação da deontologia jornalística. É também uma quebra na confiança que suporta a relação fonte/jornalista, levando à tentação de restringir o trabalho dos jornalistas. Uma atitude já implícita no comunicado da PGR sobre as gravações roubadas quando afirma que se estará perante «um comportamento deontologicamente censurável e juridicamente ilícito» se as gravações tiverem sido realizadas à revelia dos entrevistados. Esta atitude «não pode deixar de ter repercussões no futuro sobre o trabalho de outros profissionais da comunicação social, dificultando-o»."
Hermínio Santos
hsantos@dinheirodigital.pt
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