quarta-feira, setembro 15, 2004

Jardim quer silenciar “verdadeira” oposição.

"Alberto João Jardim ameaça expropriar o Diário de Notícias da Madeira, por não concordar com as notícias publicadas pelo jornal mais lido da ilha .

Polémico é o mínimo que se pode dizer sobre Alberto João Jardim. Sentado na cadeira do poder regional da Madeira há mais de mais de vinte e cinco anos, o país treme de cada vez que Alberto João abre a boca. É que nunca se sabe que direcção tomará o seu disparo, que não raras vezes atinge o interior do seu próprio partido. No rol de farpas do governante laranja, nascido no Funchal em 1943, constam as lançadas ao ex-presidente da JSD, hoje secretário de Estado da Juventude, Pedro Duarte, a quem apelidou de “um incompetente e um irresponsável que já devia estar na rua há muito tempo”. De Lisboa, diz estar “a mando dos lobbies da comunicação social, dos gays e da droga”. Sobre o actual primeiro-ministro, embora mais moderado, sempre vai soltando que Santana Lopes “já não é o homem que conheceu”. A última polémica coloca-o no campo de batalha contra o Diário de Notícias da Madeira, a quem acusa de pôr em causa “a estabilidade política e económica” da ilha. A ameaça de expropriação do jornal já é antiga. Há quem diga que surge de cada vez que a Madeira vai a votos, e que ao eleger um jornal “como o seu principal inimigo”, Alberto João mais não faz do que subestimar a (verdadeira) oposição.

Na última sexta-feira, o diário, o mais vendido na Madeira – tem uma tiragem média de vinte mil exemplares – deu conta do envolvimento de madeirenses em pornografia na Internet, notícia confirmada pela Polícia Judiciária. Alberto João irrita-se e manda o recado à PJ: “É melhor estar calada, trabalhar e apresentar resultados, em vez de andar a exibir-se em jornais”. Quanto ao jornal, decide passar das palavras aos actos e recupera a ameaça de expropriação. Desta vez, com data marcada para logo após as eleições regionais, que acontecem no próximo dia 17 de Outubro. Antes, porém, diz querer dar uma oportunidade ao diário, cujos capitais se repartem pelo grupo privado inglês Blandy e pela PT, estando disposto a tentar “um acordo”, não se sabe de que natureza, com a direcção do jornal. Algo que, ao que A Capital apurou, não vai acontecer. Fontes ligadas ao processo garantem que “a estratégia do jornal será continuar a informar”, até porque o mercado coloca a publicação, que não recebe quaisquer apoios do Estado, no topo das mais lidas na ilha. Alberto João contra-ataca e afirma que a solução da expropriação “está prevista na lei”, uma vez que em jogo estão a sua legítima defesa e a estabilidade política e económica do território que dirige. Seja em pose de comício ou em tanga nas trupes carnavalescas que gosta de integrar, uma coisa não se pode negar. O presidente do governo regional da Madeira não é indiferente a ninguém.

Os seus mais fiéis apoiantes incentivam uma candidatura de Alberto João à Presidência da República, de modo a que o modelo que tem ensaiado na Madeira nos últimos vinte e seis anos possa ser reproduzido à escala nacional. Os seus mais fortes detractores dedicam-lhe páginas na imprensa e blogs na Internet, repletos de adjectivos corrosivos. Vicente Jorge Silva, ex-director do jornal Público e actual deputado do PS, é directo nas considerações que faz sobre o governante laranja: “Num Estado democrático normal, Alberto João Jardim já não estaria no lugar que ocupa. No mínimo, seria aberto um inquérito para saber se está em condições psíquicas de cumprir o seu mandato”. E prossegue: “A Madeira é uma ditadura democrática. Ao longo destes anos, Cavaco Silva foi a única pessoa que fez frente a Alberto João”, diz o antigo jornalista, criticando a postura “de querer estar sempre bem com toda a gente” de Jorge Sampaio. Sobre a legalidade da expropriação, o deputado não tem dúvidas: “Ninguém pode dizer que vai expropriar um jornal por este não publicar o que ele quer. Alberto João sabe que está a perder o pé e que, mesmo arranjando emprego a toda a gente, as pessoas estão saturadas dele”.

Vicente Jorge Silva teme porém que o Diário de Notícias da Madeira, um jornal integrado no vasto universo da Lusomundo Media, acabe por ceder às pressões de Alberto João Jardim. A decisão final do governante, essa, está adiada para depois do acto eleitoral de Outubro, que tudo indica o vá reconduzir no cargo. Até lá, e apesar das divergências, o governo regional continua a publicitar no Diário de Notícias da Madeira. Nas palavras de Alberto João, tal acontece “porque não sou pateta e sei que o ‘Diário’ é o mais lido”. "


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