Retrato do mandão político.
"Porque o “cacique” ganha eleições e é “fonte de financiamento bem conhecida”, a sua acção acaba por ser tolerada pelas direcções partidárias .
Os dicionários da língua portuguesa classificam-no como um “mandão político que dispõe dos eleitores de uma localidade”. É alguém extrovertido, populista, bom comunicador, peça central de uma rede de interesses clientelares, fonte de financiamento partidário, amante da terra e fazedor de obra pública. É nesta mistura entre valores aceites pela sociedade como positivos e acções que estão no limite do crime ou puníveis pela Justiça que navega o chamado “cacique”. Numa definição do fenómeno feita a A Capital, o sociólogo Manuel Villaverde Cabral, investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, sublinha que a corrupção política entendida numa perspectiva de caciquismo é típica do Norte do País, embora não seja exclusiva, e “resulta da estrutura sociocultural que caracteriza aquela região”. Assim, mesmo que o acto do cacique chegue à barra dos tribunais, “muitas pessoas não vêem os delitos como merecedores de intervenção da Justiça, pois entendem-nos como parte do ´amor que os autarcas devotam às suas terras´”.
Mais ainda, para o investigador do Instituto de Ciências Sociais, “uma parte não despicienda dos eleitores reage desta forma, porque integra a chamada rede clientelar que lhe facilita, por exemplo, o acesso aos empregos camarários”. A obra que há para apresentar, a grande capacidade de extroversão do actor político ou a existência de uma cultura popular menos sancionatória explicam o sucesso do cacique. O povo não gosta de estar contra quem elege e tem tendência a desculpabilizar as decisões dos tribunais com a existência de lutas políticas internas. O modo como habitualmente conduz as suas intervenções na vida política local torna-se muitas vezes incómoda para o partido em que está filiado. Porém, porque o cacique ganha eleições e, como diz Villaverde Cabral, é “uma fonte de financiamento bem conhecida”, a sua acção acaba por ser tolerada tanto quanto possível pelas direcções partidárias. "
JOÃO MALTEZ
Os dicionários da língua portuguesa classificam-no como um “mandão político que dispõe dos eleitores de uma localidade”. É alguém extrovertido, populista, bom comunicador, peça central de uma rede de interesses clientelares, fonte de financiamento partidário, amante da terra e fazedor de obra pública. É nesta mistura entre valores aceites pela sociedade como positivos e acções que estão no limite do crime ou puníveis pela Justiça que navega o chamado “cacique”. Numa definição do fenómeno feita a A Capital, o sociólogo Manuel Villaverde Cabral, investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, sublinha que a corrupção política entendida numa perspectiva de caciquismo é típica do Norte do País, embora não seja exclusiva, e “resulta da estrutura sociocultural que caracteriza aquela região”. Assim, mesmo que o acto do cacique chegue à barra dos tribunais, “muitas pessoas não vêem os delitos como merecedores de intervenção da Justiça, pois entendem-nos como parte do ´amor que os autarcas devotam às suas terras´”.
Mais ainda, para o investigador do Instituto de Ciências Sociais, “uma parte não despicienda dos eleitores reage desta forma, porque integra a chamada rede clientelar que lhe facilita, por exemplo, o acesso aos empregos camarários”. A obra que há para apresentar, a grande capacidade de extroversão do actor político ou a existência de uma cultura popular menos sancionatória explicam o sucesso do cacique. O povo não gosta de estar contra quem elege e tem tendência a desculpabilizar as decisões dos tribunais com a existência de lutas políticas internas. O modo como habitualmente conduz as suas intervenções na vida política local torna-se muitas vezes incómoda para o partido em que está filiado. Porém, porque o cacique ganha eleições e, como diz Villaverde Cabral, é “uma fonte de financiamento bem conhecida”, a sua acção acaba por ser tolerada tanto quanto possível pelas direcções partidárias. "
JOÃO MALTEZ
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