Uma guerra, perdão, um debate.
"Há dias, um jornalista norte-americano, Daniel Pipes, deu-se ao trabalho de catar os eufemismos usados pela imprensa ocidental para evitar o uso da palavra "terrorista". Encontrou vinte, de "assaltante" a "separatista", passando pelos sempre deliciosos "militante" e "radical". Por cá, uma rápida pesquisa mostra que, nesta área como noutras, ainda não atingimos a sofisticação de uma França, digamos. Mesmo assim, um único artigo sobre o sequestro de Breslan, publicado num diário identificado com o centro-direita, revelou cinco alternativas ao emprego do palavrão: "guerrilheiros", "raptores", "comandos", "rebeldes" e "suicidas". Não é mau. O Sr. Pipes, com alguma propriedade, entende que a recusa dos vocabulários "terror", "terrorismo" ou "terrorista" possui fundamentos ideológicos, que radicam na simpatia que a maioria dos jornalistas ocidentais nutre pela "luta" palestiniana. Se tomarmos esta particular "luta" como paradigma de todas as "Lutas" do Islão, e se considerarmos que o Islão hoje praticamente esgota todas as acções terroristas (perdão) existentes, não custa acreditar que o terror (desculpem) armado prospere na realidade e se abeire da extinção nos nossos dicionários.
Seria útil reflectir sobre se este jornalismo de "causas" também não representa, em si, um eufemismo, ou, mais provavelmente, uma contradição nos termos. Mas, por agora, talvez haja interesse em notar que o Sr. Pipes descurou o que em inglês se designa por euphemism treadmill, e que consiste na conotação negativa que os próprios eufemismos vão adquirindo com o tempo. Um exemplo em voga é o do "desmancho", que depois se tornou "aborto", em seguida "interrupção voluntária da gravidez" e actualmente se diz "ir ao barco". Não duvido que certos media franceses ou americanos já estejam a um passo de aplicar o processo acima ao terrorismo (foi sem querer). E que, nesses bocados civilizados do mundo, até conceitos como "extremistas" e "combatentes" comecem a ostentar uma aura desagradável, sendo substituídos por delicadezas do tipo "contumazes" ou "técnicos de altercação urbana". Em Portugal, infelizmente, sofremos os efeitos da periferia e andamos constantemente atrasados. Somos nós, que escrevemos na imprensa, que devemos fomentar a mudança e a modernidade. Por mim, dou a contribuição que me compete e sugiro que aos terroristas (não liguem) que se explodem entre inocentes, por ora designados "bombistas suicidas", passemos a chamar "animadores de rua". Ou "animadoras", se o terrorista (é a última vez) for mulher".
Alberto Gonçalves.
Seria útil reflectir sobre se este jornalismo de "causas" também não representa, em si, um eufemismo, ou, mais provavelmente, uma contradição nos termos. Mas, por agora, talvez haja interesse em notar que o Sr. Pipes descurou o que em inglês se designa por euphemism treadmill, e que consiste na conotação negativa que os próprios eufemismos vão adquirindo com o tempo. Um exemplo em voga é o do "desmancho", que depois se tornou "aborto", em seguida "interrupção voluntária da gravidez" e actualmente se diz "ir ao barco". Não duvido que certos media franceses ou americanos já estejam a um passo de aplicar o processo acima ao terrorismo (foi sem querer). E que, nesses bocados civilizados do mundo, até conceitos como "extremistas" e "combatentes" comecem a ostentar uma aura desagradável, sendo substituídos por delicadezas do tipo "contumazes" ou "técnicos de altercação urbana". Em Portugal, infelizmente, sofremos os efeitos da periferia e andamos constantemente atrasados. Somos nós, que escrevemos na imprensa, que devemos fomentar a mudança e a modernidade. Por mim, dou a contribuição que me compete e sugiro que aos terroristas (não liguem) que se explodem entre inocentes, por ora designados "bombistas suicidas", passemos a chamar "animadores de rua". Ou "animadoras", se o terrorista (é a última vez) for mulher".
Alberto Gonçalves.
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