domingo, novembro 07, 2004

Europeus e os Estados Unidos.

"Os europeus, e os portugueses em particular, parecem mais preocupados com as eleições nos Estados Unidos que com a vida política interna. Reclamam a não interferência dos americanos no estrangeiro, mas fizeram tudo para influenciar os resultados desta votação. Proclamaram a ignorância de Bush, esbanjaram elogios a Kerry e agora, depois dos resultados e contra os resultados, reclamam uma mudança da política americana. Ao contrário do que a Europa acha, os americanos não são burros nem são um bando de pacóvios iludidos por um génio maquiavélico. Alias, como tanto se apregoa por cá, de maquiavélico Bush não tem nada – e de génio muito menos. É um homem normal, com ideias claras, uma simpatia natural e uma simplicidade contagiante. . Bem ou mal, é o homem que os eleitores quiseram para Presidente. E não apenas porque não há melhor, mas sobretudo porque concordam com aquilo que defende.

As eleições de terça-feira foram as mais participadas dos últimos 36 anos (votaram mais oito milhões de eleitores do que em 2000). E revelaram uma verdade clara: Bush é tão popular que venceu com uma vantagem de cerca de 3,5 milhões de votos. As pessoas não foram às urnas por não terem alternativa, foram às urnas porque fizeram questão de eleger George W. Bush. O Presidente dos Estados Unidos ganhou as eleições contra todos: contra Kerry, contra o grosso da imprensa norte-americana, contra a elite cultural e intelectual do país, contra parte substancial dos governos mundiais. Bush ganhou com um único apoio: o do povo norte-americano. E isso, convém dizer, basta.

Convencidos que estariam a armadilhar Bush, os líderes de opinião norte-americanos passaram os últimos meses a exigir um vencedor claro e um presidente eleito pela maioria dos votos, sem problemas de legitimidade. Foi o que aconteceu. Em 2000, Bush venceu em tribunal, com resultado inferior ao de Al Gore. E mesmo assim conseguiu unir os americanos nos momentos de crise e assumir atitudes impopulares. Agora, depois de todas as críticas repetidas por quatro anos, voltou a vencer com a maioria do colégio eleitoral, mas sobretudo com uma larga maioria de votos. Um resultado assim só se consegue quando os eleitores não têm dúvidas de que subscrevem as políticas do governo. Principalmente quando têm à frente um homem determinado, que não esconde as suas convicções. Por muito que custe à Europa, isso significa que os americanos apoiam a guerra no Iraque, a política externa agressiva dos Estados Unidos, a redução dos impostos dos mais ricos, o endividamento público quando necessário, as medidas contra o aborto, a pena de morte, o investimento no ensino privado, a proibição dos casamento entre homossexuais, os descontos nos medicamentos para idosos ou a semiprivatização da segurança social.

Tudo isto pode parecer absurdamente inaceitável à Europa, mas temos de aprender a viver com isso. Os europeus não têm o direito de tentar impor uma filosofia politicamente correcta contra um programa aceite pelo povo. Os próximos meses vão ser passados a questionar o poder de Bush, a exigir alterações às suas políticas, a proclamar legitimidade de tudo quanto foi chumbado pelos eleitores. Não vale a pena. Se não fizermos um esforço para perceber o que faz mover os americanos, os próximos quatro quatro anos serão um inferno de mal entendidos. A esperança de ver afastados os neoconservadores do Governo, de acabar com as guerras de prevenção e de aligeirar a política externa é uma ilusão. O segundo mandato de Bush vai ser um período de afirmação das políticas que marcaram os primeiros quatro anos da sua presidência. Foi para isso que ele foi eleito por uma maioria clara, foi isso que ele prometeu durante a campanha eleitoral. É bom que a Europa comece a habituar-se á ideia, porque Bush não vai mudar.
"

Editorial de “Sábado”
5 de Novembro de 2004

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

A vitória de Bush é um espinho na garganta da Europa. Dificimente esta vai conseguir ultrapassar essa situação.

Neto

segunda-feira, novembro 08, 2004  
Anonymous Anónimo said...

Moral da história:
Antes havia um assassino, acompanhado por uma dúzia de ajudantes.
Agora há uns milhões, comandados pelo assassino-mor!
bimbo anti arbusto

segunda-feira, novembro 08, 2004  
Anonymous Anónimo said...

best regards, nice info »

quinta-feira, fevereiro 22, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Where did you find it? Interesting read »

sábado, março 03, 2007  

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