Morreu Arafat

Yasser Arafat faleceu fisicamente, após ter morrido politicamente desde o momento em que ficou refém do cerco de Israel à sua Mukata desde há 3 anos.

Apesar das intoxicações propagandísticas sobre as sua alegada fortuna pessoal, o que nos pode levar a crer que ele seria um filantrópico, já que ao decidir ficar em Ramalah, não pôde gozar essa alegada fortuna (lembremo-nos que os israelitas nunca impediram a sua saída do quartel general da Autoridade Palestiniana, dizendo apenas que não garantiam autorização para o seu regresso, pelo que se Abu Ammar quisesse gozar essa fortuna poderia ter saído para um novo exílio dourado), ficou como um líder odiado por uns e amado por outros, ou pelo menos respeitado.

O seu passado de luta nacionalista, não islamista, descende das correntes nacionalistas árabes com a sua génese nos movimentos de Nasser.

Nunca foi um árabe islamista radical, nem pregou o Corão nos territórios ocupados.

Todos os líderes são assim, desde que fortes: Amados por uns e odiados por outros.

Sobre Arafat não há consenso, e por isso a importância de o manter fisicamente vivo na sua Mukata, nunca tendo os EUA dado o seu aval para a sua eliminação física, mas também impedido de fazer o que lhe exigiam: o de combater o extremismo islamista do Hamas ou da Jihad Islâmica.

Não se pode aprisionar a AP, eliminar as suas infra-estruturas administrativas e policiais, e depois acusar a AP de não combater os fundamentalistas do Hamas.

Agora com a sua morte física, passará a gozar de um estatuto, merecido ou não, de mártir, e até o simbolismo da sua sepultura junto da arruinada Mukata, símbolo da resistência à ocupação o confirmará.

Mas fica agora a pergunta:

Se EUA e Israel consideravam a figura e o comportamento por vezes dúbio de Arafat como constituindo um obstáculo à paz, o que dizer da sua morte?

Agora sem Arafat, abre-se uma oportunidade para que as negociações, sérias e de boa fé, de ambos os lados da contenda se abram.

Dependendo da solução para a sua sucessão, Israel, e o único país que tem efectiva influência sobre os actos do governo de Telavive, os EUA não têm mais razões para recusar o diálogo construtivo e de boa fé.

A anunciada retirada de Israel da faixa de Gaza não pode ser um fim em si mesmo, mas o princípio do reconhecimento de uma ocupação ilegítima de todos os territórios, nomeadamente da Cisjordãnia.

E o futuro estado palestiniano não poderá nunca ter as suas fronteiras externas com a Jordânia e com o Egipto vigiados pelo Tsahal.

Ou de outro modo esse “estado” não passará de um simples bantustão.

Arafat não cedeu, e resistiu até à morte contra a ocupação.

Será que agora, sem Arafat, será Sharon ou seus sucessores em Israel a darem os primeiros passos e a estenderem desta vez o ramo de oliveira?

Esperemos todos que sim.