sexta-feira, dezembro 03, 2004

"Estamos entregues aos bichos".

"O julgamento do Caso Pio recomeça amanhã. A esse propósito vale recordar, e meditar, esta posta do MacGuffin, porque sim...

Ontem, no programa "O Eixo do Mal", e com a cumplicidade de todos os presentes, o tema foi: “A total descredibilização da Justiça em Portugal e a prematura absolvição de Carlos Cruz.”

Nada nem ninguém – judiciária, ministério público, juizes, procurador, prisões, polícia, trolhas – foi poupado. O retrato é claro: a justiça em Portugal é uma merda. En passant, a absolvição de Carlos Cruz esteve ao rubro. Clara Ferreira Alves, por exemplo, agitava o livro de Carlos Cruz e quase que gritava “eis a Verdade”. Daniel Oliveira garantia, como só ele consegue garantir: o processo já nasceu torto e vai acabar morto. Sobre as vitimas, nada se disse. Houve apenas uma referência ao facto de «as crianças raramente dizerem a verdade» ou «mentirem muito» (o que vai dar ao mesmo). As vítimas, aliás, são todos (arguidos, queixosos, etc.), o culpado, esse é só um: a justiça portuguesa. O velho princípio da “presunção da inocência” veio à baila dezenas de vezes, mas ninguém ousou presumir um resquício de competência a magistrados e investigadores, apesar de, e para além dos inevitáveis erros de um mega processo extremamente complexo e com muita gente interessada em achincalhá-lo (o que se poderá também presumir é a infalibilidade dos presentes nas suas profissões). Depois, mostraram-se imagens de populares a gritar «morte aos pedófilos», e a coisa ficou composta. Ninguém se mostrou na disposição de esperar pelo desenrolar e fim do julgamento, porque a disposição é já outra: tudo não passa de uma grande farsa! Por que é que esta cambada de idiotas não leu o livrinho do Cruz e pronto? Para quê tanta investigação? E os jornalistas, igualmente trucidados no programa por via da generalização, por que razão foram mexer na porcaria? Em suma: estamos entregues aos bichos. E assim aconteceu: estiveram todos de acordo, todos se revelaram esclarecidos. O tema era, afinal, trivial e as conclusões «evidentes». Bonito, o programa de ontem. Quero mais.
"

Do amigo Manuel da Grande Loja.

Gosto de ler e ouvir comentários a acusar a justiça de ser inquisitória (entre outros adjectivos). Então quando tal é levado a cabo por figuras com responsabilidade e conhecedoras dos meandros, torna-se um verdadeiro delírio. A verdade é que a ignorância do nosso povo garante o sucesso imediato do "produto" vendido. Há mesmo quem até defenda a impossibilidade de a polícia deter alegados criminosos porque tal acto denigre a imagem do visado. Pretende-se que a justiça respeite a imagem do referido. Mas, claro está de ver-se que, se a justiça tivesse o respeito pretendido por alguns, ninguém seria detido porque isso estragava a sua imagem. E muito menos preso. Mesmo sendo um criminoso.

Acresce que, curiosamente neste país atrasado, ser preso até dá mais "status" social. Exemplos disso não faltam por aí. Assim, não parece haver dúvidas que semelhantes preocupações parecem nascer mais na tentativa de branquear o "modesto" curriculum que assombra o visado e assegurar a sua impunidade.

Razão porque desconfio quando observo o habitual circo histérico a atacar o funcionamento da justiça, utilizando os habituais chavões. Repare-se que até nisso são fracos. Nem capacidade inventiva para criarem novos argumentos conseguem ter.

Curiosamente não se encontra alguém que consiga (e queira) explicar as razões da contínua impunidade de certos criminoso, os quais, mesmo depois de terem praticado dezenas de crimes e representarem um grave problema à ordem pública, continuam impunemente a sua actividade criminosa. Isso, claro, ninguém explica. Nem porque razão, sendo a justiça uma continuação do Santo Ofício, os arguidos são soltos devido a erros processuais mínimos quando é evidente que eles praticaram mesmo esses crimes pelos quais são acusados.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

É isso amigo Carvalho. Infelizmente a ignorância e o medo da justiça facilita a fácil aceitação dessas teorias manhosas que só tem a finalidade que se sabe.

LC

domingo, dezembro 05, 2004  

Enviar um comentário

<< Home

Divulgue o seu blog!