sexta-feira, fevereiro 25, 2005

Verdadeiras razões do terrorismo.

"Um ano passado sobre os atentados terroristas de 11 de Setembro, o dia que teria mudado o mundo, segundo vários especialistas se apressaram a informar os mais ignorantes, é curioso verificar como entre nós muito pouca coisa mudou. Lampedusa, no "Leopardo", já tinha antevisto este filme, e aconselhava prudentemente que «se queremos que tudo fique na mesma, é preciso que alguma coisa mude».

Muita coisa terá mudado positivamente, é certo, em particular em locais exóticos e distantes como o Afeganistão, mas o mérito não é nosso. Mudar o Afeganistão não está ao nosso alcance. Mas o que estaria ao nosso alcance, sem ser sequer necessário recorrer à força bélica, seria mudar a atitude complacente e "compreensiva" de grande parte da nossa inteligência nacional para com o terrorismo. Ou talvez não. Há coisas, como a estupidez, da qual Schiller dizia que contra ela «os próprios deuses se debatem em vão», que nem à bofetada se corrigem, como qualquer professor primário poderá atestar.

Fazendo o balanço do aniversário do 11 de Setembro, a ideia mais recorrente que os nossos pensadores mais conceituados produziram foi a de que o terrorismo não se combate bombardeando as suas sedes e exterminando os seus líderes, noção terrivelmente primária e belicista, mas combatendo as suas "causas": a fome, a miséria, o sub-desenvolvimento, a pobreza e a exploração. Sem pôr em causa a justeza da luta contra a pobreza, a miséria, o sub-desenvolvimento, etc., que parecem excelentes causas, o que ninguém conseguiu demonstrar foi a ligação entre a fome e o terrorismo. Pelo contrário, parte-se do princípio que esse é um facto demonstrado e óbvio, que não justifica um segundo de reflexão.

Mas será assim? Miséria mais fome será igual a terrorismo, da mesma forma automática como a soma dos quadrados dos catetos iguala o quadrado da hipotenusa? Então, porque é que não há movimentos terroristas "internacionais" nos dez países mais pobres do mundo, que são Moçambique, Tanzânia, Etiópia, Somália, Nepal, Serra Leoa, Uganda, Butão, Cambodja, e Guiné-Bissau? A maioria dos terroristas do 11 de Setembro, pelo contrário, são sauditas, um dos países mais ricos do planeta, e muitos deles, como Bin Laden, são aquilo que entre nós se chama de "filhos-família".

O terrorismo europeu, com a ETA no País Basco e o IRA no Ulster, também não se distingue por existir em regiões particularmente miseráveis. O País Basco é uma das regiões mais desenvolvidas e ricas da Europa, e o Ulster, por comparação com qualquer país africano, é o Ritz. A raiz do terrorismo contemporâneo, da Al-Qaeda, do IRA e da ETA, tem muito pouco a ver com a miséria, mas tudo a ver com a pobreza de espírito. As suas verdadeiras, e únicas, raízes não são a fome e o sub-desenvolvimento, mas a intolerância religiosa e o racismo. Não têm sequer, diferentemente dos movimentos terroristas dos anos 60 e 70 que existiam na Europa, ou dos palestinianos actuais, um alibi político para justificar a morte indiscriminada. São, pura e simplesmente, filhos do fanatismo religioso e do ódio racial.
"

José Júdice

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