Opiniões.
"Os notários, por exemplo, não gostaram nada da tímida liberalização ensaiada no mandato de Celeste Cardona. A seu ver, tal como estava, o sistema funcionava perfeitamente bem: havia poucos notários, tão poucos que era preciso suplicar pelo favor de uma escritura, as taxas eram caríssimas, o atendimento baseava-se na "cunha" e no poder financeiro do cliente e as condições de trabalho dos funcionários e de atendimento do público eram, por tradição novecentista, dignas de qualquer repartição do Terceiro Mundo.Miguel Sousa Tavares
Nunca lhes ocorreu perguntar aos clientes se estavam satisfeitos. Eles estavam: negócio garantido por numerus clausus e imposições legais que garantiam a clientela, custos mínimos, receitas exuberantes sem qualquer correspondência com o serviço prestado. Logicamente, não gostaram da anunciada reforma, tentando convencer-nos que todo o comércio jurídico ficava ameaçado pela entrada intempestiva de "pára-quedistas" no negócio até aí reservado. Porque, como se compreende, é muito complicado e exige grandes conhecimentos técnicos, elaborar um documento onde se atesta que o Senhor A, natural de, filho de, residente em, contribuinte número tal, comprou ao Senhor B, natural de, filho de, residente em, contribuinte número tal, a fracção do prédio X, sita na freguesia e concelho de, inscrito na matriz de, sob o número tal, pelo preço de. Pela contrapartida de nos elaborarem duas folhas dactilografadas a dizer isto, com base nos documentos que nós próprios apresentamos, e o favor de nos ler o conteúdo em voz alta, cobravam-nos e cobram-nos centenas ou milhares de contos - parte para o Estado, parte para eles."
As crónicas de Sousa Tavares tem sempre piada. Por acaso, ao contrário dos públicos, os notários privados cobram IVA que passa a pagar mais pelos serviços. Claro que tal situação vem mais ao encontro do cliente, não é amigo Sousa?
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