quarta-feira, maio 25, 2005

Ele há filhos e enteados...

O novo ciclo político nacional iniciado com a substituição de Ferro Rodrigues e a eleição de José Sócrates para Secretário-Geral do PS, continuado com as novas lideranças do PCP, do PSD e do CDS (curiosamente só no BE continuam as caras de sempre – que já cá andam desde 1991, pelo menos…), está quase concluído. Falta escolher um novo Presidente da República. Mas a escolha dos portugueses parece já ter sido feita, e só falta esperar que esse dia chegue. E que até lá, o actual PR possa acabar o seu mandato com dignidade. Coisa que duvido… Começa a não haver paciência para as “sampaiadas”.
A conivência com a incompetência “guterrista” (tudo aceitou, tudo calou, a tudo emprestou uma complacência de camarada colaboracionista), que tentou prolongar (lembram-se que, mesmo depois de Guterres ter avisado que saía por causa do pântano, o actual PR ainda tentou manter o PS e aceitar uma nova liderança?)...
Depois, perante o desastre que os membros do Governo PSD/CDS encontraram e quando todos os políticos responsáveis (e os dirigentes europeus à cabeça) apontavam como incontornável uma contracção da despesa pública para se conseguir uma indispensável redução do deficit público, que fez Jorge Sampaio? Numa primeira fase andou caladinho (possivelmente a tentar perceber se teria ou não “boa imprensa”), mas logo que pode, voilá, proferiu, urbi et orbi, que há mais vida para além do deficit! Afirmação temerária, mas ninguém teve a coragem de lhe recordar que tal seria possível quando se remendasse o buraco que ele e os seus camaradas socialistas haviam deixado!
Euro2004. A actividade económica acelera, a euforia e a confiança dos portugueses está em alta: todos os indicadores económicos apontam para o início da recuperação. Pela primeira vez desde 2002, os níveis de confiança de consumidores e investidores são positivos. Já se vislumbrava a esperança ao fundo do túnel. Entretanto, o então Primeiro-Ministro, é convidado para Bruxelas. Sampaio aceita e incentiva… depois encena uma paródia de exercício dos poderes presidenciais, consulta tudo e toda a gente (alguns em dobro). De Belém são constantes as cirúrgicas fugas de informação (que dão uma ilusão da decisão não tomada e alimentam as actividades de desgaste por parte de sectores da oposição). O discurso de anúncio de nomeação de Pedro Santana Lopes surge e Jorge Sampaio faz um flick-flack à retaguarda” e, pasme-se: informa que a crise existe, que contenção orçamental é a prioridade e que não aceitará que não se mantenha a forte contenção na despesa pública… de repente, Sampaio matou a vida que existia para além do deficit! A esquerda florida, impaciente, faz um ataque formidável ao PR, tudo é dito, tudo é insinuado, há gritos, há choros, há abandonos e amizades que terminam… Sampaio passa a “mal-amado” da esquerda herdeira das loucuras psicadélicas de 68. Mas há impaciências que se pagam caro!
A confiança dos consumidores esfuma-se com esta errática posição presidencial, mas Sampaio não se deixa impressionar e segue o seu caminho. Acolitado pelos media que se desencantaram com Santana, o PR vai deixando uns recadinhos aqui, uns sorrisos e alternados por uns cenhos façanhudos acolá, uns silêncios assessorados por convenientes fugas de informação, o caminho vai sendo aplanado. A histeria chega a ser tal que uma incauta afirmação de um ministro é aproveitada por um adversário interno de Santana no PSD para montar um show-off de 5ª categoria, mas a que todos dão um incompreensível eco: aqui d’el-Rei, que o Governo quer matar a Liberdade de imprensa! Porém nem um órgão de comunicação, umzinho que seja, defende um Governo que é acusado de controlar a imprensa (lembram-se? Ele era o Luís Delgado na Lusomundo, a Central de Informação, etc)! Imaginem se não controlasse nada?!? E que fez Sampaio? Recebeu o comentador mas recusou ouvir o Presidente do órgão de comunicação de que o outro se havia demitido. Fazem-se inquéritos e concluem que houve um almoço (de cunhados!) onde um (o patrão) diz (ao comentador) que ele deveria pensar em moderar as suas críticas… tal como outros sugerem aos seus jornalistas e comentadores que sejam mais agressivos com determinado sujeito afim de aumentarem as tiragens! Porém, em momento algum do inquérito ficou provada a existência de qualquer interferência do governo como razão de ser do tal almocinho de cunhados… Mas deixou-se ficar no ar a confusão… a quem convinha?
Quando “estava no ponto”, Sampaio foi vasculhar ao fundo de numa recôndita gaveta do palácio, reencontrando o seu velhinho cartão rosa e toma a peregrina decisão de, de facto, mostrar o quanto considerava a opinião daquele rol de gente que havia consultado para decidir a nomeação de Santana. Depois de uma (confessada) noite de insónia, mal dormido, recebe o PM e informa-o de que afinal não dará posse aos novos membros do governo pois (incumprindo o preceito constitucional que o obriga a ouvir o Conselho de Estado) decidiu dissolver a AR… mas (outra inovação) sem exonerar o Governo! Guardava-a para mais tarde, presume-se, dar uma nova “sampaiada”!: com um qualquer pretexto, demita o Governo em vésperas das eleições – para assim mais prejudicar a maioria!
Concretizado o plano, eis que ressurge o PS, agora com maioria absoluta. De repente os problemas acabaram! Até as listas de espera terminaram, a economia dá sinais de recuperação (a inflação baixou, a produtividade dos portugueses subiu) tudo graças a uma nova versão do “milagre… dos rosas”! Até a convocação do referendo ao Aborto é paternalmente adiada… aguardando momento mais conveniente para as pretensões dos abortistas. Só espero que não tenha sido assim para dar nova oportunidade a um candidato presidencial da área socialista… não me admiraria que este fosse um tema de campanha lançado por um candidato da esquerda e, com o costumeiro e conveniente eco da imprensa favorável, o candidato não socialista venha a ser constantemente assaltado com a pergunta: se for eleito convoca o referendo? É que se for assim, Jorge Sampaio ficará na história como um manipulador e exemplo de como não deve ser exercido um mandato do 1º magistrado da Nação num sistema semi-presidencial…
Venham as eleições… e quanto mais cedo melhor: será que Sampaio, para variar, não quererá surpreender-nos e abreviar a espera… demitindo-se? Ao menos, no fim, acabava com alguma dignidade!

João Titta Maurício

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