sábado, agosto 13, 2005

O país do Super-Costa

"O País arde e nem se sabe quanto arde. Como é de números que se trata, a Comissão Europeia fala em 100 mil hectares e os organismos dependentes do Governo reduzem a área ardida para menos de 70 mil. Até 31 de Julho, porque em Agosto o fogo voltou a passear pelas florestas portuguesas e arderam mais umas dezenas de milhares de hectares.


Ardeu por cá, este ano, o dobro do que ardeu em Espanha. Sendo que os espanhóis também vivem uma situação de seca extrema num território que é quatro vezes maior que o nosso, fica demonstrada a validade da política do Governo.

Os autarcas e a oposição pedem a declaração de calamidade pública e o Executivo diz que a situação não o justifica, mesmo que ande às cegas na prevenção, na gestão dos meios de combate e na contabilidade da área ardida.

Estamos longe da desgraça que aconteceu em 2003, mas é claro que vamos ultrapassar os números de 2004. O que se passa não se resume, no entanto, a hectares. A vida de muita gente está irremediavelmente afectada pela incapacidade de sucessivos governos terem uma política eficaz de prevenção e combate aos fogos.

A fraqueza do actual Executivo, nesta matéria, é evidente, mas o primeiro-ministro em exercício garante que está tudo sob controlo.

O superministro foi ao Parlamento informar os deputados que mandou o primeiro-ministro e o Presidente da República continuarem em férias. Costa disse a Sócrates e a Sampaio que "o que tinha de ser feito estava a ser feito". Por qualquer razão que a razão desconhece, os chefes do Executivo e do Estado acreditaram.

quantas vezes? António Costa também explicou que José Sócrates lhe tinha telefonado por "mais de duas vezes". Duas vírgula um, vírgula dois? Ficou por saber. Terá caído uma terceira chamada feita a partir do Quénia? O melhor é pedir uma nova comissão Constâncio para determinar com rigor o número de chamadas feitas pelo primeiro-ministro que está de férias.

A realidade tem-se esquecido muitas vezes de confirmar o discurso político. Quando António Costa diz que "o que tem de ser feito está a ser feito", muita gente pasma com as certezas do nosso actual primeiro-ministro. É suposto que tem de ser feito um combate eficaz aos incêndios, mas o País é varrido pelo fogo e os populares desesperam pela ajuda que não chega.

António Costa, mil vezes elogiado como político, fez tudo como manda a cartilha. Assumiu as culpas pela falta de José Sócrates e colocou os governadores civis - homens e mulheres do PS - a dizer o que queria ouvir o cenário é cor- -de-rosa.

Como tudo se passa sem o mais pequeno decoro, é a realidade que volta a estar enganada quando apresenta um cenário negro. Negro pela passagem das chamas, negro pelo atraso da retoma económica, negro pelo pessimismo com que os portugueses partiram para férias e que será um pouco mais carregado quando regressarem ao trabalho.

A sensação não é a de que o País está de férias, mas sim que fechou para balanço. António Costa afirma satisfeito que é ele o primeiro- -ministro, mas o que parece é que ele é chefe de si próprio, porque o resto do Governo não se vê. A grande proeza deste consulado é mesmo a dispensa concedida a Sócrates e Sampaio.

A propósito de carrilho. Chega a ser confrangedora a dependência dos políticos em relação ao que se escreve nos jornais. Acreditam que os jornalistas têm um poder que verdadeiramente não têm. De facto, todos os estudos de opinião mostram que os portugueses acreditam mais nos jornalistas do que nos políticos, mas também está provado que a opinião publicada pouco influencia a opinião pública. Político que fala verdade e não tem medo da sua própria opinião nunca encontra problemas. Tudo é mais difícil para todos os outros.

É a vida! Não falta gente que acredita no que mais lhe convém. É assim tanto nos governos como nos jornais. Quando muda o poder há sempre uma legião de fiéis que repete o beija-mão. É gente que, no entanto, se eterniza na oposição a quem tem de fazer. Não foram feitos para assumir responsabilidades.
"


Paulo Baldaia

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