CAVACO FALOU AOS PORTUGUESES

Finalmente Cavaco falou

Ontem à noite no Jornal Nacional da TVI em entrevista a Constança Cunha e Sá,
essa implacável e malévola jornalista (provavelmente saudosa dos seus gloriosos tempos de jornalista de O INDEPENDENTE) que se dedicou a fazer o professor cair nas contradições entre o seu discurso actual, candidato de uma espécie União Nacional regeneradora do sistema político, e os seus ditos do passado, obrigou o Prof. Cavaco Silva a falar, a dizer uma coisa e a seguir a desdizer-se, a chutar para o lado quando a questão não lhe agradava, e a atrasar a bola recorrendo ao tempo passado entre o que afirmou no passado, e o que afirma agora..

E Cavaco defendeu-se, argumentando com o tempo decorrido…

Aos insultos disparados contra Guterres ou Sampaio, argumentou que já tinham passado 20 anos. Depois tinham passado apenas 10 anos.

O mundo mudou, e provavelmente foi o 11 de Setembro que o fez mudar o discurso.

Sobre o célebre “Monstro” tão caracterizado por ele no célebre artigo, nada disse sobre o autor da sua criação que não pode ser assacada a outro que não a Cavaco Silva e aos seus 2 governos de maioria absoluta.

Falou das enormes despesas do Estado, mas fingiu que não foi primeiro-ministro durante 10 anos, 8 dos quais em maioria absoluta.

Depois, em flic-flac à rectaguarda, puxou dos seus galões de antigo Primeiro-Ministro e afirmou que o crescimento económico durante o seu consulado rondou os 4% ao ano.

Ou seja:

Para um efeito ele foi PM competente e dedicado à causa pública, e para outras situações não o foi nem será.

Sobre o papel de Presidente no actual quadro constitucional, contradizeu-se em cada frase.

Num momento disse que seria árbitro e não reivindicou maiores poderes constitucionais para o PR, e no momento ou frase seguinte, afirmava que o PR deveria ser motor e catalizador das grandes causas.

Ficou por explicar que causas seriam.

Se seria ele a definir essas grandes causas.

Ou se seria o Governo ou a AR.

Dispôs-se a falar com a oposição.

Posição magnânima de quem nunca cumpriria mais que a sua estrita obrigação de PR – presidente de todos os portugueses.

Mas ele provavelmente acha que essa é uma posição magnânima e generosa para com as oposições.

Dispõe-se a trabalhar com o Governo!

Mas não é suposto que o PR trabalhe com o Governo e se mantenha a par dos problemas da governação? Será essa a grande inovação de Cavaco, caso seja eleito?

E sobre Educação, Saúde, Justiça, Defesa, o que disse?

Nada!

Porque não é competência do PR governar.

Mas dispõe-se na frase seguinte a condicionar esses grandes temas, promovendo-os a grandes problemas “para resolver”. E que só ele, homem providencial e com vasto curriculum por detrás saberá resolver a bem da Nação e contra os incompetentes, o que como ele, não são tecnocratas, os que apenas são políticos profissionais, “palavrosos”.

Que não são homens de acção.

Ele não é nada disso. Ele faz. Executa, faz fazer. O insubsituível.

Também não é seguramente um profissional da política.

Provavelmente continua a acreditar na sua missão, atrás da qual agrupa e arrasta os seus discípulos:

O de Homem Providencial, salvador da Nação e da Pátria.

De desejado, alimentando o mais paroquial e intelectualmente pobre sonho sebastiânico de parte da população portuguesa.

Foi pouco para quem porventura esperaria mais.

Julgo que decepcionou mais os seus apoiantes que os que não o apoiam.

O que demonstra que logo que comece a falar, a sua aura de infalível e insubstituível cairá.

Cavaco esboroa-se.