quarta-feira, dezembro 21, 2005

Os eleitores cobaia ou a democracia pavloviana

Discutir hoje candidatos parece ser assunto de pura perda de tempo, porque não vale a pena nem a tinta, discutir sobre eles, porque são já conhecidos de todos.

Todos eles usam a retórica conforme os seus conselheiros mandam e por vezes as suas cabeças, mas de facto, e o mais importante, é que segundo a minha fraca opinião pouco têm para oferecer.

Não querem falar do passado porque decerto os pecadilhos cometidos são muitos, por omissão de dever e por omissão de poder, quando a isso deveriam ter sido obrigados. Porque o poder cega, os que são fracos de consciência.

Porque o poder os tornou vesgos e os fez olhar para o lado.

Porque o poder lhes disse para transformar os princípios em técnica e os valores em oportunismo.

Falo de Cavaco e de Mário Soares.

Se quiserem exemplos, irei decerto e a seu tempo, lembrar o que tem sido branqueado. Quanto a um humano que ficou manso, ou que parece ter ficado manso de repente e falo de Jerónimo, gaba-se de ter sido deputado desde a constituinte, que gerou o documento, chamado de constituição, sob vigilância armada do então MFA. Diziam-se estes, representantes do povo e das forças armadas, depois de terem prendido, primeiro os que os apoiaram mas não cheiravam ao grupo e depois os que discordaram, chamando-lhes de reaccionários, não de presos políticos, ou seja uma questão de semântica simples, usada pelo partido a que pertence.

Dos outros, lembro um, poeta de profissão, que se diz defensor de valores republicanos e laicos, como se tivesse acordado de um longo sono, e ao espreguiçar, sentiu-se despeitado pelos seus correligionários.

O outro, falhou a vocação, como retórico e tribuno moralista, deveria ter ido para padre ou pastor, apascentar rebanho com hábitos liberais.

Portanto por aqui me fico, como toupeira, a minha vidinha é mais simples, mas tenho que fazer por ela.

Os humanos deste sítio, como o cão de Pavlov, salivavam ao acenar com o doce ao mesmo tempo que se tocava uma campainha. Agora já salivam sem doce e sem campainha, salivam apenas, com as mentiras acenadas como doces, pelos vigaristas e vendilhões do templo, que se deveria chamar estado.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

"Já pensaram no que Kennedy teria dito se fosse português e vivesse aqui no fim do ano de 2005? Não é difícil de adivinhar. Seria qualquer coisa como: não perguntes o que o teu país pode fazer por ti, pergunta antes o que o prof. Cavaco pode fazer pelo teu país. E isto é verdade, não apenas para os amigos, mas também para os adversários do prof. Cavaco.

Os actuais adversários de esquerda do prof. Cavaco são os seus principais promotores. Há um ano, exaltaram-no à esquerda. Foi quando um solene dr. Soares anunciou ao país que o prof. Cavaco não era, afinal, um “homem da direita”. Tratava-se então de usar o prof. Cavaco não só contra o dr. Santana, mas sobretudo contra o eng. Guterres, símbolo de uma esquerda de que os actuais candidatos de esquerda nunca gostaram. Entretanto, o dr. Santana desapareceu, e o eng. Guterres não apareceu. É preciso agora dizer mal do prof. Cavaco. Como? Promovendo-o ... à direita. Inventaram então um papão neo-liberal que andava, em segredo, a deixar crescer as patilhas e pedia aos amigos que lhe chamassem general. Curiosamente, entusiasmaram mais gente do que aquela que conseguiram assustar.

O prof. Cavaco é que não se entusiasmou. Com um entendimento correcto dos poderes presidenciais, já declarou que não tenciona, sozinho, remover nada do que bloqueia a criação de riqueza em Portugal. Com ele, até o código laboral será respeitado. É isto motivo para ficar desconsolado, e exibir indiferença? Não é. Porque não compete a um presidente da república mudar o país. O seu dever é fazer respeitar a lei que existe, não é fazer leis novas. Quando muito, pode ajudar a criar o ambiente para que surja uma maioria a favor de outras leis. Esta possibilidade enganou alguns dos amigos do prof. Cavaco. Parecem convencidos de que tendo o prof. Cavaco na presidência, ficarão dispensados de fazer política. Com uns sermões televisivos e umas conversas com o primeiro-ministro, esperam que o presidente crie os consensos para que meia dúzia de técnicos possam reformar o país sem controvérsias.

É a maior das ingenuidades. Vivemos numa democracia de partidos, onde nem toda a gente pensa da mesma maneira. As “reformas” em que alguns confiam para salvar o país são uma opção política. Nunca farão sentido enquanto não forem assumidas como tal, e protagonizadas por um partido capaz de contrabalançar a pressão daqueles que, por ideologia, medo ou interesse, se hão-de opor sempre a quaisquer mudanças. O bloqueio não será fácil de romper. Estamos constrangidos pela falência do Estado, pelo envelhecimento da população, e pela integração numa União Europeia manipulada para proteger arcaísmos e ineficiências. Não basta uma força de desbloqueio na presidência. É preciso uma força de desbloqueio na sociedade civil. Sem esta, podem até eleger Milton Friedman presidente da república. Não fará diferença nenhuma.

É verdade que o prof. Cavaco deseja interpretar a sua eleição como o sinal de uma vontade de mudança. Mas a eleição presidencial é uma escolha entre pessoas mais do que entre projectos. O prof. Cavaco corre o risco de ser eleito simplesmente porque é o único candidato credível. Do ponto de vista do reformismo, o que falta neste momento é um movimento político capaz de constituir uma maioria a favor das reformas. Isso sim, seria um sinal de mudança. Mas não cabe a um presidente da república, no actual regime, liderar um movimento desse tipo. A questão, portanto, não é o que prof. Cavaco vai fazer na presidência. A questão é o que nós vamos fazer quando o prof. Cavaco for presidente. "

quarta-feira, dezembro 21, 2005  
Anonymous Anónimo said...

A questão é que vamos continuar a assistir sem nada poder fazer.
Arrisco a dizer que a partidocracia existente só por teimosia se chamará de democracia.
Continuo a insistir que o Sr Cavaco Silva será uma opção entre um conjunto de péssimas.
Colar as opiniões a esquerdas e direitas hoje será arcaico, porque esses critérios não são justificáveis.
Há diferenças entre o PSD/PS/CDS? Só se for no seus subterrâneos.
Infelizmente teremos que assistir ao degradar do sítio ou então emigrar.

quinta-feira, dezembro 22, 2005  

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