domingo, janeiro 01, 2012

Qual foi a data do nascimento de Jesus?


Durante gerações, o dia 25 de Dezembro tem passado por ser o dia de aniversário de Jesus. A imaginação do povo, desejosa de satisfazer a curiosidade que os textos bíblicos não satisfazem, chega mesmo a afirmar que Jesus nasceu à meia-noite do dia 24 para o dia 25 de Dezembro, numa noite fria, com muita neve a cair, de tal maneira que o Menino Jesus teve de ser aquecido pelo bafejar de uma vaca e de um burro. Teria sido assim?


O que podemos dizer sobre o nascimento de Jesus em nada nos permite fazer tais afirmações. Naquela época, não havia «registo civil» obrigatório para todas as pessoas, como nos nossos dias, e, além disso, as datas não eram estabelecidas de forma rigorosa, como actualmente. Deste modo, os elementos que, de algum modo, nos permitem saber algo sobre a época do nascimento de Jesus são os seguintes:


a) -Jesus nasceu durante os reinados de César Augusto e de Herodes «Magno», durante um recenseamento feito enquanto Quirino era governador da Síria.


b) -Havia pastores acampados que guardavam os seus rebanhos durante a noite.


c) -Em Belém, o Menino Jesus foi visitado por uns Magos, guiados por uma «estrela» (diferente de todas as outras), que lhes tinha aparecido 2 anos antes.


d) -Jesus iniciou o seu ministério público no décimo quinto ano do império de Tibério César (28 - 29 d. C.), tendo [qualquer coisa] como trinta anos.


a) -Octaviano César Augusto foi imperador de 30 a. C. a 14 d. C.. Herodes «Magno» foi «rei» aliado dos Romanos, de 37 a. C. a 4 a. C. Morreu em fins de Março ou princípios de Abril de 4 a. C. Por conseguinte, a data do nascimento de Jesus tem de ser situada antes do ano 4 a. C.


Sulpício Quirino foi legado da Síria no ano 6 d. C., e fez o inventário dos bens de Arquelau (herdeiro de Herodes), mas não podemos situar nesta data o nascimento de Jesus. Por outro lado, sabemos que também desempenhou aí uma missão militar, entre 12 e 6 a. C., e, sob as suas ordens, foi feito um recenseamento, mas a data deste é desconhecida. Por conseguinte, a data do nascimento de Jesus deve situar-se em 7 a. C. ou em 6 a. C., i. e. 7 ou 6 anos antes da nossa era!
b) -Kai poimenes êsan en tê khôra tê autê, agraulountes kai phulassontes phulakas tês nuktos epi tên poimnên autôn. - Et pastores erant in regione eadem, vigilantes et custodientes vigilias noctis supra gregem suum. - Na mesma região, havia pastores acampando e guardando as vigílias da noite sobre o rebanho deles. [Lc 2,8]. (Tradução literal do texto grego).


Ora o Talmud (livro sagrado dos Judeus, escrito a partir do séc. II d. C. e que consiste num condensado de tradições judaicas) diz-nos que, naqueles lugares, os rebanhos saíam para os campos em Março e recolhiam nos princípios de Novembro. Deste modo, em Dezembro já não estavam nos campos, porque, nessa época, em Belém, que se situa entre 770 e 820 m de altitude, reina a geada. E assim, Dezembro não é o mês mais provável do nascimento de Jesus. E se, frequentemente, o Talmud contradiz escritos do séc. I (não devendo merecer credibilidade histórica), é certo que não temos nenhuma informação mais credível que contrarie esta, tanto mais que as tradições dos pastores são difíceis de alterar... ainda hoje.


c) -Não sabemos como era a «estrela de Belém». É representada, nos presépios, como um cometa de Halley. Mas, se a pudermos identificar com a «estrela» de Kepler, então tratar-se-ia de uma conjunção de Júpiter e de Saturno na constelação de Peixes, fenómeno que é visível de 794 anos em 794 anos, e que foi visível, no Médio Oriente, no ano 7 a. C., por 3 vezes: a 29 de Maio, a 1 de Outubro e a 5 de Dezembro, sendo o grande acontecimento astronómico daquele ano. Julgavam os astrólogos judeus que o Messias viria durante uma conjunção de Júpiter e de Saturno na constelação de Peixes, tendo em conta que, na interpretação astrológica babilónica, o planeta Júpiter era considerado a «estrela» da realeza; o planeta saturno, a «estrela» da terra de Israel; e a constelação de Peixes o sinal do fim dos tempos e do Messias.


Se admitirmos que seria esta a «estrela de Belém», então o ano do nascimento de Jesus seria o ano 7 a. C. E assim, Jesus teria sido visitado pelos Magos a 5 de Dezembro desse ano, na data em que a «estrela» de Kepler foi vista pela 3a vez, já que, desta última vez, foi vista na direcção do sul, e Belém fica a sul de Jerusalém. Kai idou o astêr on eidon en tê anatolê proêgen autous eôs elthôn estathê [estê] epanô ou ên to paidion. - Et ecce stella quam viderant in oriente antecedebat eos usque dum veniens staret supra ubi erat puer. - E eis [que] a estrela que tinham visto no Oriente antecedia-os, até que se viesse colocar sobre [o lugar] onde estava o Menino. [Mt 2,9]. Quer dizer que viram a estrela no Oriente e que voltaram a vê-la quando estavam a caminho de Jerusalém para Belém. Teria Jesus nascido no dia 29 de Maio do ano 7 a. C., quando a «estrela» de Kepler foi vista pela primeira vez, quando reinavam Augusto e Herodes, quando Quirino desempenhava uma missão militar na Síria e mandava fazer um recenseamento, e quando os pastores passavam a noite nos campos com os seus rebanhos??


O problema, de facto, não fica resolvido desta forma. Vejamos: Tote Êrôdês, lathra kalesas tous Magous, êkribôsen par autôn ton khronon tou phainomenou asteros. - Tunc Herodes, clam vocatis Magis, diligenter didicit ab eis tempus stellae quae apparuit eis. - Então Herodes, chamando secretamente os Magos, diligentemente investigou por eles o tempo do aparecimento da estrela. [Mt 2,7] Tote Êrôdês, idôn oti enepaikhthê upo tôn Magôn, ethumôthê lian kai, aposteilas, aneilen pantas tous paidas tous en Bêthleem kai en pasi [pasin] tois oriois autês apo dietous kai katôterô, kata ton khronon on êkribôsen para tôn Magôn. - Tunc Herodes, videns quoniam inlusus esset a Magis, iratus est valde et, mittens, occidit omnes pueros qui erant in Bethleem et in omnibus finibus eius a bimatu et infra, secundum tempus quod exquisierat a Magis. - Então Herodes, vendo que tinha sido iludido pelos Magos, irritou-se muito e, enviando, matou todos os meninos que estavam em Belém e em todos os territórios dela desde os dois anos [para baixo], segundo o tempo que investigara dos Magos. [Mt 2, 16].


Depreende-se, pois, que a estrela tinha aparecido, a primeira vez, 2 anos antes da visita dos Magos. Não se diz, contudo, se ela apareceu durante o nascimento de Jesus, embora fosse essa a conclusão a que Herodes chegou. Não há, portanto, conciliação com as datas do aparecimento da «estrela» de Kepler! A «estrela de Belém» seria mesmo um fenómeno natural? Não teria sido uma estrela miraculosamente criada para guiar os Magos?


d) -Kai autos ên [o] Iêsous arkhomenos ôsei etôn triakonta [arkhomenos]... - Et ipse Iesus erat incipiens quasi annorum triginta... - E o próprio Jesus começando [com qualquer coisa] como trinta anos... [Lc 3,23]. Os cerca de trinta anos que Jesus tinha, quando iniciou o seu ministério público, só podem ser entendidos como uma aproximação, pois temos de admitir que tinha mais. Mas foram estes trinta anos, sem ter em conta o que aqui deixámos exposto, que levaram ao cálculo da «era cristã», que foi fixada por Dionísio, o Exíguo, no séc. VI.


Antes disso, era tradição dos Padres da Igreja que Jesus tinha nascido em 3 ou 2 a. C..
Acrescente-se que um papiro egípcio do século IV ou V dá a entender que Jesus esteve no Egipto 3 anos e 11 meses. Estabelecendo o ano 4 a. C. como o da morte de Herodes e do regresso do Egipto; somando estes 3 anos e 11 meses e os 2 anos do tempo do aparecimento da estrela, resta situar o nascimento de Jesus em 9 ou 10 a. C.! Não devemos dar credibilidade histórica a esse papiro, por ser demasiadamente tardio. Talvez Jesus estivesse no Egipto muito menos tempo e, assim, a data do Seu nascimento pode situar-se em 6 ou 7 a. C., por outro motivo:
Conta Ambrósio Teodósio Macróbio, por volta do ano 385, o seguinte: Como ouvisse [que] entre os meninos que, até aos dois anos, na Síria, Herodes, rei dos Judeus, [também] mandou matar, realmente, o seu filho, [Augusto] disse: «Eu preferia ser porco de Herodes do que [seu] filho!» [Saturnalia, II, 4, 11]. Refira-se que Herodes mandou matar dois dos seus próprios filhos, Alexandre e Aristóbulo, no Inverno de 7-6 a. C., e o seu filho mais velho e seu herdeiro, Antípater, em Março de 4 a. C.. Todos eles tinham mais de dois anos de idade. Conciliando estes dados, podemos situar a matança dos meninos de Belém e do filho mais velho de Herodes, que devia ser o seu sucessor como rei dos Judeus, no início do ano 4 a. C. A visita dos Magos foi imediatamente antes, porque não em 6 de Janeiro de 4 a. C.? Contando os 2 anos do tempo do aparecimento da estrela, podemos situar o nascimento de Jesus em 6 ou 7 a. C. Só falta aceitar que Jesus estivesse no Egipto pouquíssimos meses ou algumas semanas.


Então por que motivo se festeja o Natal no dia 25 de Dezembro?


Esta data é referida, como dia de Natal, pela 1a vez, no ano 354. O dia 25 de Dezembro era, em Roma, o dies natalis Solis invicti (o dia do nascimento do Sol não vencido), uma festa pagã que os cristãos aproveitaram para nela comemorarem o nascimento de Jesus, o «Sol» não vencido, já que, nesse dia, podiam sentir-se mais seguros de não serem perseguidos, enquanto os pagãos estavam ocupados nos excessos festivos. No entanto, como vimos, não há relação entre essa data e o dia em que Jesus nasceu.


Se nós contássemos, de facto, o tempo da «era cristã» a partir do dia em que Jesus nasceu, então esse dia seria o dia 1 do 1o mês do ano 1, e teríamos do contar os dias e os meses de outra forma.
Recapitulando:


Jesus nasceu no dia 25 de Dezembro do ano 1 a. C., segundo a data convencional. Não houve ano 0 e Janeiro seguinte já faz parte do ano 1 d. C.. É com base nesta data que se comemora o Jubileu do ano 2000.


Jesus nasceu no ano 3 ou 2 a. C., segundo os Padres da Igreja.


Jesus nasceu no ano 6 ou 7 a. C., segundo a opinião geralmente aceite pelos entendidos actuais.


Jesus pode ter nascido no dia 29 de Maio do ano 7 a. C., se pudermos identificar a «estrela de Belém» como sendo a «estrela» de Kepler.


Jesus nasceu no ano 9 ou 10 a. C., segundo o referido papiro egípcio.


Por este motivo, o ano em que, realmente, estamos deve ser aumentado de mais 3, 6, 7, 9 ou 10 anos, conforme a perspectiva adoptada!


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