A cama do faquir
"Portugal e a Europa pediram uma consulta no divã do doutor Freud. Enganaram-se na porta. Deitaram-se numa cama de pregos. E é um faquir que lhes está a tratar da saúde. Dói e vai doer ainda mais.
Depois de doses sucessivas de austeridade até que o Estado e os cidadãos fiquem exangues, a classe política terá de se defrontar com a realidade. E ela é fria como uma lâmina: o modelo em que vivemos depois da II Guerra Mundial, e no qual se estabeleceu o Estado social com todas as almofadas que acomodavam os desequilíbrios sociais, acabou. Dificilmente a Europa voltará ao crescimento económico que permitia este paraíso terrestre. A força dos BRIC, a paixão dos EUA pela Ásia e a incapacidade de os líderes europeus perceberem o óbvio, torna o continente cada vez mais irrelevante. Até como força moral que tinha a democracia como símbolo de referência. Esta Europa caminha para a insolvência política e económica. Sobreviverá, talvez, a sua cultura.
Portugal, se conseguir atravessar 2012 sem que tudo corra pelo pior, terá então de se redimir. Terá de descobrir uma forma de deixar de depender das importações até para comer. Terá de voltar a criar a economia interna que destruiu alegremente com o tilintar dos fundos europeus. Terá de voltar a descobrir a terra. Terá de deixar de asfixiar a sociedade com impostos sem sentido. Porque o Estado social vai deixar de ser apresentado como a solução para quem envelhece. Deitámo-nos na cama do faquir. Sem sedativos. Depois desta experiência será difícil que alguém aguente pregos mais afiados. A inteligência política é agora necessária para driblar a dor. "
Fernando Sobral
Depois de doses sucessivas de austeridade até que o Estado e os cidadãos fiquem exangues, a classe política terá de se defrontar com a realidade. E ela é fria como uma lâmina: o modelo em que vivemos depois da II Guerra Mundial, e no qual se estabeleceu o Estado social com todas as almofadas que acomodavam os desequilíbrios sociais, acabou. Dificilmente a Europa voltará ao crescimento económico que permitia este paraíso terrestre. A força dos BRIC, a paixão dos EUA pela Ásia e a incapacidade de os líderes europeus perceberem o óbvio, torna o continente cada vez mais irrelevante. Até como força moral que tinha a democracia como símbolo de referência. Esta Europa caminha para a insolvência política e económica. Sobreviverá, talvez, a sua cultura.
Portugal, se conseguir atravessar 2012 sem que tudo corra pelo pior, terá então de se redimir. Terá de descobrir uma forma de deixar de depender das importações até para comer. Terá de voltar a criar a economia interna que destruiu alegremente com o tilintar dos fundos europeus. Terá de voltar a descobrir a terra. Terá de deixar de asfixiar a sociedade com impostos sem sentido. Porque o Estado social vai deixar de ser apresentado como a solução para quem envelhece. Deitámo-nos na cama do faquir. Sem sedativos. Depois desta experiência será difícil que alguém aguente pregos mais afiados. A inteligência política é agora necessária para driblar a dor. "
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