domingo, fevereiro 26, 2006

Prisioneiros.

"Entre a dona Albertina e a rua há 68 degraus. Quatro andares. Entre ela e o bulício da Baixa lisboeta há uma barreira intransponível. Albertina Costa tem 82 anos e não sai de casa há cinco. "Já viu o que é, minha querida? Cinco anos aqui fechada? O que me vale é a janela. Sento-me aqui, tenho esta almofadinha para apoiar os braços e fico a ver quem passa. É triste. Mas é a vida."

A vida da dona Albertina ficou reduzida às duas pequeníssimas assoalhadas do seu quarto andar sem elevador quando, há cinco anos, caiu das escadas e partiu a bacia. "Desci um andar de rabo que foi uma pressa! Quando parei pensei que tinha morrido. Mas não. Tive azar. Não só não morri como fui condenada a prisão perpétua." Uma prisão perpétua sem culpa formada. Albertina leva um lenço aos olhos. Não se conforma: "Logo eu que sempre gostei tanto de andar na rua, de dar os meus passeios. Tinha o passe e ia para todo o lado. Ai menina, ai menina... Quando vou para a janela, farto-me de chorar. Sempre que vejo os meus autocarros passar penso nos sítios todos para onde eu ia, se pudesse
."

Mais no DN

Divulgue o seu blog!