Estamos satisfeitos.
"Há um país que, em matéria de contas públicas, se apresenta com duas maleitas crónicas: o défice e a mentira. Somos nós. Devemos e mentimos. Ou, melhor, todos os Governos deixam a República mais endividada, mas só um é mentiroso: o anterior. Os aldrabões estão sempre no Governo anterior. Ao longo dos anos mais recentes, o cidadão até foi despertando para a crise orçamental. E para a inevitabilidade de alguém ter de lhe colocar um fim. Surgiram os sacrifícios. E uma certa dose de tolerância popular.
A troca de números e o jogo do «empurra» produziu um efeito perverso: não resolveu a crise e, o que é mais grave, descredibilizou as formas de a atacar. O cidadão estava farto da conversa do défice e até agradece que ninguém toque do assunto. Está a pagar impostos a uma escala que nunca pagou. Uma inglória procura pela tal «vida além do défice» que, um dia, o doutor Sampaio lhes anunciou.
Também este Governo deliberadamente retirou as finanças públicas do debate nacional.
E, particularmente este ministro das Finanças, depois de um Orçamento tão elogiado, recusa associar à crise orçamental as medidas profiláticas que vai introduzindo na administração pública. Foi assim no Simplex. Foi assim no PRACE. Tem sido assim em quase tudo. Desaparecem papéis e organismos, mas não há um único exercício de quantificação. Quanto se poupa? Quantas pessoas vão ficar sem trabalho? E quantos transferidos? Nada. Nada consta.
Portugal não inventou a guerra à burocracia. Mas este Governo acredita que está a declarar a única guerra que não irá fazer cair uma única vítima. Parece mentira... ou é uma guerra a fingir. Mesmo sem querer, Teixeira dos Santos tropeça semestralmente no défice. A cada reporte dos excessos a Bruxelas, vê-se obrigado a actualizar o número. Agora, sem mentiras. O país ganhou transparência. Perdeu em realismo.
Sexta-feira foi anunciado um dos maiores défices da democracia. Seis por cento do PIB. Uma vitória! O ministro estava triunfante, porque cumprira o objectivo. Chega a ser patético, um país celebrar uma desgraça daquele tamanho. Ninguém pede que um ministro se demita quando a despesa pública derrapa mil e quinhentos milhões de euros — mesmo que a derrapagem seja sua e aconteça em meses. Nem sequer um pedido de desculpas. Bastava inconformismo.
Mas não. Vejam bem, é um descontrolo do seu tempo. Não de outro Governo. Nem sequer do outro ministro deste mesmo Governo. E a mensagem quem passa é absolutamente inaceitável: «estamos satisfeitos». Nós não. A crise orçamental é a mesma de sempre e ainda lá está. Tem raízes conhecidas e o ministro conhece pelo menos uma, pois avisou que está a acabar o dinheiro para os reformados.
Não se espera ver um ministro das Finanças anunciar na quarta-feira a extinção de 187 organismos públicos e, na sexta, fingir que está a controlar a despesa. Não está. E não é coerente. Se corta estruturas, tem de saber quantas pessoas lá trabalham — e não sabe. E tem de deslocá-las para serviços onde falta de pessoal — que ele não sabe quais são. Os que sobram, tem de colocá-los num quadro de excedentes — que o seu secretário de Estado diz agora não ser prioritário.
Oito anos, seis ministros e quatro secretários de Estado depois, o país ainda não sabe quantos funcionários públicos existem. Haverá reformas e finanças que resistam a isto. Parece mentira... afinal é só impunidade."
Sérgio Figueiredo
A troca de números e o jogo do «empurra» produziu um efeito perverso: não resolveu a crise e, o que é mais grave, descredibilizou as formas de a atacar. O cidadão estava farto da conversa do défice e até agradece que ninguém toque do assunto. Está a pagar impostos a uma escala que nunca pagou. Uma inglória procura pela tal «vida além do défice» que, um dia, o doutor Sampaio lhes anunciou.
Também este Governo deliberadamente retirou as finanças públicas do debate nacional.
E, particularmente este ministro das Finanças, depois de um Orçamento tão elogiado, recusa associar à crise orçamental as medidas profiláticas que vai introduzindo na administração pública. Foi assim no Simplex. Foi assim no PRACE. Tem sido assim em quase tudo. Desaparecem papéis e organismos, mas não há um único exercício de quantificação. Quanto se poupa? Quantas pessoas vão ficar sem trabalho? E quantos transferidos? Nada. Nada consta.
Portugal não inventou a guerra à burocracia. Mas este Governo acredita que está a declarar a única guerra que não irá fazer cair uma única vítima. Parece mentira... ou é uma guerra a fingir. Mesmo sem querer, Teixeira dos Santos tropeça semestralmente no défice. A cada reporte dos excessos a Bruxelas, vê-se obrigado a actualizar o número. Agora, sem mentiras. O país ganhou transparência. Perdeu em realismo.
Sexta-feira foi anunciado um dos maiores défices da democracia. Seis por cento do PIB. Uma vitória! O ministro estava triunfante, porque cumprira o objectivo. Chega a ser patético, um país celebrar uma desgraça daquele tamanho. Ninguém pede que um ministro se demita quando a despesa pública derrapa mil e quinhentos milhões de euros — mesmo que a derrapagem seja sua e aconteça em meses. Nem sequer um pedido de desculpas. Bastava inconformismo.
Mas não. Vejam bem, é um descontrolo do seu tempo. Não de outro Governo. Nem sequer do outro ministro deste mesmo Governo. E a mensagem quem passa é absolutamente inaceitável: «estamos satisfeitos». Nós não. A crise orçamental é a mesma de sempre e ainda lá está. Tem raízes conhecidas e o ministro conhece pelo menos uma, pois avisou que está a acabar o dinheiro para os reformados.
Não se espera ver um ministro das Finanças anunciar na quarta-feira a extinção de 187 organismos públicos e, na sexta, fingir que está a controlar a despesa. Não está. E não é coerente. Se corta estruturas, tem de saber quantas pessoas lá trabalham — e não sabe. E tem de deslocá-las para serviços onde falta de pessoal — que ele não sabe quais são. Os que sobram, tem de colocá-los num quadro de excedentes — que o seu secretário de Estado diz agora não ser prioritário.
Oito anos, seis ministros e quatro secretários de Estado depois, o país ainda não sabe quantos funcionários públicos existem. Haverá reformas e finanças que resistam a isto. Parece mentira... afinal é só impunidade."
Sérgio Figueiredo
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