Nova metodologia 'reduz' desempregados.

"A redução de 0,9% do número de desempregados em Março, apontada pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), não tem apenas causas naturais, mas também metodológicas. A diminuição deveu-se sobretudo a um inesperado crescimento homólogo dos empregados inscritos de 69,6% . Ou seja, num ano não só os desempregados inscritos diminuíram em cerca de 4 mil, como os empregados inscritos aumentaram em cerca de 11 mil.

Este crescimento pode ser, no entanto, parcialmente explicado pela entrada em funcionamento de uma nova aplicação informática que permite o cruzamento de dados entre o IEFP e a Segurança Social. Através deste sistema é possível identificar as situações em que um beneficiário de subsídio de desemprego está simultaneamente com registos de descontos ou aquelas em que se está inscrito nos centros de emprego como empregado à procura de outro emprego. E, em caso de acumulação de subsídio com registos de descontos, o sistema deixa de considerar os indivíduos como desempregados e passam a constar como empregados.

Contactado pelo DN, o presidente do IEFP admitiu que este instrumento, inserido no plano de combate à fraude e evasão contributiva, contribui para reduzir o número oficial de desempregados inscritos, na medida em que "quanto melhor funcionar o sistema de controlo, as irregularidades são mais facilmente detectáveis e a verdade reposta". Francisco Madelino lembrou, todavia, que o IEFP não produz estatísticas de desemprego e que estes números revelam apenas os fluxos mensais. Esta informação não acompanhou, no entanto, a informação da divulgação dos dados mensais do IEFP."

DN

"A história repete-se. Nos tempos de crise económica os governos, seja qual for a sua cor política, não resistem à tentação de manipular os números na ilusão de conseguirem mudar a realidade.

Na crise de 1993, o aumento do desemprego desencadeou um impulso de limpeza de ficheiros no Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) que acabou por ser descoberta. Estava o PSD no poder. Em 2006, com o PS, alterou-se a metodologia de registo de empregados e desempregados, omitindo essa mudança. As questões levantadas pela inesperada e irracional descida do desemprego em Março mereceram, é verdade, respostas cautelosas. Mas levaram também a explicações como a antecipação do emprego sazonal criado pelo sector do turismo. E ao esquecimento de revelar que se tinham mudado procedimentos.

Afinal, como o DN hoje revela, uma das principais razões para a redução do desemprego e o aumento do emprego em Março está na melhoria dos sistemas de cruzamento de informação do IEFP. Neste momento, todos os que se declaram como desempregados mas, ao mesmo tempo, fazem descontos para a Segurança Social passam a estar na lista dos empregados. Como consequência, com os dados que são disponibilizados pelo Governo, não é possível comparar os meses de Março deste ano com os de 2005. Os universos são diferentes e o IEFP diz que não consegue avaliar os efeitos das mudanças que fez.

Ninguém que conheça os mecanismos da economia podia acreditar nesta espécie de milagre de redução do desemprego com a economia praticamente estagnada. Esse alerta foi feito, logo na altura, pelos economistas. Assim como se sabe que o indicador mais fiável do desemprego é produzido pelo INE.

A gestão de expectativas é a razão benévola que se pode encontrar para estas "mentiras com estatísticas". Mas só se consegue fazer acreditar que a economia vai melhorar se quem o diz for convincente. Mentiras ou omissões são mortais para a credibilidade. Tal como na história do "Menino e o lobo", ninguém volta a acreditar. O que é pena, já que a confiança nas instituições e nos seus protagonistas, ao reduzir a incerteza, pode acelerar a recuperação económica. As expectativas devem ser geridas com sensatez, o que parece começar a faltar.

A crise económica portuguesa é demasiado grave para se resolver com campanhas fáceis. "