V For Vendetta.
1/ "V For Vendetta assenta numa realização sóbria, não abusa dos efeitos especiais e alicerça-se num argumento actual e bem escrito. Como nos habituaram em filmes como a trilogia Matrix, os irmãos Wachowski não nos contam histórias simples e de consumo fácil: muitas vezes, o segredo está no pormenor. Enquanto via o filme lembrei-me de Matrix, principalmente nos diálogos, sempre coloquiais, expositivos, como se de uma aula de filosofia se tratasse. Ao ver V (representado por Hugo Weaving – papel ingrato para o actor, já que passa o filme todo por trás da máscara) lembrei-me do Agente Smith, e do mesmo tom de voz monocórdico mas poderoso e cativante. Isto para dizer que não é um filme que se possa ir ver acompanhado pela namorada e pelo balde de pipocas: qualquer distracção é inaceitável. Este filme vai-se descobrindo aos poucos, como um livro, porque a narrativa não é linear, avança e recua, e é fácil perdermo-nos.
Imaginem um mundo dominado pelo medo de uma doença epidémica e pela crença generalizada de que a contaminação se deveu a um ataque terrorista. Imaginem que alguém acena com a cura e promete a segurança e a erradicação do terrorismo. Imaginem que em troca pede o poder absoluto. Parece familiar? Depois aparece a resistência na forma de um mascarado que tem como missão vingar-se de todos os que o trouxeram ali e, durante um ano (remember, remember the fifth of November), prepara o ataque ao Parlamento, símbolo do Poder absolutista que mantém aquele povo adormecido.
Estes são tempos conturbados e não falo dos tempos do filme. O medo – todo o filme assenta no medo como factor legitimador do poder absoluto –, explorado pelo poder político, legitima a guerra contra as ameaças externas sempre com sacrifício das liberdades individuais. Se alguém nos desse o fim do terror e em troca nos pedisse a entrega de todos os direitos como pessoa durante um dia, aceitávamos? E durante uma semana? Um mês? Um ano? Sempre? Até onde estamos disposto a ceder a nossa liberdade para nos livramos do medo, do terror, do terrorismo?
Depois de nos mostrarem o fundamento do Poder absoluto, o medo, os irmãos Wachowski mostram-nos as consequências de deixarmos um Big Brother orwelliano tomar conta de nós e relatam o processo de nascimento de um Poder deste tipo, as medidas politicas que pouco a pouco vão consolidando o poder - não há coincidências e nada é feito em vão. E, quando nos damos conta…
O filme é um olhar crítico sobre o estado do mundo actual. Como noutras ocasiões, os manos Wachowski afastam-se deliberadamente do politicamente correcto para nos mostrarem o mundo – o terrorista visto como legitimo guerreiro em nome de uma causa, o poder político que mente para dominar, a igreja satirizada na forma de um bispo pedófilo – e fazem uma obra de arte cinematográfica. Não procurem grandes explosões – embora as haja -, não procurem grandes coreografias de luta marcial – embora as haja. Se procuram um filme que vos ponha a falar do mundo nas horas seguintes, procurem aqui.
2/ V for Vendettta é, de facto, um filme fantástico. Ao contrário do que dizem algumas vozes cépticas, exclusivamente pelo facto de vir produzido por Joel Silver (produtor de títulos tão inovadores e renovadores como 48 Hrs., Lethal Weapon, Predator, Die Hard e Matrix, bem como exercícios de estilo cinéfilo e literário como foi o belíssimo Kiss Kiss Bang Bang), o filme não é o festival de estardalhaço digital e pirotécnico que alguns velhos do Restelo apregoam, sem sequer terem visto o filme.
Levanta questões muito pertinentes e faz-nos pensar a todos sobre o que podemos fazer para mudar o “estado das coisas” (a meio do filme refere-se que para procurar os “culpados”, as pessoas devem olhar-se ao espelho). Basta pensar nas informações erróneas em relação aos dispositivos nucleares “existentes” no Iraque (que eram a justificação da guerra), na atribuição errada a um grupo terrorista (mas inocente no acto em que foi culpabilizado) nos atentados de Madrid, bem como a recente revelação (no “60 Minutos” deste Domingo passado) sobre o facto de o executivo Bush alterar informação credível e comprovada do ponto de vista científico em relação ao aquecimento do planeta, porque esta aponta culpas ao executivo americano. De novo o eterno paradoxo-paradigma entre realidade e ficção. Quem imita quem?
Por outro lado, é uma fantástica prova de talento (se é que ainda existiam dúvidas) sobre o talento de Natalie Portman. Se o seu talento foi completamente desperdiçado na saga Star Wars, aqui é impecavelmente aproveitado, conseguindo aguentar o filme “às costas”. Pena que a realização de James McTeigue seja algo convencional. Oliver Stone ou Paul Verhoeven (sempre críticos e cínicos face a diversos aspectos da sociedade – e não apenas a americana) fariam algo melhor. Mas é sem dúvida um excelente filme.
Nowhere Man
Retirado do Bitaites.
2 Comments:
Vómito!
Os judeus a brincarem aos libertadores! É dum cinismo!
Wonderful and informative web site. I used information from that site its great. Dr gott hair loss Saab and volvo mechanic southern california What is lexapro for Effects+of+xanax Download pokemon rom game service internet fax Adware ohio removal springfield popup blocker Paly music videos affiliate programs Botox restylane permanent makeup tax code birth control pill acne homes antidepressant medication Blackjack rule Liposuction to remove men belly fat atlanta ga Business cards cheap 14pt linen paper dental product cheap air flights travel tips Free surveillance monitor software
Enviar um comentário
<< Home