quarta-feira, junho 14, 2006

Hermanias.

"Manuel Henriques foi o ‘homem de confiança’ que Herman José escolheu para o levar ao DIAP quando, em Maio de 2003, foi ouvido como arguido no processo Casa Pia. Durante mais de 20 anos, o antigo manequim diz que foi uma das pessoas em quem o humorista mais confiava. Em Julho de 2005, Herman põe fim à ligação e acusa o seu antigo colaborador de ter desviado 200 mil contos. Manuel Henriques assegura que não roubou o seu ex-patrão e contra-ataca.

Correio da Manhã – Um jornal noticiou recentemente que um antigo funcionário de Herman José está a ser investigado pela PJ, por ter desviado 200 mil contos. Sente-se visado?

Manuel Henriques – Naturalmente, o Herman tenta descredibilizar-me. Por que razão surge uma notícia cerca de um ano depois de tudo ter acontecido? Mas o Herman bem sabe que nada tenho a ver com desvios de dinheiro. Na verdade, no dia 15 de Julho de 2005 fui confrontado com um conjunto de factos para me forçarem a rescindir o meu contrato de trabalho que tinha com a empresa – tendo assinado uma carta datada de vários dias anteriores àquele em que a assinei –; fui ainda coagido a assinar um conjunto de documentos onde entregava bens – o meu jipe BMW X5 por um euro!... – e me confessava devedor nem sei bem de que valores! Tudo o que auferi como funcionário da empresa e prestador de serviços foi feito com o conhecimento e consentimento do Herman, só que como nada foi escrito

– Coagido...

– Passaram uma manhã inteira a dizer que eu ia ser preso e que não ia ver mais o meu filho. Tenho problemas de bipolaridade e eles usaram isso contra mim. Também meteram a minha mulher ao barulho, quando ela nada tem a ver com a minha relação com o Herman. Hoje, passado quase um ano, apercebo-me do logro em que caí.

– Que razões lhe apresentaram para lhe terem feito aquilo que diz que lhe fizeram?

– Ainda não percebi o que se passou. Inicialmente, achei que o Herman nada tinha a ver com aquilo e que em causa estava uma luta pelo poder na Hermanias, Herman Zap Produções (HZP), Anima Rio, LX-Scene e Visual Links protagonizada pelo director-geral da empresa. O Herman dizia sempre que, caso se passasse alguma coisa, me iria proteger. Ele sabe que tudo o que fiz foi por sua ordem.

– A que coisas se refere?

– Herman José pediu-me para omitir dos directores das empresas algumas situações, como transferências de dinheiro que ele levava para os Estados Unidos ou verbas relativas a espectáculos sem facturas, entre outras coisas. Não me dizia porquê, nem eu perguntava. A minha relação com ele sempre se pautou pela confiança e amizade. Eu estava 24 horas por dia ao serviço dele. Em Agosto, por exemplo, era eu o único que não gozava férias para zelar pelas casas e outros pertences dele.

– Quando conheceu Herman José?

– Creio que em 1986. Foi através de um amigo comum, João Ramos. Era professor de natação e de ginástica num curso de educação física que eu frequentei. Na altura era companheiro afectivo de Herman e veio a ser sócio da empresa Hermanias.

– Começou logo a colaborar com o humorista?

– Não. Na altura dava os primeiros passos como manequim e comecei a frequentar festas a convite do Herman. E a partir de certa altura a fazer pequenos trabalhos burocráticos, como pagamentos a terceiros e questões relacionadas com assuntos administrativos, nomeadamente ia às Finanças, à Segurança Social e fazia-lhe outros recados particulares.

– Depois dos pequenos trabalhos burocráticos...

– As coisas foram crescendo. Entrei para a RTP como assistente de cena. Fiz os concursos ‘A Roda da Sorte’ e ‘Com a Verdade me Enganas’, entre outros. Em 1993, entrei para os quadros da empresa Hermanias, Lda.. Era uma espécie de faz-tudo: era secretário, relações públicas. Continuava a tratar da parte burocrática e passei a tomar conta da gestão da vida pessoal do Herman, organizando a sua agenda pessoal e profissional, tudo sempre com a supervisão do Herman.

DINHEIRO NOS EUA

– Tem conhecimento do Herman ter dinheiro no estrangeiro?


– Por vezes, ele pedia-me para eu ir trocar escudos por dólares. Fazia-o numa dependência do BPI, perto da casa dele em Lisboa. Na altura do processo Casa Pia eu usava a minha conta, a pedido dele. Dizia que era para não dar nas vistas. Eu depois entregava os dólares ao Herman quando ele ia aos Estados Unidos. Tinha uma conta num banco em Miami. Foi aberta através do BPI de Azeitão. Fui eu que tratei desse processo todo.

– Passou de homem de confiança a acusado de ter desviado 200 mil contos...

– Talvez eu seja aquilo a que se chama um dano colateral. Na altura do processo Casa Pia comecei a aperceber-me de muitas coisas. Na semana que antecedeu a ida dele ao DIAP estivemos sempre metidos em casa.

– Estivemos...

– Eu, os advogados dele e um outro amigo íntimo do Herman que é professor universitário no Algarve.

– O que se passou nessa semana?

– Os advogados prepararam o Herman para o interrogatório no DIAP. Estavam a preparar o terreno para safarem o cliente. Tentou-se perceber quem era a criança que o acusava. Pensavam que o acusador era um dos rapazes que ia às festas na casa de Azeitão.

– Que idade tinham essas crianças?

– Nunca lhes vi os B.I., mas aparentavam entre 10 e 12 anos.

– Quem participava nessas festas?

– Só respondo a essa questão nas instâncias próprias.

– Como é que o Herman encarou o processo Casa Pia?

– Inicialmente ficou em pânico com o processo. Depois acalmou; apercebi-me de que o Herman tinha alguma fonte ‘de dentro’ durante a fase de instrução do processo.

– O que é que isso quer dizer?

– Pareceu-me que ele era mantido ao corrente da investigação.

– Herman encontrou-se com esse alegado informador?

– Não tenho a certeza, mas penso que sim.

– Quem era essa fonte?

– Apenas posso dizer que tudo aponta para que seja um magistrado.

– Quando Herman ficou de fora do julgamento do processo Casa Pia?

– No início, ele aparentava uma coisa, mas sentia outra. Depois ficou muito mais descontraído. Sabia ou intuía que nada lhe ia acontecer. Foi precisamente o que acabou por suceder.

Chegou à Direcção de Finanças de Lisboa uma denúncia sobre eventuais irregularidades na gestão dos restaurantes de Herman José, que o CM já noticiou...

– Eu estive nas reuniões em que Herman pediu para que os consumos dos clientes que não pedissem factura no Café Café, Bastidores e Petisqueira de Alcântara fossem atribuídos a uma mesa fictícia, a denominada “mesa 500”. E que mais tarde essas verbas lhe fossem entregues. Eu levei-lhe dinheiro algumas vezes. Houve alturas em que os montantes chegavam aos 5 mil contos/mês. "

Entrevista completa
aqui.

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