Lições do futebol.
"A participação da selecção portuguesa no Campeonato do Mundo de futebol continua, por estes dias, a alimentar conversas. Ainda atordoado pelo resultado menos feliz das meias finais quero aproveitar a oportunidade para retirar algumas conclusões económicas deste acontecimento. Que lições é que esta participação da selecção portuguesa pode dar a todos nós, nomeadamente a decisores políticos, económicos e empresariais?
A primeira destas lições é a da importância da globalização. O futebol é, certamente, o sector da nossa economia mais globalizado e aberto à concorrência internacional. Os nossos melhores clubes posicionam-se em termos internacionais: contratam jogadores (portugueses ou estrangeiros) num mercado internacional, contratam treinadores (portugueses ou estrangeiros) também num mercado internacional, e regularmente disputam os seus jogos com clubes estrangeiros. Os treinadores de topo, aqueles que treinam os nossos melhores clubes e os portugueses que atingiram esse nível, estão claramente num mercado internacional; os nossos melhores clubes são regularmente treinados por estrangeiros e muitos dos melhores treinadores portugueses frequentemente treinam equipas estrangeiras. Olhando para a constituição das equipas portuguesas ou seguindo o percurso de muitos jogadores portugueses reforça-se a imagem de globalização deste mercado. E a selecção nacional é o óbvio espelho desta realidade: formada por jogadores que actuam em clubes de diversos países e orientada por um treinador brasileiro.
Existirão muitos outros sectores de actividade económica no nosso país que estejam tão internacionalizados e integrados nos mercados globais? Existirão muitos outros sectores de actividade económica no nosso país que façam uma gestão tão internacional dos seus recursos humanos? E existirão ainda muitos outros sectores de actividade económica no nosso país que tenham atingido semelhante destaque em termos internacionais? O ponto é que as respostas a estas questões não são independentes. A inserção do futebol português no mercado internacional muito tem contribuído para os sucessos que vão sendo alcançados.
A mensagem para os nossos decisores políticos, económicos e empresariais é clara: a integração no mercado global e a abertura à concorrência internacional é o melhor meio para assegurar o desenvolvimento e o êxito económico e empresarial.
A segunda das lições é a da importância da liderança. Há hoje um enorme consenso em que boa parte do sucesso da selecção se fica a dever à qualidade da sua liderança. O seleccionador nacional, com um estilo e opções próprias contestados por muitos, revelou-se um importante condutor do grupo. E conseguiu transformar um conjunto de jogadores em que não muitos estão entre a elite dos futebolistas mundiais, num grupo empreendedor e com espírito ganhador. No futebol temos visto esse tipo de capacidade entre outros líderes, de que Mourinho é certamente o melhor e mais próximo dos exemplos. E estas considerações tornam-se mais claras quando contrastadas, pela negativa, com os resultados de outras selecções. O caso paradigmático foi o Brasil. Um país que, se tal fosse permitido, deveria ser capaz de formar 31 selecções que ocupassem todos os lugares da fase final do Campeonato do Mundo (excepto, claro está, o lugar atribuído ao país organizador), que há quatro anos se sagrara facilmente campeão mundial, com a orientação de um treinador distinto, foi vencendo os seus jogos à custa de momentos de inspiração de alguns jogadores e acabou perdendo nos quartos de final.
Ora a liderança de qualidade não abunda no nosso tecido empresarial. Diversos estudos evidenciam que aí reside um dos factores de resistência ao aumento da produtividade e ao desenvolvimento do país. Poderá parecer que liderança de qualidade não é fácil de produzir. Mas o dramático é quando não se cria o contexto para que a qualidade da liderança seja estimulada e incentivada.
Tal como no futebol, só com exposição à concorrência internacional e liderança de qualidade, Portugal poderá crescer e assegurar posição de relevo na economia global. "
Fernando Branco
A primeira destas lições é a da importância da globalização. O futebol é, certamente, o sector da nossa economia mais globalizado e aberto à concorrência internacional. Os nossos melhores clubes posicionam-se em termos internacionais: contratam jogadores (portugueses ou estrangeiros) num mercado internacional, contratam treinadores (portugueses ou estrangeiros) também num mercado internacional, e regularmente disputam os seus jogos com clubes estrangeiros. Os treinadores de topo, aqueles que treinam os nossos melhores clubes e os portugueses que atingiram esse nível, estão claramente num mercado internacional; os nossos melhores clubes são regularmente treinados por estrangeiros e muitos dos melhores treinadores portugueses frequentemente treinam equipas estrangeiras. Olhando para a constituição das equipas portuguesas ou seguindo o percurso de muitos jogadores portugueses reforça-se a imagem de globalização deste mercado. E a selecção nacional é o óbvio espelho desta realidade: formada por jogadores que actuam em clubes de diversos países e orientada por um treinador brasileiro.
Existirão muitos outros sectores de actividade económica no nosso país que estejam tão internacionalizados e integrados nos mercados globais? Existirão muitos outros sectores de actividade económica no nosso país que façam uma gestão tão internacional dos seus recursos humanos? E existirão ainda muitos outros sectores de actividade económica no nosso país que tenham atingido semelhante destaque em termos internacionais? O ponto é que as respostas a estas questões não são independentes. A inserção do futebol português no mercado internacional muito tem contribuído para os sucessos que vão sendo alcançados.
A mensagem para os nossos decisores políticos, económicos e empresariais é clara: a integração no mercado global e a abertura à concorrência internacional é o melhor meio para assegurar o desenvolvimento e o êxito económico e empresarial.
A segunda das lições é a da importância da liderança. Há hoje um enorme consenso em que boa parte do sucesso da selecção se fica a dever à qualidade da sua liderança. O seleccionador nacional, com um estilo e opções próprias contestados por muitos, revelou-se um importante condutor do grupo. E conseguiu transformar um conjunto de jogadores em que não muitos estão entre a elite dos futebolistas mundiais, num grupo empreendedor e com espírito ganhador. No futebol temos visto esse tipo de capacidade entre outros líderes, de que Mourinho é certamente o melhor e mais próximo dos exemplos. E estas considerações tornam-se mais claras quando contrastadas, pela negativa, com os resultados de outras selecções. O caso paradigmático foi o Brasil. Um país que, se tal fosse permitido, deveria ser capaz de formar 31 selecções que ocupassem todos os lugares da fase final do Campeonato do Mundo (excepto, claro está, o lugar atribuído ao país organizador), que há quatro anos se sagrara facilmente campeão mundial, com a orientação de um treinador distinto, foi vencendo os seus jogos à custa de momentos de inspiração de alguns jogadores e acabou perdendo nos quartos de final.
Ora a liderança de qualidade não abunda no nosso tecido empresarial. Diversos estudos evidenciam que aí reside um dos factores de resistência ao aumento da produtividade e ao desenvolvimento do país. Poderá parecer que liderança de qualidade não é fácil de produzir. Mas o dramático é quando não se cria o contexto para que a qualidade da liderança seja estimulada e incentivada.
Tal como no futebol, só com exposição à concorrência internacional e liderança de qualidade, Portugal poderá crescer e assegurar posição de relevo na economia global. "
Fernando Branco
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