segunda-feira, fevereiro 19, 2007

Linha férrea do Tua - Que Futuro?

Depois de ocorrida mais uma tragédia em Portugal, desta vez na linha do Tua, com uma pequena automotora renovada pelas oficinas da EMEF há mais de 10 anos, e que se encontrava ao serviço da CP mediante protocolo com a empresa municipal Metro de Mirandela, numa forma de ajudar a rentabilizar a empresa, mas também dispensando dessa forma a CP de garantir com o seu material o percurso desde o Tua a Mirandela, umas questões se colocam.

Não sobre a geo-morfologia dos terrenos, nem sobre as causas da queda de pedras que teriam empurrado a automotora para a ravina que desce abruptamente para o leito do rio, nem se em vez de uma pedra que teria abalroado a automotora, como se pode ler hoje nas páginas do jornal PÚBICO, se se trataria de um simples colapso da ravina por onde passa o leito da via férrea, e que as imagens passadas nas TV’s parecem comprovar.

Mas essa é matéria para que os anunciados inquéritos esclarecerão, esperando nós que venham a ser do conhecimento público.

Não se tratou de uma pedra como a que há uns anos caiu sobre a linha do Douro, levando ao abalroamento dela por parte de uma composição puxada por uma locomotiva EE 1400, fazendo-a descarrilar, e cair ao Douro, de que resultou a perda da locomotiva e a morte do maquinista.

Tratou-se como parece evidente de um simples colapso da encosta, não obstante minutos antes a mesma automotora ter passado no local a velocidade moderada, e aparentemente o maquinista nada ter reportado de anormal ao passar no local.

E perante estas situações que se colocam em linhas pouco utilizadas, com pouca circulação de passageiros e pouca frequência de composições, com a ausência de serviço de mercadorias, e que nos anos 80 e 90 levou ao encerramento de muitas linhas e ramais por todo o país (prolongamento da linha do Tua até Bragança, prolongamento da linha do Tâmega, término do serviço de passageiros até Chaves, ficando-se por Vila Real, encerramento de ramais no Alentejo, como os de Reguengos, Moura, Aljustrel, Vila Viçosa, ou Portalegre), poderão alguns pensar que se determinada linha não oferece condições de segurança, como pareceu evidente com o que aconteceu esta semana no Tua, essa linhas, com poucos passageiros deveriam ser simplesmente encerradas.

Não vou entrar em números ou contas para saber se o investimento para reabilitar o leito da linha do Tua para que de novo passem a circular lá comboios regulares ou turísticos, e os custos de exploração compensarão as receitas do reduzido número de passageiros que por lá passa.

O que vou criticar são os que pensam tão racionalmente que se fossemos levar à letra as contas que os números ditam, provavelmente hoje haveriam ainda mais linhas e ramais encerrados, passando a CP e REFER, empresas públicas que devem garantir um serviço público e contribui para a coesão nacional através do serviço que prestam, a terem comportamento à margem da filosofia de serviço público, como se de empresas privadas fossem.

A solução por vezes não pode ser a mais fácil.

Nem a mais cómoda.

O mais fácil e cómodo era encarar este acidente como um ponto final na circulação de comboios no Tua.

Mais fácil, mais barato, e acaba-se tudo, como infelizmente acabou o prolongamento dão linha do Douro até Barca de Alva, independentemente de decisão homóloga do lado espanhol dessa linha que levava a Salamanca.

Por vezes as decisões devem ser as mais difíceis, porque as mais desafiantes.E o mais desafiante será encontrar uma fórmula de rentabilização de ramais e linhas eventualmente deficitárias, exactamente com a inclusão e investimento que permita melhores velocidades comerciais, com linhas de razoável qualidade, material circulante moderno e confortável, por forma a tornar mais atraentes para os passageiros, e horários adequados a quem precisa ou quer viajar de comboio, seja no Tua ou no Alentejo.

O mais desafiante seria termos um país ferroviário que não se limitasse a um relativamente modernizado eixo atlântico Braga/Porto/Lisboa/Faro, duplicado inexplicavelmente por um anunciado TGV entre Lisboa e Porto e daí para Vigo e mais longinquamente uma ligação de Faro à fronteira, e manter os serviços suburbanos, os mais rentáveis, e alguns mercadorias, limitados ao mínimo denominador comum.

Não é isso que se gostaria que fosse o futuro ferroviário em Portugal.Se a coisa está mal, não se mata, mas cura-se, e dão–se “vitaminas” para que com maior vitalidade possam ter condições de continuidade.

15 Comments:

Anonymous Anónimo said...

É mais uma consequência do «desmantelamento» dos organismos públicos responsáveis pela manutenção «deste tipo de obras».

segunda-feira, fevereiro 19, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Há 32 anos que Portugal vem sido alvo de um "desmantelamento" geral. Ó srº Engenheiro, onde andou este tempo todo?!!! Só os ceguinhos ou os tolinhos é que não vêem, pois tem sido enganados com "papas e bolos"...Muito tem aguentado esta pretensão a País, não tivesse ele um Povo tão nobre e dum humanismo tão grande capaz de sustentar uma corja de parasitas...

segunda-feira, fevereiro 19, 2007  
Anonymous Anónimo said...

É só inteligência desperdiçada.Ora o que este engenheiro diz,é o que toda a gente sabe.Eu também digo o mesmo e não sou engenheiro,muito menos Santo.Pereu uma grande oportunidade de estar calado.

segunda-feira, fevereiro 19, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Caso se prove que a via tem falta ou má manutenção, de quem é a responsabilidade???
Quando há um bom par de anos, eu e outras pessoas nos levantamos contra o desmantelamento quer das vias férreas, quer dos elécticos em Lisboa, práticamente poucos foram os que responderam.
No Nordeste foi um aviar de cortes, a Linha do Sabor (105 Kms), foi toda ao ar, na linha do Tua foi de Mirandela a Bragança (70 Kms), na do Corgo foi de Vila Real a Chaves(70 Kms), na do Tâmega foi de Amarante a Arco de Baúlhe (45 Kms), estas distancias estão avaliadas por baixo, mesmo assim são 290 Kms fechados só em Trás-os-Montes, Na Beira-Alta, Viseu perdeu os comboios (agora querem o TGV, esperem sentados para não se cansarem), e foram cerca de 130 kms no sistema do Vouga e Dão, para não falar de Guimarães a Fafe (20 Kms), ou seja no conjunto das vias estreitas "só" fecharam 440 Kms (cerca de 2/3), fora a via larga que terá sido outro tanto ou mesmo mais, para não falar das que não fecharam mas ficaram desprezadas e com poucos comboios, isto no consulado do Dr. Cavaco Silva, pois segundo os "economicistas" não eram rentáveis.
Ou seja quem vive no interior não tem direito a transportes, se quiser deslocar-se, vá de burro ou a pé que faz bem à saúde, por isso toda a gente fugir do interior deixando-o deserto, aliás a política de extrema-direita ultra-liberal do actual governo é no mesmo sentido, fecham-se Hospitais, Urgências, Maternidades, Correios, ou seja correm-se com as pessoas para o litoral, assim poupa-se dinheiro, pois escusam-se de manter essas estruturas e para os teimosos que queiram ficar na "santa terrinha", que se cuidem, vão ao endireita, ao bruxo, ou vão parir a Espanha, que por cá não tem direito a nada.
Toda agente sabe que o PS tal como o PSD, são os partidos do grande capital, mas o PCP e o esquerdistas caviar do BE, já viram que se mantém práticamente quedos e mudos???
Que raio de partidos dos "trabalhadores e do povo" eles me sairam, ou será que os Portugueses do interior, não são Portugueses de 1ª ou será ainda porque não votam nesses partidos???
Aliás não percebo esta gente do interior, é desprezada, é esquecida e continuam a votar nos que os desprezam, será que são masoquistas, porque não se organizam e fazem um partido que os defendam, ou os "regedores" lá da terra não deixam???
Eu penso é que, os Portugueses no geral, devem ter sofrido uma lavagem ao cérebro muito profunda e já nem conseguem reagir, vejam-se as assimetrias económicas cada vez maiores da população, se assim for, adeus Portugal!

segunda-feira, fevereiro 19, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Por muita razão que o Senhor Bastonário da Ordem dos Engenheiros tenha, tal como um simples Encarregado de um qualquer sector de um Departamento da Administração Pública, a sua voz dificilmente contará para que o país possa ser melhor naquilo que tem a ver com a segurança das pessoas e bens. Os Agentes Políticos em Portugal são hoje, de um modo geral, o maior obstáculo ao seu progresso social e político, porque não querem cumprir apenas o seu exclusivo papel:fazer política, antes vão transformando os demais actores dentro do Estado em "verbos de encher", já que lutar contra isso poucos se atreverão...Toda e qualquer (boa ou má) decisão na AP que temos, tem no Agente Político em geral o selo da sua irresponsabiliadde e controlo. A lógida da responsabilidade técnica e administrativa em Portugal é hoje uma miragem, face à propensão congénita para tais criaturas quererem "borrar as mãos" com tudo aquilo que cheira a euros. Num quadro desta natureza a responsabilidade dilui-se como se dilui a qualidade que a intervenção do Estado deve ter e naquilo que é público. Imaginem como estaremos,dentro de alguns anos, face a falta de cuidado que campeia em toda a AP, quando houver que garantir a manutenção das inúmeras infra-estruturas de base e cuja "gestão política" está actualmente no campo das operações. A verdade expressa pelo Bastonário da Ordem dos Engenheiros, verificando-se desde longa data, já chegou às escolas, aos tribunais e começa já a chegar aos hospitais,com o sector privado a assumir extensivamente responsabilidades em face da incompetência que querem instalada em toda a máquina de Estado. Ao caso se aplica a máxima: um mau rei fará sempre um mau reino e que se aplica já às inúmeras capelas de uma AP e que alguns ainda pensam reformar.No caso concreto, lamenta-se que nenhum dos mais altos "paus mandados" do Governo na CP continuem de pedra e cal no comando daquilo que não sabem comandar. Nem me atrevo a dizer qual deveria ser o castigo para os responsáveis políticos nesta tragédia...
Às Famílias enlutadas, resta-nos um pedido de desculpa e criar condições para a responsabilidade pela perda de vidas seja assumida, em primeira mão, pelo Estado.

segunda-feira, fevereiro 19, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Estou de acordo com o seu comentário, o curioso é que apesar de tudo estas pessoas continuam a votar nos mesmos coveiros do interior, temos o exemplo do maior deles, Cavaco Silva,este é o povo que temos, tolhido pelo medo e abandonado por todos.

segunda-feira, fevereiro 19, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Este é o resultado do interior esquecido. Quando não se investe na modernização da linha do Tua nem do Douro até ao Pocinho, é isto... A intenção é descredibilizar este meio de tranporte no nordeste transmontano para depois este governo vir justificar que não é viável.
Pelo andar da "carruagem", no interior e especialmente no nordeste transmontano nada se justifica, porque cada vez há menos razões de cá viver... Nós os transmontanos apenas precisamos que invistam em nós umas migalhas da OTA e do TGV.

Um transmontano desiludido

segunda-feira, fevereiro 19, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Sou utilizador ocasional dos transportes ferroviários(ocasional porque se quero cumprir compromissos tenho que arranjar alternativas) e aproveito este acontecimento para criticar a falta de respeito e organização que existe na administração da REFER(tutelada pelos Ministérios das Obras Públicas, Transportes e Comunicações) para com os utentes, na medida em que, para além de acidentes desta natureza, existe um total desleixo no que respeita a horários e serviço prestado. Haja mudança na administração da Refer por favor!!!

segunda-feira, fevereiro 19, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Só se lembram dos transmontanos quando a desgraça cai sobre nós, só assim somos notícia, ninguem se preocupa,agora é que vai haver inquerito em toda alinha do Tua, deviam ter vergonha......mas é o nosso Portugal.

segunda-feira, fevereiro 19, 2007  
Anonymous Anónimo said...

O presidente da câmara de Mirandela ainda não se apercebeu que a linha do Tua não é o TGV. Se o acidente fosse na linha do norte, entre Porto e Lisboa, já hoje viriam os ministros todos reclamar mais milhares de milhões para avançar com 2 TGV , em vez de 1. Como é lá para o "interior", querem lá saber. Melhor é fechar "aquilo" e os transmontamos que andem a pé...

segunda-feira, fevereiro 19, 2007  
Anonymous Anónimo said...

É com muita mágoa que constato o atrazo de certas zonas do País; nenhuma rede de telemóveis funciona naquela zona...CONTINUEM COM OBRAS MEGALÓMENAS, TIPO AEROPORTO DOS OTÁRIOS, TGV E TUNEL DO ROSSIO E ESQUEÇAM A PAISAGEM...Esses Portugueses de 2ª do interior do País...

segunda-feira, fevereiro 19, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Esta é a realidade de Portugal, um é o Portugal do Litoral, uma faixa de 20 Kms. (às vezes menos), junto ao mar, outro é o restante território.
Nesta faixa litoral vivem cerca de 80% da população, vivendo os restantes 20% no restante território.
Daí perceber-se que o interior é outro país com outra realidade e sem duvida alguma (salvo uma ou outra excepção), um país esquecido.
No entanto este acidente não se pode atribuir apenas a um país atrasado, é o próprio perfil da linha que pode originar um acidente deste tipo, que por acaso se deu no interior mas igualmente se poderia dar no litoral se o perfil do terreno fosse semelhante.
Este troço junto ao rio Tua, foi escavado num paredão de forma a se poder instalar a linha, a qual é conhecida por ser um dos troços ferroviários portugueses mais espectaculares e até da Europa.
O deslizamento do terreno pode ter sido motivado pelas chuvas ou até ter ter sido de alguma forma motivado pelo sismo de ontem, que poderá ter fragilizado o terreno.
Muita gente está a esta hora aesfregar as mãos de contente, pois este acidente pode ser o motivo para o fecho definitivo desta linha (o que resta), uma vez que a mesma não é rentável, só que isso ainda vai contribuir mais para a desertificação deste interior de Portugal tão abandonado e desprezado pelos poderes políticos.
Temos de ser ponderados, exigir que os governos tenham mais respeito pelo interior, e que, nós Portugueses tenhamos mais orgulho de nós e do nosso País e que em vez de ir para o estrangeiro, muitas vezes para sermos roubados ou mortos, visitemos mais Portugal que é um País lindíssimo e que nós ramados em "novos-ricos" desprezamos.
Povo que não tem orgulho de si e do seu País, não merece viver!

segunda-feira, fevereiro 19, 2007  
Anonymous Anónimo said...

é preciso se perderem vidas para que surjam intenções de se fazer algo, isto é uma vergonha, é o país do deixa andar e quando acontecem as desgraças é que vêm dizer que é preciso ser reparado, tudo tem que ter manutenção para evitar acidentes!

segunda-feira, fevereiro 19, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Em Portugal, o mau estado de boa parte dos taludes é facilmente constatável!
(Para quem não sabe, "talude" é a barreira de terra de fica, quando se corta um declive ou se aterra uma zona baixa, para passar uma via de comunicação.).
Mandam as "boas práticas" que, logo que o talude seja feito, se coloque cobertura vegetal adequada, por forma a que as raízes fixem a terra solta, impermeabilizem e estabilizem o referido talude, conferindo-lhe a necessária segurança.
Ora, o que vimos por aí é taludes completamente descarnados pela erosão - ou porque a cobertura vegetal secou durante o verão, ou porque, pura e simplesmente, não foi semeada... -, que são autênticas bombas-relógio em épocas de chuva persistente...

segunda-feira, fevereiro 19, 2007  
Anonymous Anónimo said...

porque será que só com os governos socialistas cai tudo ao rio?????

segunda-feira, fevereiro 19, 2007  

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