Lista de espera
"Trata-se, como é óbvio, de uma parcela insignificante num projecto que custará 3,1 mil milhões de euros e, além disso, Bruxelas ainda nem sequer entregou a Portugal a totalidade deste valor: até agora só desembolsou 8,5 milhões.
No entanto, o caso ilustra bem a forma como se faz política: os governos fazem opções, assumem compromissos financeiros – mas ninguém fora deste círculo privilegiado sabe muito bem o que está a acontecer. Na verdade, a maioria das pessoas pensa, ingenuamente, que o processo Ota ainda está no estimulante período de discussão pública. Ou seja, naquela fase em que, embora havendo uma primeira tendência, ainda não foi dada a luz verde (definitiva) sobre o terreno onde nascerá o aeroporto.
Infelizmente, já não estamos nesse ponto. O então primeiro-ministro Durão Barroso enviou o projecto para Bruxelas de modo a concorrer aos necessários fundos comunitários. Tempos antes, para consumo interno, Durão – ainda pintado de fresco no posto –, largara aquela magnífica tirada sobre as crianças e as grandes obras públicas: enquanto houver uma criança em lista de espera nos hospitais não haverá Ota nem TGV. Como é evidente, pensamentos com esta profundidade intelectual não são para levar demasiado a sério. Confrontado com a necessidade de tomar uma decisão importante, o então primeiro-ministro avançou sem grande alarido nem rebates de consciência: a Ota foi o lugar indicado no dossiê enviado para a União Europeia e aí repousa dignamente com o número 8 dos projectos aprovados da rede transportes europeus.
Significa isto que ainda é possível voltar tudo à estaca zero? Claro, é sempre possível recuar se os argumentos forem sérios. Mas para serem sérios, terão de ser inesperados. Por exemplo, que as primeiras escavações na Ota descobriram umas magníficas termas do período romano (gravuras rupestres já não servem) e que é de todo impensável demoli-las em nome do progresso. Desconfiada nestas matérias e para se precaver, Bruxelas já não atira dinheiro para o ar de uma só vez: à medida que os projectos avançam, vai entregando os subsídios. Mas, apesar desta legítima prudência (é por isso que Portugal ainda só recebeu 8,5 milhões de euros), os ecos da discussão que agita por estes dias Portugal não deixarão de surpreender a UE. Afinal, o destino do aeroporto está ou não decidido? O projecto, enviado por Durão e, mais tarde, reconfirmado por Sócrates, é para levar a sério?
Agora que se levantam dúvidas técnicas e de viabilidade económica sobre o projecto, percebe-se a falta de solidez e a precipitação de uma decisão importante para o país. Provavelmente, já não há nada a fazer. Sócrates não recua. Durão faz de conta que não é nada com ele. E o país volta a exibir a bagunça que é."
André Macedo
No entanto, o caso ilustra bem a forma como se faz política: os governos fazem opções, assumem compromissos financeiros – mas ninguém fora deste círculo privilegiado sabe muito bem o que está a acontecer. Na verdade, a maioria das pessoas pensa, ingenuamente, que o processo Ota ainda está no estimulante período de discussão pública. Ou seja, naquela fase em que, embora havendo uma primeira tendência, ainda não foi dada a luz verde (definitiva) sobre o terreno onde nascerá o aeroporto.
Infelizmente, já não estamos nesse ponto. O então primeiro-ministro Durão Barroso enviou o projecto para Bruxelas de modo a concorrer aos necessários fundos comunitários. Tempos antes, para consumo interno, Durão – ainda pintado de fresco no posto –, largara aquela magnífica tirada sobre as crianças e as grandes obras públicas: enquanto houver uma criança em lista de espera nos hospitais não haverá Ota nem TGV. Como é evidente, pensamentos com esta profundidade intelectual não são para levar demasiado a sério. Confrontado com a necessidade de tomar uma decisão importante, o então primeiro-ministro avançou sem grande alarido nem rebates de consciência: a Ota foi o lugar indicado no dossiê enviado para a União Europeia e aí repousa dignamente com o número 8 dos projectos aprovados da rede transportes europeus.
Significa isto que ainda é possível voltar tudo à estaca zero? Claro, é sempre possível recuar se os argumentos forem sérios. Mas para serem sérios, terão de ser inesperados. Por exemplo, que as primeiras escavações na Ota descobriram umas magníficas termas do período romano (gravuras rupestres já não servem) e que é de todo impensável demoli-las em nome do progresso. Desconfiada nestas matérias e para se precaver, Bruxelas já não atira dinheiro para o ar de uma só vez: à medida que os projectos avançam, vai entregando os subsídios. Mas, apesar desta legítima prudência (é por isso que Portugal ainda só recebeu 8,5 milhões de euros), os ecos da discussão que agita por estes dias Portugal não deixarão de surpreender a UE. Afinal, o destino do aeroporto está ou não decidido? O projecto, enviado por Durão e, mais tarde, reconfirmado por Sócrates, é para levar a sério?
Agora que se levantam dúvidas técnicas e de viabilidade económica sobre o projecto, percebe-se a falta de solidez e a precipitação de uma decisão importante para o país. Provavelmente, já não há nada a fazer. Sócrates não recua. Durão faz de conta que não é nada com ele. E o país volta a exibir a bagunça que é."
André Macedo
3 Comments:
Pois é apresentaram o projecto NAER na OTA sem os devidos estudos e conclusões estarem finalizados e agora...tenho quase a certeza que se aperceberam que se for na OTA o custo de construção vai ultrapassar largamente os 3 mil milhões de euros que inicialmente foram previstos e a derrapagam não deve ser nada meiga, acima dos 25% certamente ou talvez mais. Só que Bruxelas já se comprometeu com uma determinada verba e agora? É um país a saque este nosso Portugal!
Se é assim, rídiculo se torna falar no assunto. Mas, se alguma coisa correr mal durante as obras de execução...(como D. Barroso já está a salvo em Bruxelas e depois auferirá reforma dourada) Sócrates que se cuide. Não se admirem por Salazar ter ganho o concurso "O maior português de sempre"..
Mas, ainda há crianças em lista de espera? Parece que o que havia era muitos projectos europeus em lista.Ficava Bruxelas á espera que decidissemos?"La donna Portugal e mobile!..."
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