Inquérito

"O ministro da Saúde ordenou a realização de um inquérito aos nascimentos de dois bebés a bordo de ambulâncias na auto-estrada entre a Figueira da Foz e Coimbra. Mas antecipou já a sua conclusão. E assim, determinou e mandou publicar que os bebés não nasceram a bordo de ambulâncias a caminho de Coimbra pelo facto de ter encerrado a maternidade da Figueira mas porque há pessoas que “não utilizam o Serviço Nacional de Saúde como deviam”. Ninguém duvidará que quando saírem os resultados do inquérito mandado instaurar pelo ministro as conclusões apontarão no mesmo sentido.

Foi muito oportuno o ministro prestar este esclarecimento, pois não faltaria quem insinuasse que os nascimentos a bordo se deviam ao encerramento de maternidades. Como também insinuaram outro tanto em relação à morte de um prematuro entre Elvas e Portalegre. Ou como insinuaram que os privados estão a projectar unidades de saúde onde o ministro fechou urgências e maternidades e se prepara para fechar serviços de atendimento permanente. Ora se há coisa que este ministro está a fazer, e bem, é a tratar da saúde ao SNS.

O uso indevido do Serviço Nacional de Saúde obviamente não se verifica por responsabilidade do ministro que, a seu tempo, providenciará de certo para que seja distribuído um manual do utilizador do SNS. Verdade se diga que a tarefa estará bastante simplificada pelo facto do próprio SNS estar reduzido á expressão mais simples. Não é que seja para extinguir. Fica para os indigentes que não tenham capacidade, financeira ou etária, para chegar a um seguro de saúde. E são esses, que para além de indigentes são de compreensão lenta, que precisam de um manual de instruções para deixarem de nascer a bordo de ambulâncias."

João Paulo Guerra