segunda-feira, maio 21, 2007

Desemprego alto

"A realidade é monstruosa: 70% da população empregada em Portugal só tem o 3º ciclo do ensino básico – o velho nono ano. E 72% da população desempregada vem daí – dos que só têm o nono ano. Dá uma equação simples: se a maioria dos trabalhadores disponíveis no mercado tem o nono ano, e se são esses quem mais engrossa a lista de desempregados, a taxa não vai cair. Vai subir mais.

Repare-se. Podia até ser uma boa notícia esta taxa de desemprego: ela significa que o país está a extinguir os velhos postos de trabalho que já nada fazem pela economia – enquanto gerava novos entre licenciados. Mas não: é má notícia na mesma. A maior subida percentual no desemprego, este trimestre, surge entre os licenciados – mais 32% de portugueses com curso perderam o emprego ou não chegaram a ele. Estranho? Nada

A maior fatia dos licenciados nacionais vem de cursos de letras. Lidera direito e ciências sociais, claro, com 30% dos estudantes e, logo a seguir, educação, com mais 20%. Ou seja, 50% dos estudantes que entram no mercado chegam de cursos onde o emprego escasseia. O que procura o mercado? Engenheiros, cientistas. E esses não representam mais do que uns modestos 15% dos novos estudantes.

Os gigantes brasileiros da Embraer – fabricantes de aviões que gerem as portuguesas OGMA – querem erguer uma fábrica para construir os componentes do seu novo avião. Para o fazerem aqui, explicaram ao Governo que querem garantias: telecomunicações eficazes, garantias em criação de software e... competências. Gente capaz. E por isso o Governo levou à reunião o responsável do MIT – para ele garantir que haverá mais gente das ciências exactas a sair das universidades.

O que permite uma conclusão dramática: o ciclo de emprego ainda não mudou, e o desemprego em Portugal não vai deixar de subir tão cedo. Seria preciso que o aumento de novos empregos gerados por estes modernos investimentos fosse superior ao que se perde entre aqueles que têm o nono ano ou que vêm de cursos de letras. E não é. Continuando a subir a esta média de 8% (são cerca de 27 mil pessoas/ano só com o nono ano), a taxa de desemprego em 2008 estaria nos 8,9%. Mais 0,5 pontos percentuais do que hoje.

O esforço de captação de novos investimentos – sendo eficaz – pode inverter esta tendência. Mas para que ele resulte, já se disse, é preciso outra dinâmica fiscal. Não vale a pena dar o exemplo de países com taxas mais altas. Esses têm qualificações. Sócrates já está a fazer o que deve: receber esta gente em São Bento. Portanto, com outros impostos e mais gente a formar-se em ciências, então a taxa de desemprego começará a baixar
."

Martim Avillez Figueiredo

13 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Totalmemte de acordo.mas vou nais longe, mesmo tendo-se criado bastante emprego, este continua a não chegar para suprir as saídas. Acrescentando os trabalhadores que sentem não estar preparados e preferem o desemprego que aceitar "trbalhos menores"....este é outro drama, que Sindicatos e forças politicas estimulam para a contestação. e depois lamentam o desaparecimento na EUROPA dessas forças politicas e a redução de força dos sindicatos!!!!Mas ainda o mais grave é que a transferência dessa gente de esquerda, se faz directamente para a Extrema direita!!!!! Assim desapareceu o PC em FRança Espanha Itália ETC ETC....Rápidamente e em força, retirem os politos dos Sindicatos!!!!! ou então vai ser uma tragédia. Atentamente

segunda-feira, maio 21, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Não adianta subsidiar empresas sem futuro.Temos de investir nos nosso sucesso. Mas vai doer. Em Espanha e Irlanda foi o mesmo fenómeno. Devemos ter a lucidez de prever taxas de desemprego ainda mais elevadas e pensar já em tudo aquilo que temos de fazer com estas pessoas. Formação, reconversão, programas ocupacionais, empreendedorismo, associativismo e cooperativismo, soluções locais, etc, etc.

segunda-feira, maio 21, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Mais uma vez MAF opta pela demagogia fácil, aceita ficar limitado aos seus dogmas pessoais. É curioso que mostre estupefacção com as baixas qualificações, revelando aqui uma evidente carência do país, e de seguida considere normal que esse mesmo país despreze 32% de mão-de-obra qualificada. O porquê dessa aparente contradição? MAF, apesar de se considerar um visionário progressista, faz parte do mesmo status quo que pretende eternizar um modelo de desenvolvimento que não funciona, baseado somente no medo e nos baixos salários. Por isso considera normal que se desperdice mão-de-obre qualificada. Sobre cientistas, o Esatdo acabou de efectuar o maior corte da História nas verbas destinadas à investigação nas Universidade. Se é o Estado o maior inestidor em investigação, é esse é o exemplo que espelha qual é o modelo de desenvolvimento que se pretende continuar a alimentar. Sobre essa realidade, MAF preferiu ignorar. Sem meios de subsistência, sem materiais e instalações para investigação, onde se poderá avançar? Sobre a Engenharia, está provado que é bem mais compensador comprar o diploma, do que mostrar valor efectivo. É evidente que o desemprego ira continuar a aumentar. Somente por que isso permitirá manter a pressão e o terror sobre quem trabalha, congelando salários e exigindo horas trabalhadas sem a devida retribuição. Pena que NAF não escreva uma linha sobre a progressão contínua dos lucros das empresas cotadas (uma amorta do total do universo empresarial) desde 2002, o aumento médio de 60% nas remunerações dos seus administradores e o retrocesso de 1% nos salários dos restantes trabalhadores. As elevadas taxas de desemprego são mais um factor de "comepetividade" deste modelo de desenvolvimento, e terá todo o apoio a nível empresarial, político e da imprensa especializada para que tal realidade seja ainda mais agravada. Este é o mundo real...

segunda-feira, maio 21, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Compreendo mas não aceito. TODOS devem de ter oportunidades, os que tenham o nono ano e os que são de ciencias sociais e humanas(economistas também. Quem disse não se pode melhorar, e ir ao encontro do mercado de trabalho, que como sabe está em permanente mutação... De que serve fazer o 12º ano a uma pessoa de 30 anos que tem o 9º e experiencia trabalho acumulada de 15 anos a vender camisas/sapatos e está agora desempregada?Reconversão e mais reconversão. E um licenciado em "letras"?Por isso criaram os MBA's

segunda-feira, maio 21, 2007  
Anonymous Anónimo said...

A "ideologia" deste Governo e de muita juventude neoliberal (é verdade!) que o apoia, inclui afirmações profundamente erradas e injustas. Uma delas é a de que os portugueses (de repente) são burros e não têm formação e as desgraças do país (entre as quais o desemprego) resultam desse facto. Daí os choques tecnológicos, a recente campanha de formação (novas oportunidades), etc. ESTÁ ERRADO! Os portugueses mal formados vão lá para fora e conseguem arranjar emprego. Os portugueses formados (leia-se licenciados, mesmo em áreas tecnicas) não conseguem empregos cá dentro. ABRAM OS OLHOS!

segunda-feira, maio 21, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Abundância de licenciados em direito sempre houve e a Assembleia da República é disso um fiel espelho. E nos Governos ? E em Belém ?. Grave é que depois de cerca de 30 ministros da Educação...só agora é que os sinos toquem ! Este e os anteriores Governos têm andado a assobiar pró lado não criando condições para o "exército" de licenciados no desemprego. Só se safam os filhos e as filhas de...

segunda-feira, maio 21, 2007  
Anonymous Anónimo said...

elevada taxa de desemprego é a grande evidência da falha monumental da estratégias governativas dos últimos anos. Passados os anos em que o foco foram (correctamente) as infraestruturas vieram os anos do capital humano: educação, formação e qualificação. A diferença é que as infraestruturas aí estão (até demais) mas a paixão pela educação foi um rotundo fracasso. Continuamos em 2007 com uma inacreditável taxa de analfabetismo, a escolaridade "obrigatória" só o é para 2 em cada 3 jovens e a produção de licenciados, mestrados e doutorados é das mais baixas da Europa. Porquê? Porque as mentalidades e os líderes políticos ainda estão presos na estratégia do betão. Bem sei que os recém licenciados, ao contrário dos empreiteiros não contribuem para os cofres dos partidos em tempo eleitoral, mas são o único garante do nosso desenvolvimennto e não merecem ficar esquecidos na hora de definir políticas e afectar recursos. Só um exemplo: 30 anos de eduquês e os manuais escolares continuam incongruentes e pejados de erros! 30 anos! Irra!

segunda-feira, maio 21, 2007  
Anonymous Anónimo said...

elevada taxa de desemprego é a grande evidência da falha monumental da estratégias governativas dos últimos anos. Passados os anos em que o foco foram (correctamente) as infraestruturas vieram os anos do capital humano: educação, formação e qualificação. A diferença é que as infraestruturas aí estão (até demais) mas a paixão pela educação foi um rotundo fracasso. Continuamos em 2007 com uma inacreditável taxa de analfabetismo, a escolaridade "obrigatória" só o é para 2 em cada 3 jovens e a produção de licenciados, mestrados e doutorados é das mais baixas da Europa. Porquê? Porque as mentalidades e os líderes políticos ainda estão presos na estratégia do betão. Bem sei que os recém licenciados, ao contrário dos empreiteiros não contribuem para os cofres dos partidos em tempo eleitoral, mas são o único garante do nosso desenvolvimennto e não merecem ficar esquecidos na hora de definir políticas e afectar recursos. Só um exemplo: 30 anos de eduquês e os manuais escolares continuam incongruentes e pejados de erros! 30 anos! Irra!

segunda-feira, maio 21, 2007  
Anonymous Anónimo said...

elevada taxa de desemprego é a grande evidência da falha monumental da estratégias governativas dos últimos anos. Passados os anos em que o foco foram (correctamente) as infraestruturas vieram os anos do capital humano: educação, formação e qualificação. A diferença é que as infraestruturas aí estão (até demais) mas a paixão pela educação foi um rotundo fracasso. Continuamos em 2007 com uma inacreditável taxa de analfabetismo, a escolaridade "obrigatória" só o é para 2 em cada 3 jovens e a produção de licenciados, mestrados e doutorados é das mais baixas da Europa. Porquê? Porque as mentalidades e os líderes políticos ainda estão presos na estratégia do betão. Bem sei que os recém licenciados, ao contrário dos empreiteiros não contribuem para os cofres dos partidos em tempo eleitoral, mas são o único garante do nosso desenvolvimennto e não merecem ficar esquecidos na hora de definir políticas e afectar recursos. Só um exemplo: 30 anos de eduquês e os manuais escolares continuam incongruentes e pejados de erros! 30 anos! Irra!

segunda-feira, maio 21, 2007  
Anonymous Anónimo said...

O Sr. MAF talvez tenha alguma razão. A forma como aborda o assunto é de forma clara intlectualmente desonesta. Vejamos: É verdade que grande fatia dos trabalhadores portugueses não apresentam um diploma academico rico. Mas também é verdade que se passa o mesmo no campo dos empresários. A única diferença entre ambos está na carteira. A classe politica está no mesmo barco, pela forma como tem administrado este pais e pelos resultados obtidos se tivesse que obter a sua legitimidade numa qualquer assembleia de accionistas estaria despedida no mínimo. Pelas noticias do passado recente ficou a saber-se que diplomas obtidos em establecimentos do ensino superior não teem qualquer credibilidade, não passam de simples papeis, não corresponde a um saber real, e até se defendeu que para o exercicio das funções de primeiro ministro não é necessário nenhum diploma mas antes o saber, o que eu concordo. Então sr. jornalista em que ficamos, a culpa deste pais não ter sucesso é dos trabalhadores não terem hablitações académicas com diplomas pomposos ou por outro lado, é de não existir uma classe dirigente capaz e com um saber real aos titulos que usam e aos cargos que ocupam? É claro que as culpas e as consequências vão sempre fazer efeito e os maiores estragos nos que estão na base da piramide social. Mas deixe que lhe diga, muito porque os senhores escribas, onde o sr. se inclui,vendem essa opinião. Não estará o sr. a segurar o lugar que ocupa ou a pagar algum favor? Cumprimentos

segunda-feira, maio 21, 2007  
Anonymous Anónimo said...

É uma verdade que o desemprego é maior entre as pessoas com menos formação. É verdade que entre os licenciados tb a maior taxa de desemprego é nas áreas das letras e ciências sociais, mas também é verdade que quem tira licenciaturas em ciências ou engenharia só tem duas alternativas, ou fica cá e sujeita-se a ficar desempregado ou vai para o estrangeiro, sendo esta última a solução que muitos jovens tem seguido. Mas e os mais velhos com familia constituida? Pois é desses ninguém fala, dos licenciados com 40/50 anos que foram apanhados em reestruturações e que estão desempregados há imenso tempo porque ou são velhos de mais ou porque têm experiência a mais. Desses ninguém fala, nem sindicatos (pq como não são classe operária) nem o estado, nem os especialistas. Eu estive desempregado 3 e meio, não conseguia arranjar trabalho porque tinha "experiencia a mais" com várias pósgraduações e um MBA. Conheci muitos engenheiros como eu e na minha situação no centro de emprego onde tive de me inscrever e para nós a resposta era sempre a mesma "os senhores têm experiência a mais". Alternativa, fugi deste país que renega o seus que valem pelos conhecimentos e experiência. No país onde fui acolhido fiquei logo na primeira empresa para onde queria ir, e sabem porquê, porque tinha experiência e isso é mto importante em climas de crise, onde é preferível admitir gente um pouco "mais cara" mas com um retorno mais rápido. E mais não digo, apenas que gostaria de ver um trabalho de fundo para divulgar o problema daqueles que têm formação em engenharia que estão desempregados e têm mais de 40 anos.

segunda-feira, maio 21, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Dói a verdade e é o que se vê nos comentários. É a mais pura das verdades, o país não tem qualificações e não tem atitude empreendedora. Assim sendo é normal que não haja trabalho, para vender-mos temos que ser diferentes e melhores e só assim podemos conseguir pedir os preços que queremos. Pena que a esquerda ainda não tenha percebido esta realidade que é latente e continuem a arranjar desculpas. O governo não pode inventar trabalhos...essa época já acabou e deixou-nos no ponto onde nos encontramos actualmente.

segunda-feira, maio 21, 2007  
Anonymous Anónimo said...

O Avillez é básico, assim como o jornal que dirige.

A moda agora é culpar as ciências sociais e humanas do descalabro. Porque não sabem matemática, porque não querem estudar, etc.
Ora fique-se a saber algumas coisas: Naturalmente que existem muitos mais licenciados nesta área, pois ela é muitissimo abrangente. Desde o Direito, ao marketing, da economia à gestão, etc., tem muitos mais cursos que as engenharias, que se pdoem contar pelos dedos das mãos.

A distribuição por área de formação está de acordo com o que se pasas nos outros países da OCDE, portanto, n temos licenciados amais nesta ou naquela área.

A questão passa pelo facto de o emrpesariado portugues é composto maioritariamente por pequenas e médias empresas que não passam da cepa torta, muito por culpa de quem as detém.

Como a economia é atrasada e o modelo é atrasado, não existe procura para funcionários qualificados.

Quanto ás empresas que não conseguem quadros em engenharia, não me parece que a microsoft sofra desse mal... resta saber que empresas e que condições oferecem as que se queixam de falta de engenheiros. Acrescente-se que, quando exigem engenheriros para serem vendedores (os chamados engenheiros comerciais, o que quer que isso seja), mostra bem o quão útil é uma licenciatura em portugal.

quinta-feira, janeiro 31, 2008  

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