Lisboa
"António Costa era o melhor e mais sólido candidato à Câmara de Lisboa. Ainda bem que ganhou. Costa não disse nem fez nada de notável na campanha eleitoral. Foi defensivo, pouco mobilizador, às vezes arrogante.
A fraca concorrência dos adversários não lhe exigiu que desse o seu melhor. Os adversários – em especial o remediado Fernando Negrão –, estenderam-lhe o tapete vermelho da vitória desde o primeiro dia. Costa, molengão e sem chama, acomodou-se e deixou o tempo passar. Na verdade, até parece que preferiu ganhar sem maioria. Daqui a dois anos, nas próximas eleições, talvez precise de justificações para explicar o que não conseguiu fazer e, mesmo assim, ser eleito por mais quatro anos. É o álibi perfeito: a vítima (a cidade) está moribunda e não foi ele o carrasco.
Para já, Costa ganhou em todas as 53 freguesias e tem uma enorme responsabilidade: enorme, estimulante e desafiadora. Lisboa espera que ele seja muito melhor presidente do que foi candidato – e pode sê-lo. Lisboa espera que ele trave o declínio absurdo em que a capital mergulhou. No fundo, a cidade espera que António Costa não se sirva de Lisboa – como tantos outros –, mas sirva Lisboa. Para o conseguir, terá de ser selectivo, arrojado, determinado. Terá de mostrar que está ao serviço da capital e não do Governo – ou das suas ambições políticas pessoais. Dois anos de mandato, ao contrário do que se diz, é tempo suficiente para lançar as bases deste trabalho.
Dois anos foram, como se vê, mais do que suficientes para Marques Mendes mostrar que é um líder sem grande apoio no PSD e, por isso, sem capacidade para escolher um candidato forte para Lisboa. No entanto, o líder social-democrata tem sido claro na gestão deste processo. Deixou cair (e bem) Carmona Rodrigues e agora assume o fracasso. Faz sentido. Como faz sentido que Mendes exija agora uma clarificação interna e definitiva. É possível que sobreviva. É possível que seja arrasado. Seja como for, ontem fez uma declaração política madura e no tom certo. Ao contrário do excitado Paulo Portas.
Paulo Portas voltou ao CDS para tentar, um dia, ser esse adversário nacional de Sócrates. Mas também ele escolheu um candidato sem fôlego, sem dimensão – um desastre absoluto. Acontece que, agora, não é só a liderança que está em causa: é a própria viabilidade do partido que está em cheque. Portas não deu tempo a Ribeiro e Castro e, com isso, não deu tempo a si próprio e ao CDS. Portas é vítima da sua própria ambição: tem um ego infinitamente maior do que o CDS. O partido – este partido – é para ele um incómodo. O país, este país, também. Foi Portas que o disse ontem com todas as letras. De certa forma, ele escreveu o seu obituário com própria mão. Ao contrário de Marques Mendes, não soube gerir a derrota. Falou com emoção, sem calma. O caso Portucale e dos submarinos não são desculpa para nada. São o que são. "
André Macedo
A fraca concorrência dos adversários não lhe exigiu que desse o seu melhor. Os adversários – em especial o remediado Fernando Negrão –, estenderam-lhe o tapete vermelho da vitória desde o primeiro dia. Costa, molengão e sem chama, acomodou-se e deixou o tempo passar. Na verdade, até parece que preferiu ganhar sem maioria. Daqui a dois anos, nas próximas eleições, talvez precise de justificações para explicar o que não conseguiu fazer e, mesmo assim, ser eleito por mais quatro anos. É o álibi perfeito: a vítima (a cidade) está moribunda e não foi ele o carrasco.
Para já, Costa ganhou em todas as 53 freguesias e tem uma enorme responsabilidade: enorme, estimulante e desafiadora. Lisboa espera que ele seja muito melhor presidente do que foi candidato – e pode sê-lo. Lisboa espera que ele trave o declínio absurdo em que a capital mergulhou. No fundo, a cidade espera que António Costa não se sirva de Lisboa – como tantos outros –, mas sirva Lisboa. Para o conseguir, terá de ser selectivo, arrojado, determinado. Terá de mostrar que está ao serviço da capital e não do Governo – ou das suas ambições políticas pessoais. Dois anos de mandato, ao contrário do que se diz, é tempo suficiente para lançar as bases deste trabalho.
Dois anos foram, como se vê, mais do que suficientes para Marques Mendes mostrar que é um líder sem grande apoio no PSD e, por isso, sem capacidade para escolher um candidato forte para Lisboa. No entanto, o líder social-democrata tem sido claro na gestão deste processo. Deixou cair (e bem) Carmona Rodrigues e agora assume o fracasso. Faz sentido. Como faz sentido que Mendes exija agora uma clarificação interna e definitiva. É possível que sobreviva. É possível que seja arrasado. Seja como for, ontem fez uma declaração política madura e no tom certo. Ao contrário do excitado Paulo Portas.
Paulo Portas voltou ao CDS para tentar, um dia, ser esse adversário nacional de Sócrates. Mas também ele escolheu um candidato sem fôlego, sem dimensão – um desastre absoluto. Acontece que, agora, não é só a liderança que está em causa: é a própria viabilidade do partido que está em cheque. Portas não deu tempo a Ribeiro e Castro e, com isso, não deu tempo a si próprio e ao CDS. Portas é vítima da sua própria ambição: tem um ego infinitamente maior do que o CDS. O partido – este partido – é para ele um incómodo. O país, este país, também. Foi Portas que o disse ontem com todas as letras. De certa forma, ele escreveu o seu obituário com própria mão. Ao contrário de Marques Mendes, não soube gerir a derrota. Falou com emoção, sem calma. O caso Portucale e dos submarinos não são desculpa para nada. São o que são. "
André Macedo
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