INSISTIR NAS MESMAS TECLAS

"O Governo aprovou o Plano Tecnológico da Educação, o qual, conforme amplamente anunciado (o Governo repete anúncios a cada quinze dias), visa distribuir pelas escolas "quadros interactivos", Internet e toneladas de computadores, além de, pelo caminho, introduzir o país nos cinco mais desenvolvidos da Europa no que toca à modernização do ensino. É curioso que, nos países já modernizados, inúmeras investigações tenham principiado a questionar o papel da informática na aprendizagem, e alguns concluam pela sua péssima influência. É uma forma de ver a coisa. Sucede que, para o eng. Sócrates e a sra. ministra do ramo, a informática nunca pretendeu ser um meio auxiliar, mas um fim em si. Se o facto de as crianças gastarem as aulas a bulir em computadores não favorece o seu conhecimento de línguas ou de aritmética, tanto pior: importante é que conheçam os computadores. Há nisto relativo bom senso. Por cá, o domínio médio do português ou da matemática não promete um futuro risonho. Em contrapartida, uns rudimentos de informática dão enorme jeito, inclusive para limpar, corrigir e preservar a biografia do primeiro-ministro na página da Wikipédia, regularmente abandalhada por biltres. Com sorte, os rudimentos darão até emprego, entre os milhares de assessores técnicos de que o eng. Sócrates necessita para manter a infinita Net limpa de insinuações e jocosidades acerca da sua pessoa. Isto considerando que o eng. Sócrates se mantém em funções o tempo suficiente para que as crianças terminem os estudos, o que, na cabeça dele, não parecerá nada de espantoso. "

Alberto Gonçalves