SIMS, SR. PRIMEIRO-MINISTRO
"Para elevar Portugal ao topo da modernização das escolas e suscitar a inveja da Terra, o Governo lançou o Plano Tecnológico para a Educação. A nova maravilha, que envergonha o Taj Mahal, custa 400 milhões de euros e, nos pormenores, visa aplicar às criancinhas os métodos de controlo paternal que o Governo tem disseminado entre os adultos: cartões electrónicos, câmaras de vigilância, etc.
O fundamento do projecto, porém, reside na informatização das salas de aula, que não têm aquecedores mas terão computadores e um "quadro interactivo". Estas duas miraculosas conquistas da ciência permitem que os petizes façam um exame sem recorrer à expressão escrita ou oral, de resto em desuso: basta carregarem num botão e as respostas surgem no tal ecrã digital.
E serão as respostas correctas? Após densa investigação, os peritos do ministério da Educação descobriram que o velho quadro de ardósia, os cadernos, os lápis e os afias são parcialmente responsáveis pela miséria do sistema escolar. Sucede que os alunos também não ajudam, e convinha trocá-los uma alternativa qualquer. Na apresentação do referido Plano, o eng. Sócrates deu o exemplo, ao dirigir-se a uma turma de figurantes contratados por uma firma de casting para substituir os tradicionais, e anacrónicos, discentes.
É um pequeno avanço. Não é o progresso desejado. Mesmo ensaiados, os figurantes ainda são de carne e osso, logo permeáveis a lapsos, como o de revelar às televisões que estavam ali a pretexto de um telefonema da agência e de 30 euros. Mediante um investimento adicional, é forçoso aproveitar o frenesim tecnológico e alargar a informatização das escolas a tudo o que nelas se mova.
Existem empresas especializadas em animação gráfica a três dimensões, capazes de rabiscar uns bonecos quase perfeitos e, para o leigo, parecidíssimos com o ser humano de facto. É questão de se substituir as crianças, os professores e os contínuos pelos bonecos. Desde que estes sejam devidamente programados, acabam-se os lapsos e as falhas, as notas embaraçosas, os funcionários doentes, as "baixas", a indisciplina, a insegurança e todas aquelas chatices que embaraçam o ensino e o eng. Sócrates.
Aliás, dada a justificada repulsa que nutre pelos imprevistos da realidade, o eng. Sócrates poupar-se-ia a imensos aborrecimentos se governasse um país inteiramente desenhado a pixeis, habitado por obedientes personagens virtuais e não por gente inconveniente e resmungona. Por sorte, há um jogo para "PC" assim. Chama-se "Sims" e, em vez de espalhar milhões de computadores pelo povo ingrato, o eng. Sócrates faria melhor em guardar um único para si, a fim de preencher os dias na manipulação de bonecos verdadeiros. Muitas pessoas verdadeiras agradeceriam."
Alberto Gonçalves
O fundamento do projecto, porém, reside na informatização das salas de aula, que não têm aquecedores mas terão computadores e um "quadro interactivo". Estas duas miraculosas conquistas da ciência permitem que os petizes façam um exame sem recorrer à expressão escrita ou oral, de resto em desuso: basta carregarem num botão e as respostas surgem no tal ecrã digital.
E serão as respostas correctas? Após densa investigação, os peritos do ministério da Educação descobriram que o velho quadro de ardósia, os cadernos, os lápis e os afias são parcialmente responsáveis pela miséria do sistema escolar. Sucede que os alunos também não ajudam, e convinha trocá-los uma alternativa qualquer. Na apresentação do referido Plano, o eng. Sócrates deu o exemplo, ao dirigir-se a uma turma de figurantes contratados por uma firma de casting para substituir os tradicionais, e anacrónicos, discentes.
É um pequeno avanço. Não é o progresso desejado. Mesmo ensaiados, os figurantes ainda são de carne e osso, logo permeáveis a lapsos, como o de revelar às televisões que estavam ali a pretexto de um telefonema da agência e de 30 euros. Mediante um investimento adicional, é forçoso aproveitar o frenesim tecnológico e alargar a informatização das escolas a tudo o que nelas se mova.
Existem empresas especializadas em animação gráfica a três dimensões, capazes de rabiscar uns bonecos quase perfeitos e, para o leigo, parecidíssimos com o ser humano de facto. É questão de se substituir as crianças, os professores e os contínuos pelos bonecos. Desde que estes sejam devidamente programados, acabam-se os lapsos e as falhas, as notas embaraçosas, os funcionários doentes, as "baixas", a indisciplina, a insegurança e todas aquelas chatices que embaraçam o ensino e o eng. Sócrates.
Aliás, dada a justificada repulsa que nutre pelos imprevistos da realidade, o eng. Sócrates poupar-se-ia a imensos aborrecimentos se governasse um país inteiramente desenhado a pixeis, habitado por obedientes personagens virtuais e não por gente inconveniente e resmungona. Por sorte, há um jogo para "PC" assim. Chama-se "Sims" e, em vez de espalhar milhões de computadores pelo povo ingrato, o eng. Sócrates faria melhor em guardar um único para si, a fim de preencher os dias na manipulação de bonecos verdadeiros. Muitas pessoas verdadeiras agradeceriam."
Alberto Gonçalves

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