Que pena!
"Duvido que as alterações introduzidas à pressa pela reforma do Processo Penal acelerem a Justiça e sirvam melhor os cidadãos. Não sou adepto de Estados obcecados com a segurança. Nem sou favorável à tendência para arrefecer direitos cívicos em nome de razões securitárias. Se nos aterrorizarem, o terrorismo e a criminalidade em geral já terão vencido metade da batalha e as sociedades democráticas estarão a meio caminho de perder a guerra.
A paranóia da segurança encoraja o arbítrio e favorece o populismo: não é assim que as sociedades se tornam mais seguras. A segurança de uma sociedade constrói-se no dia-a-dia, depende de múltiplos factores, e não pode apoiar-se apenas na lei, penal ou outra.
Investir na Justiça, dotá-la de melhores meios e torná-la mais célere é uma condição de credibilidade dos Estados democráticos. Uma Justiça lenta perturba o desenvolvimento, porque não oferece fiabilidade a quem pretende investir. Uma Justiça lenta torna-se injusta, porque não repara as infracções em tempo útil e arrisca-se, pela via da prescrição, a deixar de punir o que deve ser punido. Mas a Justiça não pode ser sinónimo de mera aplicação de decisões ou penas. Reparar o erro ou a ilegalidade não esgota a finalidade de um sistema que também deve prevenir o crime e ajudar à recuperação social do criminoso. De outro modo: é necessário conjugar a punição com a prevenção e com a recuperação ou inserção social.
Dito isto, é impossível não reconhecer a sofisticação actual do mundo do crime que obriga os Estados a novas respostas e a uma acrescida cooperação neste domínio.
Em Portugal, a Justiça é lenta, os meios não abundam, o emaranhado legislativo faz o resto.
Toda a gente concorda que é necessário mudar profundamente alguns aspectos da Justiça portuguesa, mas infelizmente parece que no domínio do Processo Penal se começou como quase sempre: há um problema? Produza-se mais legislação.
O legislador português mantém uma fé inquebrantável em si próprio, presumindo resolver os dramas do País, sempre com mais leis, sempre com mais diplomas.
Duvido que as alterações introduzidas à pressa pela reforma do Processo Penal acelerem a Justiça e sirvam melhor os cidadãos. A começar pelo escassíssimo tempo que medeia a publicação da legislação e a sua entrada em vigor. Porquê apenas quinze dias? É, segundo me parece, a primeira vez que tal sucede numa reforma do Processo Penal.
Por outro lado, é meritório o desejo de encurtar os tempos de prisão preventiva, mas antes convém que a máquina de investigação seja profundamente revista. Até para que não se acuse o Governo de estar apenas interessado em esvaziar as prisões de presos preventivos, que oneram o Orçamento de Estado.
A reforma do Processo Penal terá sido muito discutida, mas se assim foi algo falhou nessa discussão. O procurador-geral da República, por exemplo, já veio pedir alterações ao diploma, de modo a garantir um eficaz combate ao crime económico.
Simultaneamente, descobre-se (para mim, foi uma descoberta) que o célebre DIAP (Departamento de Investigação e Acção Penal) nem sequer está informatizado. Não ocorreu a ninguém que a informatização dos serviços faz mais pela celeridade da Justiça que uma discutível reforma do Processo Penal?"
José Luís Ramos Pinheiro
A paranóia da segurança encoraja o arbítrio e favorece o populismo: não é assim que as sociedades se tornam mais seguras. A segurança de uma sociedade constrói-se no dia-a-dia, depende de múltiplos factores, e não pode apoiar-se apenas na lei, penal ou outra.
Investir na Justiça, dotá-la de melhores meios e torná-la mais célere é uma condição de credibilidade dos Estados democráticos. Uma Justiça lenta perturba o desenvolvimento, porque não oferece fiabilidade a quem pretende investir. Uma Justiça lenta torna-se injusta, porque não repara as infracções em tempo útil e arrisca-se, pela via da prescrição, a deixar de punir o que deve ser punido. Mas a Justiça não pode ser sinónimo de mera aplicação de decisões ou penas. Reparar o erro ou a ilegalidade não esgota a finalidade de um sistema que também deve prevenir o crime e ajudar à recuperação social do criminoso. De outro modo: é necessário conjugar a punição com a prevenção e com a recuperação ou inserção social.
Dito isto, é impossível não reconhecer a sofisticação actual do mundo do crime que obriga os Estados a novas respostas e a uma acrescida cooperação neste domínio.
Em Portugal, a Justiça é lenta, os meios não abundam, o emaranhado legislativo faz o resto.
Toda a gente concorda que é necessário mudar profundamente alguns aspectos da Justiça portuguesa, mas infelizmente parece que no domínio do Processo Penal se começou como quase sempre: há um problema? Produza-se mais legislação.
O legislador português mantém uma fé inquebrantável em si próprio, presumindo resolver os dramas do País, sempre com mais leis, sempre com mais diplomas.
Duvido que as alterações introduzidas à pressa pela reforma do Processo Penal acelerem a Justiça e sirvam melhor os cidadãos. A começar pelo escassíssimo tempo que medeia a publicação da legislação e a sua entrada em vigor. Porquê apenas quinze dias? É, segundo me parece, a primeira vez que tal sucede numa reforma do Processo Penal.
Por outro lado, é meritório o desejo de encurtar os tempos de prisão preventiva, mas antes convém que a máquina de investigação seja profundamente revista. Até para que não se acuse o Governo de estar apenas interessado em esvaziar as prisões de presos preventivos, que oneram o Orçamento de Estado.
A reforma do Processo Penal terá sido muito discutida, mas se assim foi algo falhou nessa discussão. O procurador-geral da República, por exemplo, já veio pedir alterações ao diploma, de modo a garantir um eficaz combate ao crime económico.
Simultaneamente, descobre-se (para mim, foi uma descoberta) que o célebre DIAP (Departamento de Investigação e Acção Penal) nem sequer está informatizado. Não ocorreu a ninguém que a informatização dos serviços faz mais pela celeridade da Justiça que uma discutível reforma do Processo Penal?"
José Luís Ramos Pinheiro
1 Comments:
---» Os adoradores de negociatas de lucro fácil [são os 'dignos' herdeiros das sociedades europeias (do passado) exploradoras de escravos] estão a trabalhar muito bem:
-> Novo Código de Processo Penal: Em causa estão os prazos que a nova lei prevê, bastante mais reduzidos, a que se agrega a falta de recursos humanos para apoio à investigação. "São processos normalmente morosos, que não se coadunam com os tempos de investigação que a nova lei prevê", apontou o presidente da ASFIC... "A quase totalidade dos processos de crime económico, corrupção e de outros crimes complexos poderão vir a ser arquivados... É difícil, para já, avançar um número, mas podemos falar em 70 a 80 por cento".
-> Saíram ou vão sair acusados de assassinatos, violações, etc., mas não será libertado Mário Machado, o dirigente dos skinheads, que é acusado de incitar ao ódio racial, algo que em países genuinamente liberais não é crime, nem sequer delito de opinião. Nota: O homem até pode ter poucos neurónios... mas os adoradores de negociatas de lucro fácil... consideram-no 'um empata'.
{Nota: Ah! É verdade! NACIONALISTAS DO SISTEMA... não se esqueçam de dizer que os culpados disto tudo... são: a Esquerda... e a inspiração cristã...}
É SÓ PARA RELEMBRAR: o catálogo das negociatas de lucro fácil à custa de alienígenas (leia-se não nativos) é muito, muito vasto:
-> são advogados a cobrar mais de mil euros por processo de legalização...
-> é o pessoal do SEF (e afins, por essa Europa fora) a obter favores...
-> é o pessoal do ministério dos negócios estrangeiros a obter favores...
-> são mulheres-a-dias ao preço da chuva...
-> é o tráfico de mulheres para a indústria do sexo...
...ETC...
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