segunda-feira, setembro 17, 2007

Benza-os Deus!

"A abertura do ano escolar revelou uma nova forma de comunicação e propaganda do Governo: o toca-e-foge. José Sócrates, Maria de Lurdes Rodrigues e mais quatro mãos-cheias de ministros e secretários de Estado dispersaram-se pelo país em visitas-relâmpago a estabelecimentos de ensino e em operações de distribuição de computadores sem pré-aviso, para evitar acções de protesto ou contestação que estragassem a encenação pública.

Nem a Fenprof, nem o PCP, nem os professores efectivamente descontentes, nem os pais ou os alunos que quisessem fazer ouvir legítimas reivindicações tiveram tempo de reacção.

E a estratégia do Governo – que aprendeu a lição das últimas acções pré-anunciadas de José Sócrates ou de outros membros do seu Governo antes do Verão, invariavelmente aguardadas por manifestações adversas – resultou. A abertura do ano escolar passou com uma imagem de normalidade ... anormal.

Mas o mais fiel retrato do estado do Ensino e da Educação em Portugal deu-nos Paulo Ricca com a fotografia que fez capa do Público na quarta-feira: o padre de Resende a dar a benção na inauguração do Centro Escolar de S. Martinho de Mouros, com José Sócrates, Maria de Lurdes Rodrigues e o presidente do município vestidos de preto e de ar soturno e com o primeiro-ministro a benzer-se.

Benza-o Deus! – que é expressão do Norte – terão pensado milhares de professores sem colocação, mais outros tantos que, colocados, são obrigados a resignar-se aos ditâmes de uma reforma tão cheia de boas intenções como de incongruências e, mais grave, de incompetências.

Mais computadores, menos professores; docentes arbitrariamente destacados para darem aulas sobre matérias para as quais não têm qualquer habilitação nem tiveram formação específica; turmas com alunos a mais, escolas com professores a menos;

estabelecimentos de ensino com autonomia mas sem orientações e sem direcções devidamente preparadas... um rol de insuficiências sem fim.

Bem faz Sócrates em benzer-se e razões de sobra tem a ministra para andar com ar de enterro. E bem podem depois os discursos políticos propagandear optimismo e números estatísticos que esbarram na miserável realidade do Ensino em Portugal. É medíocre. Continua medíocre e não há milagre que pareça poder valer-lhe.

Quando Sócrates entrou na sala de aula, se dirigiu de sorriso aberto ao jovem aluno que esperava sentado pelo cumprimento do primeiro-ministro e lhe perguntou «Estás porreiro, pá?», o rapaz não lhe deu a merecida resposta.

P.S.: O inefável professor Charrua avançou com um processo contra o Estado pedindo choruda indemnização e reintegração na DREN. Mais: afirmou que brincou, brinca e brincará com a licenciatura do primeiro-ministro. Arquive-se liminarmente
."

MRamires

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