segunda-feira, outubro 15, 2007

"Os “privilegiados”

"Um dia destes alertaram-me para o discurso do “privilégio”, a marca deste Governo praticamente desde que tomou posse.

Os professores são privilegiados, os médicos também, os juízes…igualmente, os funcionários públicos em geral têm “imensos privilégios” – desde o pior ao melhor remunerado. E “privilegiados” são ainda os pensionistas, quem está doente e tem cuidados de saúde sem pagar, quem não tem emprego e recebe subsídio, quem quer ter uma escola perto de casa e também os que não querem ver os centros de saúde que estão abertos toda a noite encerrados sem que nada se lhe dê em troca…

Afinal, parece que somos um país de… “privilegiados”. Quem não tem afinal “privilégios”? O “povo” respondeu-me uma outra pessoa. Mas qual povo? O povo não seremos nós? Os “privilégios” de facto querem dizer classe média.

Na análise de quem me reduziu o discurso dos privilégios ao absurdo, este Governo está a usar magistralmente uma das características que se diz terem os portugueses: a inveja. Há anos alguém me dizia, noutro contexto, que sofríamos do sindroma da sebe, tínhamos de cortar os ramos que saíam fora do alinhamento.

Mas como se concilia essa exploração da “inveja” com a popularidade de Joe Berardo? Jardim Gonçalves, Belmiro de Azevedo e António Mega Ferreira criaram mais valor para o país que Joe Berardo. Mas é ele que parece fazer as nossas delícias, sem inveja. Marcelo Rebelo de Sousa afirma que tudo isso se explica com a admiração que temos pelo desenrascanço – que aliás já justificou estudos académicos. Talvez por isso o primeiro-ministro nada sofreu na sua popularidade por causa do caso da sua licenciatura.

Ter direitos ganhos pelo trabalho e pelos impostos pagos ao Estado parece ser visto, por aqui, como “privilégios injustificáveis”, ou não seria tão eficaz o discurso do Governo. Ganhar dinheiro fazendo subir acções em bolsa ou conseguindo que o Estado pague a exposição de uma colecção que se fez são um direito à esperteza. Estas parecem ser as mensagens subjacentes que nos têm transmitido do espaço público.

Não estou com isto a dizer que algumas medidas adoptadas pelo Governo eram desnecessárias. Todos sabíamos, depois do ‘boom’ da segunda metade dos anos 90, que iríamos pagar a factura com uma redução no nosso nível de vida. Mas convém olhar atentamente para os ditos “privilégios” para que uns não sejam demasiado mais iguais que outros . O aperto que o Governo está a impor à classe média pode estar a ultrapassar os limites do suportável. Dos privilegiados aos miseráveis pode ir um passo
. "

Helena Garrido

9 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Concordo inteiramente. Entretanto esquecem-se os verdadeiramente priveligiados: Banco de Portugal; Deputados e restantes cargos politicos; gestores públicos, indemnizados obscenamente; responsáveis autárquicos; desportivos, etc, etc, etc. São tantos os verdadeiramente privilegiados de que não se fala, que quem usa este termo para dividir e subir, dever-lhe ia cair qualquer coisita quando profere tal palavra. Ai dos portugueses se não correrem e depressa com os espertalhões, que estão um pouco por todo o lado a cavalgar aos ombros de alguém...

sábado, outubro 13, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Não podia estar mais de acordo. Uma opinião certa e com muita verdade. Pena é que neste País as coisas sejam vistas pela população como "clubite", isto é se é o meu clube que toma estas meidadas então eu sou cego surdo e mudo.

sábado, outubro 13, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Para a generalidade dos portugueses os privilegiados são sempre os outros. Para os empresários, os privilegiados são os funcionários públicos, aqueles que recebem o rendimento mínimo sem darem qualquer contributo para o engrandecimento da pátria. Para os indigentes, os privilegiados são todos aqueles que conseguem ter mais um cêntimo do que eles. Para os funcionários públicos, os privilegiados são aqueles que trabalham no sector privado, pois declaram muito menos do que aquilo que na realidade ganham. Os exemplos poder-se-iam multiplicar ad infinitum. Mas, uma coisa é certa, muitos dos privilegiados da classe média estão no limiar da indigência, pois, os apoios sociais que recebem são manifestamente insuficientes. Por exemplo, uma família com dois filhos que ganhe 2.000 euros por mês pertence à abençoada classe média. Mas esta mesma família, na zona da grande Lisboa, se tiver ambos os filhos no pré-escolar irá ter que desembolsar por mês cerca de 600 euros, pois no sector público só consegue colocação quem ganha pouco mais que o salário mínimo. Se, além disto, esta família ainda pagar 700 euros, por mês, pela compra ou arrendamento de habitação, então, estamos mesmo a ver que esta classe média é mesmo muito privilegiada. Face ao exposto, a fronteira entre os privilegiados e os miseráveis, muitas vezes, não passa mesmo de uma linha imaginária. Por isso, admiro o estoicismo dos cadáveres adiados que procriam.

sábado, outubro 13, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Há muita inveja no nosso País a começar pela inveja do contraste deste governo com os anteriores. E a inveja é tanta que rádios, jornais, televisões e revistas não se cansam de amesquinhar e mal dizer o governo todos os dias de uma forma que não me parece honesta. No entanto o seu artigo é uma crítica ao governo certeira e legítima. Falta acrescentar que muitas dessas classes profissionais não são preveligiadas pelo dinheiro que ganham mas pelo pouco esforço que fazem para que o fruto do seu trabalho seja correspondente ao esforço que o contribuinte faz para lhes pagar. Já alguma vez se interrogou sobre o desastre do nosso ensino básico e secundário? Ganharão os nossos professores ao nível dos professores turcos e mexicanos para que os nossos alunos do 9.º ano só possam ser comparados com os desses países? Já viu algum professor ou seu representante assumir a mínima culpa neste resultado? Não! A culpa é sempre do ministério ou do governo ou do sistema. O mesmo se poderia dizer da Justiça. Dos médicos apesar das fugas e dos desperdícios indecentes que se conhecem, temos um SNS altamente classificado na OMS. Apesar da má língua, tomara que todos os outros sectores da sociedade pudessem ter essa classificação. Pois dr.ª o Governo pode ter abusado dos previlégios mas está a fazer o que deve ser feito e que nenhum, até hoje, teve vontade política para o fazer. A Senhora, que é economista, tem obrigação de o reconhecer se quiser ser intelectualmente honesta.

sábado, outubro 13, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Eu era um privilegiado. 47 anos e mais dois meses de descontos para o governo, sem um dia de "baixa". Trabalhador e saudável. Maravilha. Hoje com menos 2% de pensão que em 2006, despesas a subir, sei o que é caminhar para a miséria. Deixei de pensar em atingir os níveis da Europa civilizada. Agora apenas desejo que o processo de equiparação à Moldova ou a Cuba... quem sabe... seja o mais lento possivel.

sábado, outubro 13, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Muito bem! Não posso deixar de elogiar este artigo, pois esta deve ser das primeiras vezes que vejo abordado o assunto dos "privilégios" e da "inveja" tão claramente. Espero que este artigo faça pensar alguns "despriviligiados" que agora provalvelmente o vão ser mais (com as novas leis do trabalho)e que vejam que o que está mal não são os FP mas sim a classe politica que a si próprios não tem retirado mas sim aumentado os "privilégios". Abram os olhos.

sábado, outubro 13, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Brilante crónica. Este governo conhece o povo miserabilista e cobarde que existe nesta pátria. Um povo que aceitou pacificamente viver em ditadura durante 50 anos, e se não tivesse existido um grupelho de militares, ainda estaria sobre o jugo desse mesmo regime. Um povo que alimentava a ditadura com a bufaria e lhe jurava fidelidade no dia 24, e em 26 de Abril de 1974 confessavasse democrata desde o berço. A cobardia ficou. Tal como a inveja e a mesquinhez. Em vez de se juntarem para defenderem causas comuns para o bem-estar da comunidade, olham somente para os seus particulares interesses, agrupando-se somente quando se trata de prejudicar outros. É um povo que só está bem e contente quando tem um vizinho em pior condição que ele. Não deseja ter as mesmas (melhores) condições que o seu colega, mas sim que esse esteja pior que ele. E como quem montou este elenco governativo é alimentado da mesma forma, e conhece o povo que tem, sendo ele mais ou menos letrado, há que instigar essas características tão lusitanas. E como sabe estar perante um povo cobarde e conformista, segue nesse caminho. Por alguma razão quem questiona ou mostra uma posição crítica relativa a uma qualquer maioria é olhado de lado, com desprezo, e raras vezes não é rotulado como "comuna" ou "esquerdalho". Contudo, Helena Garrido também fez coro nessa cantilena dos priveligiados. Faz bem em arrepiar caminho. Mostre este artigo ao seu director e sub-director...

sábado, outubro 13, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Oh sr. Silva.... em que ficamos? Primeiro diz que a cronista tem razao na critica que faz ao governo, mas acaba a questionar a sua (dela) honestidade intelectual.

Tch, tch... sr. Silva...

segunda-feira, outubro 15, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Medidas urgentes para salvar Portugal1º Reduzir o nº de Deputados para 50 ( e já são demais ) 2º Acabar com as despesas de representação e cartãos de credito aos Politicos. 3º Proibir vencimentos de reformas superiores a 3000€ por mês a TODOS os Portugueses. 4º Proibir que politicos usem carro do Estado para deslocações de casa para o trabalho/casa. 5º Obrigar a Banca a pagar os Impostos.

segunda-feira, outubro 15, 2007  

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