quarta-feira, outubro 17, 2007

SE BEBER, NÃO VIVA

"Como de costume, dois americanos e um inglês ganharam o Nobel da Medicina. Como de costume, nenhum se chama Ahmed ou Abdulah. Não admira. Justamente na Inglaterra, uma parte não especificada dos muçulmanos que estudam nas faculdades do ramo recusa-se a tratar maleitas relacionadas com álcool ou doenças sexualmente transmissíveis. Alguns recusam-se a tratar qualquer mulher e ponto final.

Segundo alegam, o fundamento da objecção é religioso. Parece que Alá não aprecia pessoas que bebem, fornicam ou integram o sector feminino da espécie. Em consequência, é dever do crente deixá-las a agonizar sozinhas. Alá, diga-se, está no seu direito. Por outro lado, as sociedades que espantosamente ignoram o Alcorão também estão no direito de questionar a utilidade de um médico que não atende a maioria dos seus potenciais pacientes. Dado que, em princípio, os quadros da Texaco não incluem dirigentes do Greenpeace e a equipa do Real Madrid não emprega deficientes motores, é polémico que o sistema de saúde britânico pague a formação de clínicos transtornados. E que, em certos casos, a iniciativa privada ainda promova o transtorno: as cadeias de lojas Sainsbury e Boots acederam a que os seus farmacêuticos muçulmanos se abstenham de vender a pílula do dia seguinte por motivos "éticos".

A hospitalidade e o interesse pelo "outro" são coisas lindas. Infelizmente, tendem também a ser fenómenos de via única: "nós" gostamos "deles"; com frequência, "eles" não gostam de "nós". A evolução civilizacional que permite a tolerância, a abertura, a racionalidade e, aliás, o conhecimento reflectido nos Nobel técnicos é a mesma que acolhe os seus maiores inimigos com entusiasmo. Umas dúzias de episódios têm demonstrado que talvez fosse útil moderá-lo. Como diz o colunista canadiano Mark Steyn, é chato que o multiculturalismo seja bastante unilateral. Chato e perigoso.
"

Alberto Gonçalves

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