'STAND-UP COMEDY'
"Convenço-me de que só há pobreza no mundo porque os processos de a combater impõem rigorosa burocracia. Um sujeito que saiu do sofá entre as noites de terça e quarta-feira contribuiu para a iniciativa "Levanta-te contra a pobreza" ou simplesmente foi comprar cigarros? Eu, por exemplo, levantei-me no período em questão 87 vezes e se calhar não salvei vida nenhuma. Pelos vistos, a eficácia do gesto dependia da inscrição num "site", do uso de uma faixa branca e de gritar em simultâneo uma mensagem sentida. Julgo que também servia cantar em frente ao Parlamento ou deitar-me na Cidade Universitária. Segundo percebi posteriormente, sem o cumprimento desses preceitos era inviável conquistar um lugar no Guiness Book e, não esquecer, erradicar a miséria.
Não haverá maneira de simplificar os requisitos dessa erradicação? Se, conforme está estatisticamente provado, basta às pessoas porem-se de pé e berrarem para que os pobres da Terra ascendam à prosperidade, contabilizar as reacções de um mero estádio aos erros do árbitro resgataria da indigência metade da Libéria.
Infelizmente, insiste-se em desperdiçar os recursos disponíveis, o que perpetua a penúria de milhões e, pior, abre caminho a toda a sorte de crendices. Por incrível que pareça, em pleno século XXI ainda existem lunáticos que prescrevem aos países menos abonados ridículas mezinhas: abertura aos mercados, concorrência, iniciativa privada, liberalização das trocas, redução da corrupção, produtividade, crescimento económico e, em suma, as diversas encarnações do capitalismo globalizado, selvagem e irracional.
É tempo de dizer chega às crendices. É igualmente tempo de aproveitar o esforço de inúmeras criaturas que se levantam a cada instante, sem data marcada e sem regras apertadas, na garantia de que um bocadinho da pobreza é erradicado sempre que um homo sapiens regressa à posição que o celebrizou. Ou vamos esperar que a pobreza desapareça, digamos, por milagre? Nesse caso, mais vale esperarmos sentados."
Alberto Gonçalves
Não haverá maneira de simplificar os requisitos dessa erradicação? Se, conforme está estatisticamente provado, basta às pessoas porem-se de pé e berrarem para que os pobres da Terra ascendam à prosperidade, contabilizar as reacções de um mero estádio aos erros do árbitro resgataria da indigência metade da Libéria.
Infelizmente, insiste-se em desperdiçar os recursos disponíveis, o que perpetua a penúria de milhões e, pior, abre caminho a toda a sorte de crendices. Por incrível que pareça, em pleno século XXI ainda existem lunáticos que prescrevem aos países menos abonados ridículas mezinhas: abertura aos mercados, concorrência, iniciativa privada, liberalização das trocas, redução da corrupção, produtividade, crescimento económico e, em suma, as diversas encarnações do capitalismo globalizado, selvagem e irracional.
É tempo de dizer chega às crendices. É igualmente tempo de aproveitar o esforço de inúmeras criaturas que se levantam a cada instante, sem data marcada e sem regras apertadas, na garantia de que um bocadinho da pobreza é erradicado sempre que um homo sapiens regressa à posição que o celebrizou. Ou vamos esperar que a pobreza desapareça, digamos, por milagre? Nesse caso, mais vale esperarmos sentados."
Alberto Gonçalves
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