O número mágico.
"Os verdadeiros segredos do Ministério da Defesa estão a coberto de qualquer imprevidência, porque, na verdade, nem sequer por lá passam. O número 61 893, está visto, é mágico. Pois só isso pode explicar a estranha apatia que se apossou do País face às ‘explicações’ dadas por Portas à notícia de primeira página do último ‘Expresso’. ‘Explicações’ dadas, o natural seria que imitássemos o rei Juan Carlos e perguntássemos a Portas “ por que não te calas ?” Mas não. Calámo-nos todos. Por coincidência (que só o diabo saberá explicar) 61 893 é o número total de notas que o ex-ministro e dirigente partidário tomou em cerca de sete anos. Em que, sabe-se agora, não fez absolutamente mais nada do que escrever notas, esfalfando-se, dia e noite, nessa esgotante tarefa. Ainda por mera coincidência (e só isso, evidentemente) é também o número de documentos que o ex-ministro da Defesa mandou digitalizar à pressa antes de lhe tirarem a cadeira ministerial. É um número espantoso. Graças à energia que irradia ninguém quer saber por que é que só agora, denunciada a marosca, o ex-ministro confessou a bizarra iniciativa. Que, afinal, muitos outros ex-ministros acham ‘normal’ (não vá o diabo tecê-las) e outros confessam ter imitado. 61 893 tem poderes únicos. Graças à sua magia não houve força pública ou poder de Estado que se preocupasse com tão apressada digitalização nem com o seu secretismo.
Ninguém perguntou a Portas por que se não limitou a levar as suas notas ou a digitalizá-las em casa. Ninguém pediu ao ex-ministro que disponibilizasse o produto da sua obra para que fosse comparado com os documentos que ficaram no ministério. Que esclarecesse se o fez à revelia do primeiro-ministro ou com o seu superior conhecimento e consentimento. Se o fez para bem da pátria ou como seguro de vida, para poder fazer trocas com os seus inimigos políticos. Ninguém foi ao MD ver se por lá havia 61 893 páginas de notas de Portas. Bem sabemos que os segredos do nosso Ministério da Defesa (se excluirmos os processos de aquisição de submarinos, aeronaves e outro material sofisticado cujos valores se cifram em muitos milhões) são segredos de Polichinelo. Não há quem os queira comprar. Nem espiões que possam ganhar a vida vendendo-os. Nunca inventámos armas secretas. Somos parceiros humildes e obedientes de quem, esporadicamente, nos pede que engros- semos uma qualquer estatística.
Não temos guerras desde que as colónias se tornaram independentes. Enfeitamos as guerras dos outros, sempre com a bota a luzir e os metais a brilhar, o orgulho e galhardia do pobrezinho que não tem mais nada para oferecer. Os verdadeiros segredos do Ministério da Defesa estão a coberto de qualquer imprevidência, porque, na verdade, nem sequer por lá passam. Estão blindados por lóbis, bancos e offshores. Sem amadorismos. Nos circuitos oficiais tudo está formalmente perfeito. Por isso, a questão da fantástica resma de papel com 61 893 folhas é apenas mais um sinal do nosso desavergonhado miserabilismo ético-político. Um país onde qualquer fugaz passante por um gabinete ministerial pode digitalizar milhares de documentos sem a indignação vigorosa e uníssona de toda a nação, sem uma investigação oficial séria e exaustiva do que se passou, não passa de um gigantesco teatro do burlesco.
PS – A Ordem dos Médicos deu ao burocrata da saúde Correia de Campos uma deliciosa nega. Mais um aborto que ele encaixa..."
João Marques dos Santos
Ninguém perguntou a Portas por que se não limitou a levar as suas notas ou a digitalizá-las em casa. Ninguém pediu ao ex-ministro que disponibilizasse o produto da sua obra para que fosse comparado com os documentos que ficaram no ministério. Que esclarecesse se o fez à revelia do primeiro-ministro ou com o seu superior conhecimento e consentimento. Se o fez para bem da pátria ou como seguro de vida, para poder fazer trocas com os seus inimigos políticos. Ninguém foi ao MD ver se por lá havia 61 893 páginas de notas de Portas. Bem sabemos que os segredos do nosso Ministério da Defesa (se excluirmos os processos de aquisição de submarinos, aeronaves e outro material sofisticado cujos valores se cifram em muitos milhões) são segredos de Polichinelo. Não há quem os queira comprar. Nem espiões que possam ganhar a vida vendendo-os. Nunca inventámos armas secretas. Somos parceiros humildes e obedientes de quem, esporadicamente, nos pede que engros- semos uma qualquer estatística.
Não temos guerras desde que as colónias se tornaram independentes. Enfeitamos as guerras dos outros, sempre com a bota a luzir e os metais a brilhar, o orgulho e galhardia do pobrezinho que não tem mais nada para oferecer. Os verdadeiros segredos do Ministério da Defesa estão a coberto de qualquer imprevidência, porque, na verdade, nem sequer por lá passam. Estão blindados por lóbis, bancos e offshores. Sem amadorismos. Nos circuitos oficiais tudo está formalmente perfeito. Por isso, a questão da fantástica resma de papel com 61 893 folhas é apenas mais um sinal do nosso desavergonhado miserabilismo ético-político. Um país onde qualquer fugaz passante por um gabinete ministerial pode digitalizar milhares de documentos sem a indignação vigorosa e uníssona de toda a nação, sem uma investigação oficial séria e exaustiva do que se passou, não passa de um gigantesco teatro do burlesco.
PS – A Ordem dos Médicos deu ao burocrata da saúde Correia de Campos uma deliciosa nega. Mais um aborto que ele encaixa..."
João Marques dos Santos
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