O falhanço do Governo?

"Portugal já é mais pobre do que a Estónia.

Ainda há poucos anos a corrida era com os gregos e os portugueses estiveram à frente. Essa competição está perdida, a seguir foi a República Checa, Malta e agora até a Estónia já passou Portugal. Os últimos dados da Comissão Europeia ilustram a cores garridas uma triste realidade: os portugueses caminham a passos largos para serem os mais pobres da Europa.

Os números de Bruxelas referem-se ao PIB ‘per capita’ em paridades de poder de compra, o que mede a riqueza de cada habitante de um país, já tendo em conta as diferenças de nível de vida nos vários Estados. A tendência prova a falência do modelo económico nacional. Em 2000, o nível médio de riqueza de cada português correspondia a 73% da média europeia. Em 2009, quase uma década depois, o mesmo indicador estará em 65,5%. É preciso recuar até 1990 para encontrar um nível semelhante. Ou seja, em vinte anos, os portugueses não saíram do mesmo sítio.

Como é que a economia portuguesa chegou a esta situação? Todos sabem. Os diagnósticos estão feitos. Resultou de um conjunto de erros de política económica por parte dos vários Governos e da enorme incapacidade dos empresários, trabalhadores e sindicatos. O grande problema esteve sempre na produtividade. Ou na falta dela. Resultado: custos de produção elevados hipotecaram a competitividade externa da economia. Com a entrada no euro, ainda houve o balão de oxigénio da baixa dos juros. Mas serviu apenas para provocar o endividamento elevado de famílias e empresas.

Portanto, o importante é olhar o futuro e pensar na forma de resolver o problema. E não há milagres. É preciso trabalhar mais e melhor. Só assim se resolve o problema da produtividade. Para isto, é necessário um esforço dos empresários para implementarem melhores práticas de gestão nas empresas. O Estado tem que se juntar a este esforço e diminuir os obstáculos ao funcionamento da economia, na Administração Pública, na educação, na justiça, no sistema fiscal e nas leis laborais.

Isto é um programa de Governo. E foi o que José Sócrates apresentou ao país. Muitas reformas. Nos primeiros dois anos do mandato foi reconhecido o seu empenhamento nas mudanças. Ainda assim, os números da Comissão Europeia têm uma leitura óbvia. Não está a resultar. O Governo Sócrates é um aparente fracasso. Em 2005, o PIB ‘per capita’ português foi de 65,8% da média europeia. Quatro anos depois, caiu três décimas. Perante isto, é estranho ver o Executivo anunciar o fim da crise e fazer a festa com uma subida de 2% do produto. O pior cego é o que não quer ver. Não vale a pena negar os problemas. "

Bruno Proença