quinta-feira, novembro 15, 2007

MICHAEL MOORE NÃO FILMA NA FINLÂNDIA

"Após um rapaz "inadaptado" matar oito pessoas numa escola finlandesa, fiquei à espera das reacções inflamadas. Felizmente, esperei sentado. Embora a Finlândia tenha uma das mais altas taxas de suicídios da Terra, que eu notasse ninguém entre nós a proclamou uma sociedade "doente" ou "anómica". Embora seja uma das nações ocidentais com maior criminalidade, ninguém explicou que os seus cidadãos possuem uma propensão inata para a violência. Embora se destaque na Europa em matéria de homicídios, ninguém invocou a "cultura de morte". Embora ocupe o terceiro lugar mundial em número de armas per capita, ninguém apelou ao respectivo controlo. Embora revele uma imensa tolerância penal, ninguém imputou às autoridades indígenas a responsabilidade pela tragédia. Se uma desgraça do género acontece nos Estados Unidos, o caso é "estrutural" e pasto para sociólogos, politólogos e historiadores histéricos. Se acontece por exemplo na Finlândia, é um incidente isolado, um acto de loucura a pedir discrição e pesar. Compreende-se. Quase tudo, dos massacres escolares aos furacões, do ódio islâmico às unhas encravadas, é pretexto para denunciar jovialmente a malévola natureza dos EUA. Quando não se arranja pretexto, impõe-se cuidado. Ou, em se tratando da Finlândia e das escolas da Finlândia, mil cuidados: seria desagradável tecer generalizações negativas sobre um país que, ao menos na retórica, serve de modelo social ao eng. Sócrates e de modelo educativo ao dr. Louçã. Donde um finlandês aos tiros nos arredores de Helsínquia passar por louco e um coreano aos tiros na Virgínia constituir um infeliz produto do meio. Só as vítimas de ambos não deram pela diferença."

Alberto Gonçalves

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