segunda-feira, dezembro 10, 2007

No reino da hipocrisia

"José Manuel Durão Barroso dizia, há dias que, por força do seu cargo de presidente da UE, tem de se relacionar com pessoas com as quais a sua mãe não gostaria de o ver. Durão falava de África, de Mugabe e do Zimbábue. Durão falava de Mugabe, mas podia perfeitamente dizer o mesmo (quereria?) de Bush ou de Putin. A questão é que a política de hoje não é comandada por princípios mas pelo dinheiro, pelos negócios. Qualquer pessoa filha de famílias com um mínimo de princípios - para seguir a lógica de Durão Barroso - concordará que a cimeira UE-África reuniu em Lisboa alguma da fina-flor da ralé da política internacional, tornando a nossa capital, por estes dias, um dos lugares mais mal frequentados do mundo, como escreveu com graça Manuel António Pina neste mesmo jornal.

No reino da hipocrisia que é a política, os sorrisos e apertos de mão trocados em Lisboa foram francos e sinceros. Tão francos e sinceros como se tivessem sido trocados pelo senhor Brown, o político inglês que, por ficar em casa, não merece o estatuto de mais sério do que os outros, porque não faltam exemplos na política britânica da mesma hipocrisia. Não se dá ele e todos os outros com a China, por razões sobejamente conhecidas? E as mãezinhas deles, aprovarão? Enfim, na Europa, os políticos europeus gostam de se dar ares de bons princípios. À luz do Ocidente, são capazes de ser melhores. Mas nem por isso têm bons princípios. Olhe- -se para o recente inquérito europeu - repito, europeu -, promovido por uma ONG, que concluiu que partidos políticos, parlamentos e tribunais são os organismos mais corruptos. O que fica de fora deste polvo? Que dirão as nossas mães do mundo que estamos a construir?
"

José Leite

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