O CLIMA, ESSE FACTOR DE ATRACÇÃO
"É irónico que Portugal lance uma campanha para melhorar a sua "imagem" na Europa no dia em que recebe altos dignitários europeus com a incompreensível arte e a incompreensível voz de Dulce Pontes. Perante os extravagantes ruídos da senhora, que emprestaram à cerimónia do Tratado um toque surreal, não há campanha que valha nem "imagem" que resista.
São infelicidades assim que dão má fama ao país e permanentemente o impedem de cair nas graças alheias. Não só na Europa: toda a gente viu a angústia dos clandestinos desaguados no Algarve. "Portugal?", repetiam, "Não, não, nós queríamos ir para Espanha. Espanha!" E concluíam, a cabeça baixa: "Não temos sorte nenhuma..." Não sei se lamentavam mais o facto de terem sido apanhados ou o facto de terem vindo parar aqui. E quando uns desgraçados que martelavam bronze em Fez ou contemplavam paredes em Rabat tentam evitar, a desumano custo, um futuro entre nós, o nosso futuro não promete.
Em caso de dúvida, basta atentar nos dados estatísticos que diariamente nos colocam nos fundilhos do mundo civilizado. Segundo o Eurostat, o poder de compra caseiro voltou a cair e a afastar-se da média da UE (actualmente, é inferior ao da República Checa, Malta, Chipre e Eslovénia e metade do da Irlanda). Segundo o Fórum Económico Mundial, ocupamos o 40º lugar em competitividade. Segundo o QREN (o relatório sobre coesão económica e social), somos um dos raros países da UE onde o emprego não evita a pobreza. Segundo a empresa de sondagens GfK Metris, somos os mais pessimistas da Europa quanto à evolução económica. Etc.
É possível que os marroquinos conheçam a informação acima, e isso explica o desespero com que imigrantes famintos fogem da hipótese portuguesa na hora de arriscar nova vida. Ou então sucede apenas que os marroquinos já ouviram Dulce Pontes. De uma forma ou de outra, os responsáveis do SEF garantem que o desembarque no Algarve foi "um caso isolado e pontual" provocado pelas "condições climatéricas". E não há nada que os possa desmentir. "
Alberto Gonçalves
São infelicidades assim que dão má fama ao país e permanentemente o impedem de cair nas graças alheias. Não só na Europa: toda a gente viu a angústia dos clandestinos desaguados no Algarve. "Portugal?", repetiam, "Não, não, nós queríamos ir para Espanha. Espanha!" E concluíam, a cabeça baixa: "Não temos sorte nenhuma..." Não sei se lamentavam mais o facto de terem sido apanhados ou o facto de terem vindo parar aqui. E quando uns desgraçados que martelavam bronze em Fez ou contemplavam paredes em Rabat tentam evitar, a desumano custo, um futuro entre nós, o nosso futuro não promete.
Em caso de dúvida, basta atentar nos dados estatísticos que diariamente nos colocam nos fundilhos do mundo civilizado. Segundo o Eurostat, o poder de compra caseiro voltou a cair e a afastar-se da média da UE (actualmente, é inferior ao da República Checa, Malta, Chipre e Eslovénia e metade do da Irlanda). Segundo o Fórum Económico Mundial, ocupamos o 40º lugar em competitividade. Segundo o QREN (o relatório sobre coesão económica e social), somos um dos raros países da UE onde o emprego não evita a pobreza. Segundo a empresa de sondagens GfK Metris, somos os mais pessimistas da Europa quanto à evolução económica. Etc.
É possível que os marroquinos conheçam a informação acima, e isso explica o desespero com que imigrantes famintos fogem da hipótese portuguesa na hora de arriscar nova vida. Ou então sucede apenas que os marroquinos já ouviram Dulce Pontes. De uma forma ou de outra, os responsáveis do SEF garantem que o desembarque no Algarve foi "um caso isolado e pontual" provocado pelas "condições climatéricas". E não há nada que os possa desmentir. "
Alberto Gonçalves
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