sexta-feira, janeiro 25, 2008

Os bodes, os ursos e os camelos

Fraude gigante na banca francesa gera temor e tremor
Banqueiros e empresários que participam no Fórum Económico Mundial em Davos manifestaram hoje a sua surpresa e espanto perante os excessos que permitiram que um operador no banco francês Société Générale tenha perdido quase € 5 000 milhões através de uma possível fraude.
Os banqueiros mais veteranos receberam a notícia com consternação.
Um dos líderes da banca de investimento de um dos principais grupos europeus, em declarações à Reuters disse ”que há algo de errado com a Banca. Já não há uma cultura bancária, há uma cultura de ‘Prima Donnas’.
O que todos querem é poder, querem tudo cada vez maior e mais depressa (…) é tudo sobre estes grandes gigantes que deram um passo maior do que as pernas”.
Um dos goverandores dos principais bancos centrais do mundo foi citado pela Reuters com a afirmação:
“Eles [Société Générale] disseram que foi um único operador! É impossível! Será que eles nunca ouviram falar de sistemas de controlo de riscos?”.
O director executivo do banco italiano Sanpaolo, Corrado Passera, afirmou que o escândalo “danifica ainda mais a imagem da Banca, quado as pessoas já estão desconfiadas com o sector”.

Fora do sector financeiro, um dos líderes de uma holding disse à Reuters, cujo nome foi mantido anónimo, foi implacável ao afirmar que os banqueiros podem ser considerados como uns “sacanas gananciosos”.
“Aqueles que operam na economia real estão no terreno, a gerir fábricas, logística e entregas de produtos. Eles [os banqueiros] só estão atrás de juros e maiores lucros”, disse.

Heinrich Hiesinger, director industrial da Siemens, destacou que os recentes fiascos da Banca estão a afectar a confiança na economia em geral. “Nós pensávamos que os sistemas de risco deles [da banca] estavam mais sob controlo (…) se a confiança saiu do mercado, então os nossos clientes poderão manter-se afastados”, receia Hiesinger.
Para líderes empresariais de outros sectores, as notícias da fraude na “Société Générale” foram motivo para comentários de escárnio e mal-dizer.
Fonte: Diário Económico

Sobre um artigo ;”O tremor e o temor”, se não estou em erro,em que se falava que de facto as bolsas e os operadores, a grande maioria deles, se comportavam como os jogadores num casino, porque não sabiam o valor do dinheiro.O artigo escandalizou e abespinhou um comentador de nome Oliveira, penso que até haverá vários Oliveiras, como comentadores, mas isso é coisa de somenos e respeitável.
O Senhor Oliveira, comentador que nos ensina a todos que nada sabemos, nem percebemos do mundo nebuloso do mercado financeiro bolsista, veio então dar-nos uma sessão de liturgia sobre semantismo.
No dicionário de sinónimos da Porto Editora, na sua 2ª Edição, procurando a palavra investir:acometer; afrontar;arremeter; assaltar;atacar;avançar; bloquear;carregar; cercar; combater; cometer; empossar;empregar; encavacar; envolver; esbarrondar; invadir; motejar; troçar; zombar, arremessar-se; arrojar-se; atirar-se; voltar-se.
O Senhor Oliveira poderá decerto dizer-nos o que aconteceu no BCP?Poderá dizer-nos o que aconteceu na CGD?
Então as entidades reguladoras devem criar regulamentos num mercado que deve funcionar segundo as leis do mercado e as entidades reguladoras regulam o quê, o caos?
O caso Enron não se percebe se disse se foi um caso selvático ou se a entidade reguladora funcionou.
Ao que parece o Senhor Oliveira faz parte do grupo de iluminados que há meses diziam que não havia bolha imobiliária e que a crise subprime não iria afectar os mercados e ainda menos a economia real. Pode ser que o que parece o não seja…
O problema do Senhor Oliveira é que não sabe explicar como é que uma figura de boina sabe tanto de bolsa e nem falar sabe e provavelmente até é capaz de lhe dar ordens. Espero sinceramente que não.Faz-me lembrar uma figura da católica que tanto tem falado e que tem virado tanto o prego que deve estar a partir-se de tão quente.Ficámos então esclarecidos que os pequenos investidores do BCP são os ursos e os outros os Oliveiras.
Presume-se, sem presunção no meio desta miséria...

As gerações de gente que está à frente das grandes empresas e que ganham salários impensáveis e hoje muito criticados, ou cortados, como nos casos das empresas que sofreram já grandes rombos com a crise sub prime, essa gente nunca soube o valor do dinheiro e substituiram pessoas que passaram e viram o que uma guerra a nível mundial pode fazer ao tecido social e económico, tendo diferente noção do mercado de capitais, de dinheiro…, dinheiro verdadeiro…
Hoje as transacções fazem-se por via informática e cada vez menos se usa dinheiro e mesmo esse, o que circula, corresponderá a que valor do Produto Mundial?
Sem exagerar, as reservas em ouro existentes em todo o mundo e as que ainda estão por retirar das entranhas corresponderão a uma ínfima parte.
Estas mais todas as outras riquezas e bens transacionáveis corresponderão a cerca de 10% do papel em circulação, provavelmente muito menos ainda. Será exagero? Pois cada um pense como quiser.
Assim chega-se a um ponto em que se há falta de liquidez colocam-se as rotativas a gerar papel moeda. Injecta-se soro num sangue anémico, até ao limite em que os glóbulos vermelhos não podem ter função, tornando o organismo agónico por falência geral dos sistemas, se não entrarem glóbulos vermelhos no sistema. Aqui, como no resto, a mentira não pode ser adiada.
O funcionamento dos mercados globais de obrigações reduz ou retira dos mercados sociais mundiais muita da liberdade que os seus governos tinham no passado para executar políticas em contraciclo.
Eles forçam esses governos a voltar a uma situação pré – keynesiana, na qual dispunham de poucas medidas eficientes de gestão macroeconómica para controlar a economia. Esses governos estão condenados a aguardar pelo fim das depressões cíclicas da actividade económica – sejam quais forem os seus custos sociais e económicos.
“Ao penalizarem os governos que tentam estimular a actividade económica pelo endividamento ou pela realização de obras públicas, os mercados forçam-nos a voltar ao combate à recessão através doexpediente deflacionário desastroso dos cortes orçamentais.. Assim, os mercados mundiais de obrigações imitam o padrão ouro. Mas fazem-no sem replicar o seu carácter semi-automático, que conferia um certo grau de estabilidade às economias que governava. Os mercados mundiais de obrigações operam num contexto de incertezas que tornam as variações abruptas provocadas pela especulação inevitáveis.
Os mecanismos do padrão ouro foram substituidos pelas regras de um casino.” John Gray in False Dawn.

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