Os secularistas evangélicos
Obrigado aos "sábios" de Roma
23.01.2008, Rui Ramos
No dia em que não pudermos ouvir Bento XVI, seremos mais obscurantistas e menos livres.
Há dias que quase toda a gente os anda a condenar.
Parece-me que chegou a altura de lhes agradecer.
Falo dos "sábios" que a semana passada, guiados por um velho estalinista e apoiados pela polícia de choque da "antiglobalização", dissuadiram o Papa de visitar a Universidade "La Sapienza" de Roma.
No fim, deram-nos a todos um pretexto para rever matéria sobre teoria e história da tolerância. Não era esse o objectivo? Foi esse o efeito. E permitam-me que também aproveite a boleia. Quem sabe? Talvez os "sábios" tenham aprendido alguma coisa e não nos proporcionem tão cedo outra oportunidade.
Parece que há gente, na Europa, a quem as religiões voltaram a meter medo.
Depois do 11 de Setembro, a religião tomou o lugar que o nacionalismo tinha no tempo da guerra da Jugoslávia.
Não havia então semana sem mais um livro a denunciar o perigo do nacionalismo, a desconstruir o seu insidioso apelo, e a examinar as suas sinistras raízes.
Agora, é a vez da fé em Deus.
Subitamente, vemos andar novamente por aí as velhas casacas e chapéus de coco do anticlericalismo.
Acontece que, em vez de marcharem contra o jihadistas, ei-los a avançar contra as igrejas cristãs, e especialmente contra a católica.
Enganaram-se de século?
É por hábito? Ou dá-lhes mais jeito mostrar contra o Papa a coragem que lhes falta perante os jihadistas?
Pois: morrer pelas ideias, mas de morte lenta.
Sim, na Europa, até ao século XIX, as igrejas de Estado resistiram ao pluralismo e à sua expressão.
Mas a intolerância e a perseguição que milhões de europeus sofreram nos últimos duzentos anos não se ficaram a dever às religiões tradicionais, mas às modernas ideologias laicas.
Os deuses dos que não acreditam em Deus foram sempre os mais sedentos.
Em nome do Ente Supremo, da ciência ou do racismo pagão, republicanos jacobinos, marxistas-leninistas e fascistas "moralizaram", proibiram e abasteceram largamente cemitérios e valas comuns.
Os que prezam a liberdade de "errar" (e não apenas a de pensar "correctamente") têm uma dívida para com quem criticou os velhos dogmas, como Voltaire, mas também para com quem resistiu aos novos, como João Paulo II.
Neste mundo, a liberdade de pensamento não tem pais exclusivos.
O fundamentalismo laicista trata toda a convicção religiosa como o vestígio absurdo de uma idade arcaica, intolerável fora do espaço privado.
Mas a fé não é fácil, não é uma opção primitiva nem simplesmente um preconceito.
Ou antes: pode ser tudo isso, mas pode também corresponder à mais forte exigência intelectual e à disponibilidade para enfrentar profundamente as mais difíceis de todas as dúvidas.
Exactamente, aliás, como o ateísmo: há quem o viva como um dogma beato, muito contente consigo próprio, ou quem o tenha adoptado como a forma mais conveniente de não pensar.
Muitos são hoje ateus pelas mesmas razões por que teriam sido beatos no século XVII.
E se mandam calar Bento XVI é porque, há quatro séculos, teriam mandado calar Galileu.
As campanhas contra a religião como um óbice à concórdia e à modernidade erram frequentemente de alvo.
A Irlanda e a Palestina são confrontos de nacionalismos com origens seculares.
O jihadismo, como argumentou John Gray, deve tanto ou mais às ideologias laicas europeias do que à tradição islâmica.
E na última década, partidos de inspiração religiosa contribuíram muito mais para a modernização e liberdade da Índia e da Turquia do que os seus adversários laicos.
Nos EUA, a religião pertence ao espaço público, sem que o Estado deixe de continuar separado de qualquer igreja.Hoje em dia, é nos crentes que certos princípios fundamentais para a nossa liberdade encontram a voz mais desassombrada.
Por exemplo, a ideia da dignidade e da autonomia da pessoa como limite para experiências políticas e sociais. Numa cultura intoxicada pela hubris da ciência e das ideologias modernas, certas religiões conservaram, melhor do que outros sistemas, a consciência e o escrúpulo dos limites.
O mesmo se poderia dizer da questão da verdade, que a ciência pós-moderna negou, sem se importar de reduzir o debate intelectual ao choque animalesco de subjectividades.
Não, não é preciso fé para perceber que das religiões reveladas (e doutras tradições de iniciação espiritual) depende largamente a infra-estrutura de convicções e sentimentos que sustenta a nossa vida.
O seu silenciamento no espaço público não seria um ganho, mas uma perda.
No dia em que não pudermos ouvir Bento XVI, seremos mais obscurantistas e menos livres. Obrigado aos "sábios" de Roma por nos terem dado ocasião para lembrar isto. Historiador
17 Comments:
Sempre existiu um "hooliganismo" religioso e ideológico.Acontece que agora os individuos que eventualmente não falam com os vizinhos do condómino,ou com os colegas na grande empresa,encontram cimento na relação como "grupo".O individualismo e o "clube".Daí ,a quererem impõr a sua "moral" aos outros vai um passo.Tambem aqui o hábito não faz o monge( e o diabo veste Prada..)
Temas difíceis no primeiro ano do Papa
Tensão diplomática com Israel e um sinal para o mundo islâmico
Em Julho de 2005, a condenação do Papa aos ataques terroristas no Egipto e Iraque, entre outros, foi mal recebida por Israel, que criticou a sua omissão da lista. O Vaticano justificou-se, mas o esquecimento foi visto como um sinal deliberado para o mundo islâmico.
Homossexualidade e escândalos na Igreja americana
Em Agosto do mesmo ano, o Observeur tornava pública uma instrução do Vaticano para banir do sacerdócio os padres com opções homossexuais. O documento foi uma resposta aos escândalo de abusos sexuais na igreja americana, mas não era assinado pelo Papa.
Sacerdócio da mulher e o celibato obrigatório para os padres
O novo Papa manteve a intransigência teológica em matérias centrais como o sacerdócio da mulher e o celibato obrigatório. Esperava-se que o Sínodo dos bispos, em Outubro último, reflectisse sobre estes e outros temas. No final, manteve-se a doutrina.
Nova encíclica deixa de fora grandes temas da humanidade
Elogiada por uns, criticada por outros, a nova encíclica Deus caritas est reflecte sobre a corporalidade da fé, mas deixa de fora outros grandes problemas da humanidade. Para os críticos, as mensagens de paz e de fraternidade são insuficientes face aos actuais desafios.
Cortes administrativos no primeiro ano de Pontificado
A reforma do Vaticano tem passado pela redução e fusão dos serviços. No primeiro ano, por exemplo, o conselho de diálogo com as religiões não-cristâs foi integrado no conselho cultural. As alterações finais ao desenho organizativo do Vaticano só serão conhecidas no final do ano.
Lisfa de pecados do Vaticano inclui televisão e rádio.
Passar demasiado tempo a ler jornais, ver televisão ou a navegar na Internet pode ser considerado pecado com a obrigatoriedade de ser confessado. Na nova lista, o Vaticano acrescentou à lista anterior estes novos pecados, que devem ser alvo de penitência.
Mas será verdade afirmar que a maioria dos portugueses serão catolicos?? Tenho imensas duvidas da veracidade da afirmação. Qual teria sido a fonte dessa sondagem ?? É que não ser catolico não traz mal ao Mundo !!Os homens bons estão em toda a parte ,independente de suas crenças religiosas ou politicas!!
Este papa, que fazia a saudação nazi, vem agora argumentar sobre fátima.
Talvez se tenha referido à Fátima Felgueiras, aquela mulher do Norte, que sem armas, desarmou a PJ portuguesa e as politiquices dos partidos.
É esse herói, que vem falar de "nóis"
Valha-nos os nossos pastores, para detectar fogos e que não tenham visões ... !!!!
A Igreja que quer tanto que as pessoas não se afastem de Deus, deveria adaptar-se ás novas realidades da sociedade.
Para batizar o meu filho tive que mentir acerca dos padrinhos e baptiza~lo numa paróquia diferente apenas devido ao facto dos padrinhos não serem casados pela Igreja embora fossem casados. Afinal o que é importante? o Baptismo da criança ou o facto de os padrinhos serem criminosos aos olhos da Igreja. Jesus não perdoou Judas?, Não era tolerante? Ó Igreja para Deus o que é mais importante? O Baptismo? ou o casamento dos padrinhos do Baptizado? Eu acho qeu a Igraja é que se está a afastar das Verdadeiras Leis de Deus e a dar importância ao superficial...
Falar de uma coisa que não se conhece e não se vive... só pode resultar em opiniões sem fundamento.
Falar assim de um homem extraordinário como é o Papa, como se ele fosse igual aos politicozecos que andam por aí... é grosseira estultícia, reveladora de profunda ignorância.
Para se entender o que é a Igreja de Cristo é preciso ir mais além. A Fé não se explica - vive-se. Às vezes é a vida que nos leva à Fé e ao encontro de Nosso Senhor.
Como uma grande parte dos fieis está de coltas voltadas para a igreja... o papa fez o mesmo...
Na realidade este era uma dos gestos que faltava para afastar mais alguns católicos...
Contra o uso de preservativos, contra ordenar mulheres, contra o casamento dos padres e agora "contra" os fieis!!! (Eu sei que foi só de costas mas assim fica mais poetico).
Peço desculpa por não concordar com o comentador RN, que decerto e democraticamente me entenderá.
O Papa utilizou, apenas, um tipo de celebração baseado na Tradição. Isso tem o significado não de ofensa aos fiéis mas sim de respeito e comparticipação na celebração da sagrada missa!
Como nos tempos primaciais do Cristianismo, isso significa, de acordo com os textos de S.Simeão Evangelista,e cito: "Virado para ti, Senhor, tal como todos os meus Irmãos na Fé!". Ou seja, o celebrante, unindo-se, sendo um, dos que ao Senhor se dirigem, modesta e ardentemente, celebra com eles a sua Crença.
Não tem, pois, nada de soberbo, antes de humilde, esse gesto: o celebrante é um igual dos que o rodeiam nesse sacramento, é um do colectivo, da Irmandade cristã. Não fala de cátedra para os que o ouvem em baixo, mas é um mais dos participantes em uníssono, dirigindo-se ao Salvador.
Bento XVI, que é um Papa que não se tem furtado a exautorar os que tentam prejudicar o Homem mediante a ambição e a brutalidade materialista, filha do capitalismo selvagem e das mafias de leste e doutros lugares de dor, apenas tenta sem sobranceria preservar a tradição límpida, não o fanatismo.
Este o sgnificado do seu gesto, como nos primórdios, de puro cristianismo, se fazia.
"Bento XVI de costas voltadas para os fiéis", isto é novidade?! Ele limitou-se a provar por um gesto prático o que em termos de fé e atitudes já dava a entender... a Teologia não é de todo o meu forte, mas há que aproximar Cristo dos cidadãos, e só o conseguirão quando fizerem uma reforma a fundo na Igreja. Quando acabarem c as intriguinhas de paróquia, com as "ratas de sacristia", com as benesses ilimitadas de quem se diz servidor de Deus e prega a caridade enquanto vive à grande e à francesa (desculpem, à italiana, que os sapatos do Sumo Pontífice são Prada...), quando instituírem um catecismo fiel à pregação de Jesus mas voltado para as grandes causas do nosso tempo. Ora, deixem-se de coisas!
Sempre pensei que Cristo tivesse vindo, também, para quebrar a(s) tradição(ões). O altar a Deus está dentro de cada um; não há como virar as costas a Deus e ali. Esta atitude, que a tome ele nos seus aposentos. Ele é o pastor, e como tal, não pode estar de costas voltas para o seu rebanho.
Claro que é o pastor de todo um rebanho universal. Por acaso e apenas por acaso, um PASTOR ALEMÃO
Depois de vários Papas após o Concílio Vaticano II, terem tentado aproximar os católicos das celebrações e do clero, atingindo o seu auge com o saudoso João Paulo II, eis que aparece este Papa a tentar andar com tudo para trás, porque não é só nisto... O mundo pula e avança e a Igreja ou faz o mesmo e vai de encontro às necessidades das pessoas e está ao lado delas, ou sujeita-se a ficar para trás.
Que saudades de João Paulo II.
Ás vezes, devia estar caladito este Papa, e deixar-se ficar numa das inúmeras e sumptuosas salas, do riquíssimo palácio onde vive. Devia depois pedir a um dos muitos empregados que a toda a hora o servem,...um copo de água para lhe refrescar as ideias e o ajudar a ter a sensatez de saber estar calado...que o "povo" sofre de muitas maleitas, mas já não é o mesmo da época medieval...
Ele é materialista o ano inteiro, mas tem razão.
É preciso descaramento! O responsável pela Igreja Católica mundial, caracterizada secularmente pelo apego ao dinheiro, vir manifestar-se contra o materialismo que rodeia uma festa religiosa, é de facto uma delícia.
E o rosto angélico não lhe fica da cor dos sapatos?
Haja Deus!
Muito bem prega frei Tomás façam como ele diz mas não façam como ele faz.
O nosso tempo está marcado por religiosidade a mais (na pior acepção do termo) e espiritualidade a menos. A religião é um exército poderosíssimo onde se escudam pessoas cujo único objectivo é viver bem. As religiões mais expressivas, albergam uma mole imensa de parasitas e acomodados cuja utilidade para a comunidade é zero. Por vezes ainda exacerbam no povo analfabeto sentimentos de violência e mesquinhez que conduzem às inúmeras confusões a que regularmente assistimos. É curioso que Jesus Cristo (em nome do qual se dizem e fazem tantas asneiras) no seu tempo, atacou de forma impiedosa as religiões e os seus aburguesados e hipócritas representantes. Quem diria...
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