DORMIR SOBRE AS ESTRELAS
"Dez anos após a sala oval, o DN relembra Monica Lewinsky, que de acordo com as notícias leva uma existência relativamente obscura no estado do Oregon. Na verdade, desde o berço que a existência da sra. Lewisnky tendeu para a obscuridade, excepto pelo breve estardalhaço do "caso Clinton". Bill Clinton gostava delas assim, anónimas, sem brilho próprio e, acrescente-se de passagem, sem particulares atributos físicos. Não é uma regra que os seus pares costumem observar.
De Isabel I, a Rainha-Virgem, a Kennedy, o presidente priápico, a história está repleta de romances entre líderes e celebridades à escala do tempo. A primeira engalfinhou-se com diversos vultos da aristocracia; o segundo, com Marilyn Monroe. Se o poder é o maior afrodisíaco, como dizia Kissinger, a frase sempre valeu para os dois lados. A diferença, face aos nossos dias, está na discrição.
Antigamente, os estadistas conquistavam figuras públicas para, desculpem a expressão, consumo privado. Com ou sem adultério, o garrido universo do cinema e das variedades fornecia excelentes exemplares para desfilar na cama, mas não nas manchetes da imprensa. De algum modo, o cidadão médio sonhava com os óbvios atributos de Marilyn, mas não achava que a moça, criada na moralidade duvidosa do espectáculo, fosse material adequado para esposa. E muito menos para consorte de um chefe de Estado, cujos círculos próximos velavam pelo segredo do arranjinho e os jornalistas, quando o conheciam, não o estragavam.
Hoje, a ideia é berrar o arranjinho aos quatro ventos: algures no caminho, a moralidade do espectáculo deixou de suscitar dúvidas. Para sermos rigorosos, transformou- -se na única moral que conta. Há famílias aparentemente respeitáveis que empurram a descendência para castings de telenovelas e agências de modelos, na esperança de que um dia os meninos e as meninas alcancem a última finalidade da espécie: ser famoso. A penúltima é conquistar alguém famoso, proeza que até presidentes perseguem. Veja-se Sarkozy, erguido à glória popular por graça do namoro com Carla Bruni. Em pleno século XXI, como se usa dizer, ninguém supõe que, em consequência de um affaire, uma vedeta dê mau-nome a um estadista: grave é se o estadista dá mau-nome à vedeta.
Foi o que aconteceu quando Naomi Campbell entrevistou Chávez. O mundo ouviu os rumores da alegada paixão mútua e estremeceu de horror, aflito com os estragos na "imagem" da senhora. Note-se que a "imagem" da senhora não sofreu com um currículo de agressões e audiências em tribunal. Dramático é que uma "estrela", imaculada por definição, desça ao (obviamente abjecto) Chávez.
Por sorte, julgo que o alarme foi falso. Se a lerem com atenção, notam que Chávez passou a entrevista a elogiar os próprios músculos e a elegância de Fidel, a roupa de Fidel e a barba de Fidel. É possível que o venezuelano não se impressione com a sra. Campbell, e que as suas preferências amorosas, embora célebres, sejam de diferente género. É uma alternativa também vulgarizada entre anónimos e estadistas, mas que, por enquanto e injustamente, ainda não é propícia à divulgação pública. "
Alberto Gonçalves
De Isabel I, a Rainha-Virgem, a Kennedy, o presidente priápico, a história está repleta de romances entre líderes e celebridades à escala do tempo. A primeira engalfinhou-se com diversos vultos da aristocracia; o segundo, com Marilyn Monroe. Se o poder é o maior afrodisíaco, como dizia Kissinger, a frase sempre valeu para os dois lados. A diferença, face aos nossos dias, está na discrição.
Antigamente, os estadistas conquistavam figuras públicas para, desculpem a expressão, consumo privado. Com ou sem adultério, o garrido universo do cinema e das variedades fornecia excelentes exemplares para desfilar na cama, mas não nas manchetes da imprensa. De algum modo, o cidadão médio sonhava com os óbvios atributos de Marilyn, mas não achava que a moça, criada na moralidade duvidosa do espectáculo, fosse material adequado para esposa. E muito menos para consorte de um chefe de Estado, cujos círculos próximos velavam pelo segredo do arranjinho e os jornalistas, quando o conheciam, não o estragavam.
Hoje, a ideia é berrar o arranjinho aos quatro ventos: algures no caminho, a moralidade do espectáculo deixou de suscitar dúvidas. Para sermos rigorosos, transformou- -se na única moral que conta. Há famílias aparentemente respeitáveis que empurram a descendência para castings de telenovelas e agências de modelos, na esperança de que um dia os meninos e as meninas alcancem a última finalidade da espécie: ser famoso. A penúltima é conquistar alguém famoso, proeza que até presidentes perseguem. Veja-se Sarkozy, erguido à glória popular por graça do namoro com Carla Bruni. Em pleno século XXI, como se usa dizer, ninguém supõe que, em consequência de um affaire, uma vedeta dê mau-nome a um estadista: grave é se o estadista dá mau-nome à vedeta.
Foi o que aconteceu quando Naomi Campbell entrevistou Chávez. O mundo ouviu os rumores da alegada paixão mútua e estremeceu de horror, aflito com os estragos na "imagem" da senhora. Note-se que a "imagem" da senhora não sofreu com um currículo de agressões e audiências em tribunal. Dramático é que uma "estrela", imaculada por definição, desça ao (obviamente abjecto) Chávez.
Por sorte, julgo que o alarme foi falso. Se a lerem com atenção, notam que Chávez passou a entrevista a elogiar os próprios músculos e a elegância de Fidel, a roupa de Fidel e a barba de Fidel. É possível que o venezuelano não se impressione com a sra. Campbell, e que as suas preferências amorosas, embora célebres, sejam de diferente género. É uma alternativa também vulgarizada entre anónimos e estadistas, mas que, por enquanto e injustamente, ainda não é propícia à divulgação pública. "
Alberto Gonçalves
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