terça-feira, janeiro 15, 2008

Às arrecuas é bom!

"A nova forma de fazer política neste sítio passou a ser andar às arrecuas. Está de acordo com o resto, não destoa, fica bem. O ano de 2008 começou mesmo mal. Pelas razões que se conhece em matéria de liberdades individuais e fundamentalismos higiénico-fascistas e também pela extraordinária forma como o Governo superiormente dirigido pelo senhor presidente do Conselho, José Sócrates, atacou diversos temas quentes da agenda política.

Comecemos pelas pensões de reforma de milhões de cidadãos deste sítio cada vez mais pobre, cada vez mais perigoso e cada vez mais mal frequentado. Um crânio jovem, alucinado, decidiu que o papel do Estado, além de tomar conta da saúde dos indígenas, a bem ou a mal, seria controlar os gastos mensais dos pensionistas que, como se sabe perfeitamente, são uns gastadores compulsivos, rendidos à sociedade consumista dos nossos dias, e não conseguem, sequer, poupar uns míseros cêntimos por mês. Vai daí, certo da sua ciclópica missão na terra, o tal jovem decidiu pagar duas prestações extraordinárias, referentes a Dezembro e que já estavam em atraso, ao longo do ano de 2008 e não de uma vez só. Como se trata de verbas da ordem dos 68 cêntimos por mês para pensões elevadíssimas de duas ou três centenas de euros, imagine-se a qualidade dos neurónios de tão brilhante crânio e o que passa pela cabeça deste alucinado investido das funções de secretário de Estado. A bronca foi tal perante tamanha pouca-vergonha que a solução foi andar às arrecuas.

Depois veio o Tratado de Lisboa e as promessas eleitorais de se ratificar o dito por referendo. Como toda a gente já sabia, neste sítio e por toda a Europa, essa jura de amor pelas consultas populares ficou logo no lixo a partir do momento em que os 27 Estados da União Europeia conseguiram chegar a acordo sobre o novo documento. Como toda a gente já sabia, ninguém nesta Europa cheia de amor pelo povo e pela democracia se arriscava a levar a votos o Tratado. E, de novo, com argumentos pífios, Sócrates optou por andar às arrecuas. E veio a extraordinária novela tugo-mexicana do novo aeroporto do sítio. Aqui, mais uma vez, depois de anos de juras e promessas irreversíveis, o Executivo do senhor presidente do Conselho, com o ministro Lino de corda ao pescoço, decidiu andar às arrecuas e optou por Alcochete em vez do pântano. Ota jamais, portanto.

A nova forma de fazer política neste sítio passou a ser andar às arrecuas. Está de acordo com o resto, não destoa, fica bem e, se calhar, os indígenas aplaudem. A economia anda às arrecuas, o poder de compra anda às arrecuas, a qualidade de vida anda às arrecuas. Já era tempo de o Governo perceber que às arrecuas é a política certa no sítio certo. Finalmente
."

António Ribeiro Ferreira

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