quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Pontos

"O Estado está a proceder ao levantamento dos “pontos críticos” do país vulneráveis a catástrofes naturais e ataques terroristas.

Espera-se que conte com os “pontos críticos” da corrupção, da burocracia e da incompetência.

Em Portugal umas horas de chuva representam uma calamidade. Não é de hoje. Nos tempos da ditadura, um dia de chuva intensa esteve na origem da morte de centenas de pessoas em Lisboa e arredores. Lembro-me que, pelas 3 da madrugada, na redacção do Rádio Clube recebemos um telex da Censura: “A partir deste momento não morreu mais ninguém”. Mas, ignorando a Censura, portugueses continuaram a morrer nesse dia porque a miséria e o atraso do salazarismo faziam de Portugal uma espécie de Bangla Desh da Europa.

O salazarismo já lá vai, há mais de 30 anos, mas quase tão mau como a ditadura é a perversão da democracia, transformada no império dos interesses, no reino da corrupção, na comarca da irresponsabilidade. Só não é igualmente mau porque ainda resta a liberdade de expressão, embora cada vez mais com menor âmbito e eficácia.

Em matéria de calamidades provocadas por uma carga de água estamos falados. Há um homem, o arquitecto Gonçalo Ribeiro Teles, que anda há décadas a pregar no deserto contra os assassinos da paisagem. Não é que ninguém o ouça mas quase todos fingem não ouvir porque o simples, claro e iniludível discurso do professor arquitecto sobre urbanismo mais ou menos selvagem e linhas de escoamento das águas se choca com os interesses das grandes construtoras e dos pequenos patos-bravos que mandam no regime.

E assim, não haverá lista completa dos “pontos críticos” se não puser os pontos nos is quanto aos factores que tendem a fazer do País um pântano
."

João Paulo Guerra

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