sábado, março 29, 2008

Ciclo

"A crise orçamental portuguesa “está ultrapassada” e os factores que a motivaram “estão resolvidos”.

A declaração do primeiro-ministro apanhou de surpresa milhões de portugueses desconfiados, fartos de sofrer, de apertar o cinto, de suportar sacrifícios. Tem sido assim desde os governos de Mário Soares, passando pelos de Sá Carneiro, Pinto Balsemão, outra vez Soares, Cavaco Silva, António Guterres, Durão Barroso, Santana Lopes e do próprio José Sócrates. Três primeiros-ministros socialistas e cinco social-democratas enredaram os portugueses nas malhas de políticas de austeridade para a maioria, por causa das heranças que receberam de governos anteriores, da conjuntura, do petróleo, da seca, das cheias, de tudo e de nada. Os portugueses foram pagando o preço, esperando ver alguma luz ao fundo do túnel da crise, mas acabaram por ver apenas mais crise e novos sacrifícios. Mas, como sempre, tem havido excepções.

A primeira excepção foi o “oásis” do ministro Braga de Macedo que, feitas as contas, não passava de uma miragem. A segunda excepção foi a solene declaração de Santana Lopes, publicada no ‘Frankfurter Allgemeine’ em 20 de Outubro de 2004: “é o momento” para corrigir a política de austeridade dos últimos anos. Mas o “momento” passou num instantinho.

O ciclo da vida política e económica tem apresentado como fases as curvas da crise e as contracurvas das “ressacas” eleitorais. Isto é: ordem para apertar o cinto, uma folga com a aproximação de eleições, cinto de novo apertado. A declaração do primeiro-ministro e a baixinha da taxa do IVA são sinais de aproximação à contracurva. As legislaturas têm um ano para enganar incautos e três para os espremer. E chamam a isto democracia
."

João Paulo Guerra

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