SER BENFIQUISTA É ISTO
"Durante o zapping, passo pelo noticiário da TVI e reparo no dr. Fernando Seara. Paro imediatamente. O dr. Seara discorre sobre o Benfica. Aumento o volume. O dr. Seara explica, porventura, que Rui Costa, porventura, "só é capitão em função do sucessivo não presença de jogadores" (cito com precisão). Comovo-me ante a ousadia formal da sentença. Acerca do futuro, porventura, o dr. Seara porventura arrisca: "Pode haver um sentido exterior que leve a um treinador português." Neste instante, forma-se-me uma lágrima, que espera que eu perceba a frase, depois desiste de esperar e enfim cai-me pelo rosto. O dr. Seara prossegue o seu discurso cravejado de "porventuras". Embevecido, eu prossigo o meu deleite.
O dr. Seara possui o exacto tipo de retórica que, não sendo tecnicamente convencional, fascina. Uma retórica, aliás, partilhada por boa parte dos envolvidos nas crises do Benfica. É por isso que, sem fazer uma pálida noção do que ali se diz e passa, acompanho as crises com extrema atenção e os períodos entre crises com angustiada saudade. A sorte é que os intervalos são breves: o Benfica, diz o povo com razão, não nos deixa ficar mal.
É tradição. De seis em seis meses, aproximadamente, há drama na Luz. A "mística" distrai-se, a equipa realiza quinze exibições pelintras de seguida, os fiéis protestam, o treinador demite-se e, num ápice, o País entra em transe. As televisões interrompem noticiários, filmes e até o professor Marcelo para "directos" com protagonistas e analistas especializados, os quais repetem lengalengas inescrutáveis com pompa idem. Os resultados, ao contrário dos do clube, são notáveis. Transformar o vazio absoluto naquela solenidade gongórica é uma arte maior, que milhões de portugueses, colados aos ecrãs, apreciam com perversa paixão. Eu sou apenas um deles.
É verdade que também há a hipótese de haver quem leve isto realmente a sério. Mas não acredito. Ou, parafraseando o dr. Seara, só acreditaria em função do sucessivo não presença de juízo."
Alberto Gonçalves
O dr. Seara possui o exacto tipo de retórica que, não sendo tecnicamente convencional, fascina. Uma retórica, aliás, partilhada por boa parte dos envolvidos nas crises do Benfica. É por isso que, sem fazer uma pálida noção do que ali se diz e passa, acompanho as crises com extrema atenção e os períodos entre crises com angustiada saudade. A sorte é que os intervalos são breves: o Benfica, diz o povo com razão, não nos deixa ficar mal.
É tradição. De seis em seis meses, aproximadamente, há drama na Luz. A "mística" distrai-se, a equipa realiza quinze exibições pelintras de seguida, os fiéis protestam, o treinador demite-se e, num ápice, o País entra em transe. As televisões interrompem noticiários, filmes e até o professor Marcelo para "directos" com protagonistas e analistas especializados, os quais repetem lengalengas inescrutáveis com pompa idem. Os resultados, ao contrário dos do clube, são notáveis. Transformar o vazio absoluto naquela solenidade gongórica é uma arte maior, que milhões de portugueses, colados aos ecrãs, apreciam com perversa paixão. Eu sou apenas um deles.
É verdade que também há a hipótese de haver quem leve isto realmente a sério. Mas não acredito. Ou, parafraseando o dr. Seara, só acreditaria em função do sucessivo não presença de juízo."
Alberto Gonçalves
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