Tempos decisivos
"O festival de directos em que se transformou a manifestação dos professores em Lisboa deve ter levado muitos a pensar que o propalado controlo da comunicação social por parte do Governo é afinal uma ficção. Apesar de estarmos num país que durante a presidência europeia viu cerca de 200 mil saírem à rua e onde o Partido Comunista Português, sozinho, conseguiu, no passado fim-de-semana, juntar mais de 45 mil na rua, o país mediático descobriu agora, extasiado, o colorido do povo na rua. A informação-espectáculo das televisões ajudou a transformar um momento importante da vida política, num marco único da contestação à governação de José Sócrates. A partir daqui, ao primeiro-ministro, que não tem margem para não continuar a apoiar a ministra da Educação, resta perceber se este é só mais um ponto na curva descendente da sua popularidade, ou se a contestação atingiu o seu zénite e, a partir daqui, com a ajuda de uns milhões da Europa e de algumas medidas populares, será possível confinar o protesto dos professores ao carácter corporativo que, na realidade, o caracteriza.
O nervosismo demonstrado pelo ministro Santos Silva em Chaves, ou a arriscada aposta numa contramanifestação a realizar no Porto, são sinais de que algum temor profundo percorre as hostes socialistas. E, no entanto, a calma deveria ser a melhor conselheira. Primeiro, porque ainda há muitos que acreditam que as medidas de Maria de Lurdes Rodrigues, apesar dos problemas de percurso, são genericamente boas. Depois, porque a alternativa social-democrata vai demorar ainda a compor-se. Luís Filipe Menezes pode ter blindado o partido com alterações estatutárias, garantindo que, de facto, só sairá da liderança "à bomba". Mas esta decisão vai reforçar o seu isolamento e em nada ajudará a atrair as elites do PSD, que se têm negado a ajudar a construir políticas alternativas às do Governo. Com horror ao vazio, só restará aos eleitores a renovação do mandato de José Sócrates. A não ser, claro, que alguém suficientemente credível aparecesse agora a tentar conquistar a liderança do PSD. Com Menezes em baixo, com Sócrates em baixo, quem sabe o que poderia acontecer? "
David Pontes
O nervosismo demonstrado pelo ministro Santos Silva em Chaves, ou a arriscada aposta numa contramanifestação a realizar no Porto, são sinais de que algum temor profundo percorre as hostes socialistas. E, no entanto, a calma deveria ser a melhor conselheira. Primeiro, porque ainda há muitos que acreditam que as medidas de Maria de Lurdes Rodrigues, apesar dos problemas de percurso, são genericamente boas. Depois, porque a alternativa social-democrata vai demorar ainda a compor-se. Luís Filipe Menezes pode ter blindado o partido com alterações estatutárias, garantindo que, de facto, só sairá da liderança "à bomba". Mas esta decisão vai reforçar o seu isolamento e em nada ajudará a atrair as elites do PSD, que se têm negado a ajudar a construir políticas alternativas às do Governo. Com horror ao vazio, só restará aos eleitores a renovação do mandato de José Sócrates. A não ser, claro, que alguém suficientemente credível aparecesse agora a tentar conquistar a liderança do PSD. Com Menezes em baixo, com Sócrates em baixo, quem sabe o que poderia acontecer? "
David Pontes
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