UM PARTIDO DO OUTRO MUNDO
"Em tempos aplaudi o putativo fim do divórcio litigioso, uma das microcausas do Bloco de Esquerda (que o PS agora usurpou). Logo que o BE esclarecesse as pertinentes dúvidas de Helena Matos, que pergunta no blogue Blasfémias se a dispensa de obrigação mútua também se aplica aos contratos de trabalho, apetecia-me aplaudir de novo. Por sorte, o BE poupou- -me ao embaraço ao avançar com outra causa, ainda mais micro e já dotada do estilo atoleimado que só raramente não caracteriza a seita.
A seita deseja proibir a relação publicitária entre o álcool e o desporto. À superfície, não se percebe porquê. Um obscuríssimo deputado do BE acha "estranho que o primeiro produto que as pessoas associam à selecção [de futebol] seja uma cerveja". Mais ninguém acha. Não ligo à selecção nem à cerveja, mas tenho amigos que apreciam ambas e me asseguram ser inviável assistir a uma partida de Portugal sem a vertigem resultante do consumo de meia grade. E a dependência não discrimina equipas, modalidades ou países. Num velho episódio de Os Simpsons, um Homer subitamente forçado à abstinência descobre como o basebol é "chato". Para mim, desde que Ronaldo realizou a sua época prodigiosa em Barcelona e que Lance Armstrong se reformou, todos os desportos são chatos. Não importa se a culpa é dos desportos ou da minha contenção etílica. Engraçado é reparar na (escassa) subtileza do BE.
O bom senso aconselha a desconfiar de um partido que desfila em favor das drogas ilícitas e condena, com a discrição possível, o tabaco e o álcool. A razão essencial é a própria ilicitude. Na infantil cabecinha dos "bloquistas", o haxixe possui o estatuto "transgressor" de que os cigarros e a bebida, as "drogas" do "sistema", não beneficiam. É por isso que o tal deputado do BE desafia, com natural deleite, as "cervejeiras e outras empresas de bebidas alcoólicas".
Para ver o BE em delíquio justiceiro basta atirar-lhe com uma empresa, uma "grande empresa", das que dão emprego e lucro e calamidades assim. Uma coisa são as drogas plantadas por esfaimados, que armam ditadores e terroristas do terceiro mundo. Coisa muito diferente são as "drogas" produzidas por funcionários banais, que enriquecem os capitalistas do primeiro. E se, para esperança do BE, aquele mundo é possível, para nosso alívio este é inevitável. Eis um dilema que a rapaziada do BE nunca engolirá com desportivismo. Nem, pelos vistos, com cerveja."
Alberto Gonçalves
A seita deseja proibir a relação publicitária entre o álcool e o desporto. À superfície, não se percebe porquê. Um obscuríssimo deputado do BE acha "estranho que o primeiro produto que as pessoas associam à selecção [de futebol] seja uma cerveja". Mais ninguém acha. Não ligo à selecção nem à cerveja, mas tenho amigos que apreciam ambas e me asseguram ser inviável assistir a uma partida de Portugal sem a vertigem resultante do consumo de meia grade. E a dependência não discrimina equipas, modalidades ou países. Num velho episódio de Os Simpsons, um Homer subitamente forçado à abstinência descobre como o basebol é "chato". Para mim, desde que Ronaldo realizou a sua época prodigiosa em Barcelona e que Lance Armstrong se reformou, todos os desportos são chatos. Não importa se a culpa é dos desportos ou da minha contenção etílica. Engraçado é reparar na (escassa) subtileza do BE.
O bom senso aconselha a desconfiar de um partido que desfila em favor das drogas ilícitas e condena, com a discrição possível, o tabaco e o álcool. A razão essencial é a própria ilicitude. Na infantil cabecinha dos "bloquistas", o haxixe possui o estatuto "transgressor" de que os cigarros e a bebida, as "drogas" do "sistema", não beneficiam. É por isso que o tal deputado do BE desafia, com natural deleite, as "cervejeiras e outras empresas de bebidas alcoólicas".
Para ver o BE em delíquio justiceiro basta atirar-lhe com uma empresa, uma "grande empresa", das que dão emprego e lucro e calamidades assim. Uma coisa são as drogas plantadas por esfaimados, que armam ditadores e terroristas do terceiro mundo. Coisa muito diferente são as "drogas" produzidas por funcionários banais, que enriquecem os capitalistas do primeiro. E se, para esperança do BE, aquele mundo é possível, para nosso alívio este é inevitável. Eis um dilema que a rapaziada do BE nunca engolirá com desportivismo. Nem, pelos vistos, com cerveja."
Alberto Gonçalves
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